Petecão não cumpre promessa feita a indígenas do Acre e vota favorável ao Marco Temporal

O texto do PL já havia sido aprovado na Câmara dos Deputados. Agora segue para votação na CCJ do Senado Federal

Em maio, durante um discurso na manifestação dos povos indígenas na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), o senador Sérgio Petição (PSD), declarou total apoio contra o PL 2903/2023, que estabelece o Marco Temporal de demarcações de Terras Indígenas no país. No Acre, quase todas dentre as 36 TIs podem perder a documentação de posse das áreas.

A Comissão Pró-Indígena do Acre divulgou um vídeo em que Petecão faz um duro discurso contra a proposta e declarou, inclusive, que iria mobilizar outros senadores a votarem também contra o Marco Temporal.

Petecão usando um arco e flecha durante visita na Aldeia Apiwtxa, em Marechal Thaumaturgo, em junho de 2022/Reprodução

“Eu penso que nós temos que fortalecer o movimento. Está junto. Já tô trabalhando o voto de alguns amigos que não conhecem a realidade do povo indígena. Porque às vezes o cara que fica lá no ar condicionado em Brasília, ele tem um discurso que quer preservar a Amazônia, aí quando vem esse PL que botaram lá na Câmara ele pega e vota à favor. Então ele não tá querendo preservar a Amazônia. Tá querendo destruir. Contem comigo”, disse na época Petecão ao defender a derrubada do PL.

Acontece que na última semana, Petecão não cumpriu a promessa feita durante o ato dos povos originários e votou à favor do texto do PL na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado, presidida pelo senador Alan Rick (UB/AC).

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Com a mobilização da Bancada Ruralista, o texto foi aprovado por 13 votos. A relatoria do PL ficou à cargo da senadora Soraya Thronicke (Podemos/MS), que deu aval integral do texto encaminhado pela Câmara dos Deputados.

O projeto segue agora para votação na CCJ. Foto: Agência Senado

Agora, o PL segue para votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e depois ao Plenário do Senado Federal.

“Maior ameaça aos povos indígenas no país”

A Comissão Pró-Indígena do Acre chamou o PL de “maior ameaça aos povos indígenas no país” e assinou, ao lado de 300 entidades, um manifesto contra o Marco Temporal.

Entenda o PL

De autoria do deputado federal Homero Pereira (PR/MT), o PL 490/07, pretende mudar a Lei Federal 6.001, de 19 de dezembro de 1973, que trata sobre as regras do Estatuto do Índio.

O texto do projeto estabelece um novo Marco Temporal, que obriga que só serão demarcadas as terras indígenas tradicionalmente ocupadas em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição.

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Atualmente, o processo de demarcação de TIs no país é feito pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Para ter o aval do órgão, os interessados precisam encaminhar um relatório de identificação e apresentar uma delimitação de terra, elaborado por uma multidisciplinar, que precisa incluir um antropólogo.

Até então, o processo não precisa comprovar a posse em data específica.

Com o Marco Temporal, a situação deve mudar.

Além das normas que deverão dificultar os processos de demarcação, o novo Marco Temporal afrouxa também o contato com etnias e povos indígenas isolados no país. A medida é considerada catastrófica por indigenistas.

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