Quem assiste ao documentário da Xuxa na Globoplay se depara com uma história por muitas vezes narrada sob a ótica do vitimismo. Sim, mesmo sendo admiradora da Rainha dos Baixinhos, me causou forte mal-estar a linha traçada para se falar de um dos maiores ícones do Brasil.
Como mulher, o que mais me incomoda, e que a imprensa vem repercutindo em sua maioria, é a relação da loira com sua ex-empresária, Marlene Mattos. A mulher, que por anos foi associada ao sucesso da apresentadora, é agora traçada como um monstro capaz de assédios, cárcere privado, grosserias infinitas e outros atos.
Essa colunista não visa falar que Marlene é inocente, mas também não é capaz de acreditar da falta de capacidade de uma mulher adulta e que já havia passado pelo escrutínio da imprensa ao namorar Pelé, de se defender.
Como uma mulher rodeada por tantas pessoa e por tantos anos foi incapaz de dar seu grito de liberdade antes? Seria econômica e artisticamente rentável suportar Marlene? Só as duas podem responder e é aí que vem outro ponto: Xuxa já falou muito de sororidade, empatia e coisas similares, mas será que colocar Marlene para apanhar publicamente faz dessa atitude melhor do que a que Marlene teve com ela?
E ainda falando em sororidade, o que Xuxa faz com Adriane Galisteu… é correto? Adriane é a “viúva” de Ayrton Senna, queira Xuxa e a família do piloto, ou não. É evidente que esse é um “cargo” que ela e amigos querem, através de depoimentos, que seja ocupado por Xuxa, mas por escolha do próprio Ayrton, mesmo que sem saber, decidiu passar seus últimos dias com Adriane.
É leviano levantar suposições com quem ele queria estar, já que o tricampeão não está mais aqui para desmentir ou confirmar. A única certeza que temos é que quem estava a seu lado até seu último minuto nesta Terra era a apresentadora de A Fazenda.
Não aceitar a decisão de Ayrton e ainda tentar desmerecer Galisteu, falando de suposições, mostra um egocentrismo de Xuxa que não condiz com uma pessoa que sempre mostrou e falou de amor ao próximo.
Xuxa foi — e ainda é — ídolo de uma geração que hoje está na faixa dos 40 anos. A atual geração de baixinhos sabe muito por cima quem foi a apresentadora infantil, mas ela faz de tudo para se manter presente, mesmo depois de não ter conseguido fazer a transição para público adulto, ter seus contratos na Globo e na Record não renovados, para então voltar à mídia com um documentário que mostra uma amargura não resolvida, fantasiada de vitimismo.
Apesar de amar os baixinhos e querer lidar com eles de igual para igual, Xuxa precisa crescer e entender que esses traumas se resolvem na terapia e não na TV, lucrando às custas de humilhar a viúva de seu grande amor e atirar aos leões uma pessoa que esteve com ela por 19 anos.
Se, por durante quase duas décadas, Maria da Graça Meneghel não teve controle sob sua vida, agora que é uma mulher independente e dona de si. Exatamente por isso, deveria seguir em frente e deixar o passado, que não poderá mudar, para trás e construir um novo futuro, mas não sendo como seu algoz que ela tanto critica.