Após perder a casa, Guta Stresser fala sobre dificuldade e recomeço na carreira

Atriz abriu o jogo sobre os desafios impostos pelo diagnóstico de esclerose múltipla

Conhecida por ter interpretado Bebel, personagem da série A Grande Família (2001 – 2014), da TV Globo, Guta Stresser passou por momentos de altos e baixos nos últimos meses. Aos 51 anos, depois de uma crise financeira que a levou a perder a casa, a artista voltará neste mês aos palcos de Curitiba, sua terra natal, com a peça Os Analfabetos, de Adriano Petermann.

“Comecei a fazer ballet no Teatro Guaíra quando tinha 11 anos de idade. Hoje, enquanto ensaiava a nossa peça lá, fui lembrando de toda a minha trajetória. Funcionários que me viram desde criança andando por lá continuam no local. É muito bonito. Estou vivendo um momento rico e fico feliz de ser na minha cidade, onde cresci fazendo teatro”, conta a artista em conversa com Marie Claire.

Guta Stresser — Foto: Reprodução/Instagram

Apesar de estar realizada com a oportunidade de voltar aos poucos, a atriz desabafa sobre as dificuldades de atuar no universo artístico. Atualmente hospedada em um quarto oferecido pelo Sindicato dos(as) professores(as) e funcionários(as) de escola do Paraná (APP), ela abre o coração sobre as adversidades de se manter e trabalhar na área.

“A gente levanta, vai ensaiar, sorri, tira foto, posa ao lado das pessoas, dá entrevistas, mas ninguém olha para como a vida de artista é difícil. É aquele ditado clichê, quem vê close, não vê corre. Eu mesma me maquiei: não tem maquiador, não tem equipe. Também não consegui um hotel para me hospedar durante o tempo que estou aqui. Fui muito bem acolhida pelo APP, mas é importante refletir sobre como nós artistas viramos uma persona non grata”, pontua.

Recentemente, Guta foi às redes sociais e revelou que perdeu o seu imóvel no Itanhangá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, além viver uma crise financeira. Com a sua saída da Rede Globo e sem contrato, a artista conta que não conseguiu arcar com o financiamento da propriedade. De volta à Curitiba, ela reflete: “Estar aqui me estabiliza em meio a tantas coisas que tenho enfrentado. Perdi a minha casa, pois fiquei sem trabalho”, começa.

“Não podia arcar com a minha responsabilidade de ter assinado um contrato para comprar um imóvel. De repente, me vi em uma situação inadimplente e com uma qualidade de vida ruim. Nunca desejei isso”, desabafa ela.

“Voltar para Curitiba não é como se estivesse retrocedendo, não pra mim. Pelo contrário, sinto que estou me rejuvenescendo e me encontrando de novo. É um retorno a um lugar que foi maravilhoso pra mim, em existência mesmo. Claro que sinto falta do Rio de Janeiro, morei 28 anos lá, a cidade sempre vai estar no meu coração. Mas amo o momento que estou vivendo agora”, complementa.

A atriz conta que mantém uma relação de gratidão com a TV Globo pelos anos em que foi contratada pela emissora e que não descarta a possibilidade de participar de outras obras. “Sou muito grata. Foram 16 anos de carteira assinada lá, uma coisa muito rara na vida de um artista brasileiro. São pouquíssimos entre a nossa categoria que têm o privilégio de ter uma carteira assinada durante tanto tempo. Tive uma ótima relação com a emissora”, complementa.

Diagnosticada há quatro anos com esclerose múltipla, Guta divide experiências e impressões da doença em suas redes sociais. A artista conta que enfrenta não só os desafios provocados pela condição, mas principalmente pelo preconceito.

“Para mim, que sou atriz, não foi fácil receber o diagnóstico. Trabalho com meu corpo, é a minha ferramenta. Fiquei apavorada, porque a gente já pensa em uma doença que pode vir a ser incapacitante, mas não necessariamente é assim. Hoje, tanto tempo depois, vejo que estou ótima”, confessa ela, que pontua que isso não muda o fato dela também lidar com momentos difíceis por causa da doença, principalmente pela falta de compreensão das pessoas.

“Qualquer pessoa quer passar uma imagem saudável, que está bem, que é funcional. Só que é muito cruel quando você tem uma doença com sintomas silenciosos. Vejo que, na verdade, tem coisas que sempre foram difíceis para mim, mas mascarava”, conta a artista, que sente dificuldades de lidar com o preconceito em torno da doença, em especial no mercado de trabalho.

“O que é difícil é o fato das pessoas não acreditarem na minha capacidade de trabalhar e não darem oportunidades porque acham que posso ‘dar defeito’. Continuo trabalhando, minha capacidade de trabalhar não está comprometida. E nem preciso de muito. Às vezes, é só me dar um saquinho de gelo na mão para dar uma refrescada e fica tudo certo”, acrescenta ela, que fala da importância do Sistema Único de Saúde (SUS) durante o seu tratamento. “O SUS é uma grande referência para o mundo inteiro e é como consigo fazer um tratamento de ponta atualmente”, revela.

Guta também abre o jogo sobre a sua relação com a maternidade. A artista afirma que fez algumas inseminações artificiais para engravidar e sofreu com as frustrações que teve ao longo do processo, sobretudo pelo alto custo. “Fiz vários tratamentos, mas não consegui. Hoje em dia, acredito que não era para eu me tornar mãe. Fui mãe na ficção, tenho sobrinhos que amo. Fiquei muito tempo sonhando com a maternidade, tentando com muita resiliência. Fiz de tudo, gastei muito dinheiro com tratamentos e não tive condições para tentar mais vezes”, conta.

“É tão dolorido quando você faz uma fertilização in vitro e não funciona. Já estava me sentindo grávida, então foi psicologicamente arrebatador. Agora, não quero mais. Sou agraciada na ficção com bons filhos e filhas.”

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A atriz também se separou recentemente do músico André Paixão, após 15 anos de relacionamento. Sincera, Guta revela que a relação dos dois é boa. “Ele vai ser meu companheiro para o resto da vida. As próximas mulheres sempre terão uma Guta na vida delas, porque somos muito amigos, sócios. As pessoas que aparecerem na minha vida, também vão saber que levarei o André comigo”, diz, aos risos. “Sempre seremos companheiros, de um jeito ou de outro. Existe muito amor, respeito e companheirismo”, finaliza.

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