A certa altura desta entrevista, Marisa Orth faz um adendo: “Talvez, não fale exatamente o que você queira ouvir”. O jogo entre expectativa e realidade está posto ao longo de duas horas e meia de conversa e ressoa, de algum modo, as falas iniciais do monólogo “Bárbara”, em cartaz até dia 3, no Teatro XP, na Gávea, Zona Sul do Rio. A peça marca os 40 anos de carreira de Marisa e é inspirada no livro “A saideira”, em que a jornalista Barbara Gancia narra a cruzada contra o alcoolismo. Tão logo surge no palco, a atriz avisa não se tratar de uma comédia. Ainda assim, ela mesma completa, isso não significa que a plateia não vá rir.
A paulistana faz 60 anos em outubro e chegou a relutar, no começo da carreira, em assumir a veia cômica. Mas foi por meio dela que se tornou uma artista popular. Consagrou-se com a Magda, do humorístico “Sai de baixo”, que ficou seis anos no ar na TV Globo, e fez mais uma penca de personagens hilárias no canal. Marisa, contudo, é complexa. Formou-se em Psicologia, cantou em bandas, atuou em musicais, mergulhou em papéis dramáticos e viveu as dores e as delícias de ser alçada a símbolo sexual com uma edição icônica da revista “Playboy”, em 1997.
Um pouco de tudo isso explode em “Bárbara”, cuja atuação rendeu-lhe o Prêmio Bibi Ferreira de melhor atriz de teatro, no ano passado. Ao longo de uma hora de espetáculo, as tais risadas vêm aos montes, assim como o choro, a tensão e a melancolia. Sensações distintas costuradas com a sofisticação cênica de quem está em total segurança. “Dane-se que eu esteja com 60. Estou viva, lúcida, uma atriz boa para caramba. Depois de quatro décadas numa profissão, você fica cada vez melhor. E ainda tenho a energia física”, comemora.