Tortura com sexo oral: “Nunca vi isso em 47 anos de polícia”, diz delegado

Cinco guardas civis municipais de Itapecerica da Serra foram presos temporariamente sob a suspeita de obrigar um jovem a fazer sexo oral

foto colorida fechada com a imagem de uma braçadeira com o símbolo da GCM de Itapecerica da Serra

Divulgação/Prefeitura de Itapecerica da Serra

“Em quase 47 anos de Polícia Civil, nunca em minha carreira eu havia visto um absurdo como esse”, afirmou o delegado Luís Hellmeister, que investiga o caso em que seis guardas civis municipais (GCMs) obrigaram um jovem a fazer sexo oral em um amigo, durante uma abordagem, em maio deste ano.

Até o momento, cinco dos seis guardas foram presos, na terça-feira (15/8), em cumprimento a mandados de prisão temporária de 30 dias, expedidos pela Justiça. Eles estavam foragidos, da mesma forma que um sexto guarda, ainda procurado pela polícia.

“Já investiguei de tudo em abordagens abusivas, como agressões e violência. Mas nunca tinha visto um absurdo desse, de mandar um rapaz fazer sexo oral em outro, em toda a minha carreira como policial. Isso gerou um trauma incontornável no rapaz”, afirmou o delegado ao Metrópoles, na tarde desta quinta-feira (17/8).

Hellmeister acrescentou que teve convicção sobre a tortura sofrida pelos jovens após uma gravação, feita por familiares de um deles (assista abaixo), ser referendada por meio de uma perícia feita pela Instituto de Criminalística.

Segundo o vídeo, uma parente de um dos rapazes afirma: “tá mandando chupar um ao outro”, mencionando a suspeita de que os guardas estariam obrigando os jovens a fazerem sexo oral, sob ameaça. As vítimas também teriam sido agredidas.

A abordagem ocorreu no fim da tarde de 7 de maio, na Rua Benedito Pereira Rodrigues, em Itapecerica da Serra, quando os jovens empinavam motos pela via.

Metrópoles apurou que somente um dos rapazes realizou o sexo oral, sob ameaça, em um amigo. A violência foi interrompida com a chegada de familiares no local da abordagem. Desde a tortura, a vítima teria tentado se suicidar, por causa do trauma gerado pela ação dos guardas.

O caso

Enquanto os jovens eram abordados, um deles ligou para familiares, que começaram a ouvir a sessão de tortura sofrida pelas vítimas. Por isso, gravaram em vídeo o telefonema, em tempo real.

Com base nessas provas, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) ofereceu uma denúncia contra seis guardas, pedindo a prisão temporária deles, que foi expedida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).

Os guardas permaneceram foragidos até terça-feira (15/8), quando cinco deles foram detidos. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo, os cinco guardas são investigados “pelo crime de tortura”. Eles foram encaminhados à Delegacia Seccional de Taboão da Serra. O sexto GCM investigado pelo crime permanecia foragido até a publicação desta reportagem.

Defesa

Segundo o advogado Cleisson Martins, que representa dois dos guardas que estavam foragidos e foram presos, os agentes se declaram inocentes. A defesa vai pedir a revogação da prisão temporária. Sobre a gravação, eles alegam que houve uma discussão entre um dos guardas e “um menino”.

No momento da abordagem, acrescentou o defensor, um dos pilotos teria ficado nervoso e começou a chutar a própria moto, reagindo à aplicação de multa por manobra perigosa, segundo a defesa. Então, o guarda teria dito “chuta”, em vez de “chupa” — termo alegado pela acusação.

A Prefeitura de Itapecerica da Serra afirmou ao Metrópoles, em nota enviada na tarde desta quinta-feira (17/8), que a Corregedoria da GCM protocolou um pedido de acesso ao Inquérito Policial, “para tomar as medidas administrativas cabíveis, porém não recebeu a liberação”. “Permanecemos à disposição da Justiça e da polícia sempre que necessário.”

PUBLICIDADE