Novas imagens revelaram que o ator Victor Meyniel levou 42 socos em 37 segundos. Meyniel foi espancando pelo estudante de medicina Yuri de Moura Alexandre, no último dia 2 de setembro, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. A violência aconteceu no prédio onde Yuri mora e foi registrada pelas câmeras do circuito interno do edifício.
Reportagem do Fantástico, da TV Globo, teve acesso também a imagens inéditas de uma boate, localizada em frente ao edifício onde o estudante mora. Os vídeos foram usados para reconstituir a sequência que terminou com a agressão a Victor Meyniel.
Mudança de comportamento
Na entrevista à repórter Renata Capucci, Vitor contou que conheceu Yuri na boate. Segundo ele, eles tiveram um “papo legal” e o ator aceitou o convite do estudante para que fossem beber um vinho na casa dele.
Prints do celular da médica Karina de Assis Carvalho, que divide o apartamento com Yuri há dois meses e não estava em casa, mostram que às 5h12 da manhã Yuri tenta fazer uma chamada de vídeo para a amiga, mas ela não atende. Ele, então, envia uma foto com Victor, liga novamente, sem sucesso, e escreve que abriu um vinho da médica, mas que iria recompensá-la pois estava com um famoso em casa.
Ela demonstra preocupação com as garrafas abertas e Yuri a tranquiliza, diz que vai repor e escreve que Victor tem um milhão de seguidores, completando: “Vamos fazer amizade”.
“Ela chegou por volta das 7h30 mais ou menos do plantão e ficou um clima completamente desconfortável. Ele ficou frio, completamente frio, distante. Eles começaram a se desentender entre eles, pois a porta estava destrancada e ele tinha aberto um vinho dela. Então, eu comecei a me sentir nervoso, acuado e comecei a quebrar o gelo porque eu sou assim, eu tenho essa personalidade”, disse Victor Meyniel.
À polícia, Karina afirmou que Victor teve um comportamento debochado, que foi deselegante e a chamou de esquisita e chata. A médica disse também que Victor teria entrado diversas vezes sem bater na porta do quarto dela e, em uma delas, trazendo um prato de comida. Ele também teria vista a médica nua após o banho.
Imagens do elevador mostram que Yuri sai do apartamento e vai para academia, retornando em pouco mais de três minutos. Nesse intervalo, Karina havia mandado várias mensagens reclamando de Victor e pedindo para o amigo voltar. O ator nega que tenha visto Karina nua e conta que as agressões começaram assim que Yuri retornou para a casa.
“Bati na porta, ofereci um prato de comida a ela, conversei com ela. Perguntei do signo dela, brincando. Quando ele subiu, ele já numa agressividade, nossa, bizarra! Me colocou para fora do apartamento. Me expulsou, e me empurrou, eu caí, eu caí no corredor e eu comecei a ficar tentando entender na minha cabeça o porquê daquela situação, daquele ato agressivo.
Segundo Victor Meyniel, não houve conversa de que ele estava sendo inconveniente.
“Tanto é que quando ele me empurra do apartamento, em vez de só pedir gentilmente, civilizadamente, ele me empurra, eu bato na porta, desesperado, por causa do meu sapato, começo a chorar e aí ele taca o sapato em mim. Ele está com o sapato e eu escuto ela de fundo, falar assim: calma, não é pra tanto, não precisa desse ato, não é pra tanto”, relatou o ator ao Fantástico.
Violência contra Victor Meyniel
No total, a agressão teve a duração de 37 segundos. Conforme os registros, toda a violência foi vista pelo porteiro Gilmar José Agostini, que olha para frente, bebe café e não interfere na situação. Cerca de dois minutos após o fim da agressão, ele puxa Victor por um dos braços e o retira do caminho.
Em depoimento, o porteiro contou que trabalha no prédio há mais de 20 anos e, que Victor chegou a desmaiar. Segundo ele, que informou não gostar de se meter na vida dos outros, após a violência, Yuri foi para a academia e o trabalho interfonou para o síndico.
Segundo Victor Meyniel, o porteiro só ligou para o síndico depois que o próprio ator havia ligado para o 190. “É sobre prestar socorro, sobre ser empático, humano”.
Investigação
De acordo com o delegado que investiga o caso, João Valentim, Yuri mentiu para a polícia. Segundo o investigador, ele se apresentou como militar, como médico da Aeronáutica. Ele também teria afirmado aos policiais militares que a sua companheira de apartamento era sua mulher.
Para a Polícia Civil, o depoimento de Karina em nada muda o entendimento sobre a principal motivação do crime de lesão corporal. O delegado que investiga o caso está convencido de que as agressões só aconteceram depois de Victor Meyniel ter perguntado, na frente do porteiro, se Yuri não era assumidamente gay.
Yuri foi preso em flagrante por lesão corporal, falsidade ideológica e injúria por preconceito de natureza homofóbica. Durante a audiência de custódia, a prisão em flagrante foi convertida em prisão preventiva. Agora, o caso passa a ser analisado pelo Ministério Público. Para a defesa de Yuri, o estudante de medicina não é homofóbico.
Em comunicado à imprensa, a defesa de Yuri informou que a identidade sexual do cliente jamais foi ocultada, se referindo ao fato de Yuri já ter sido casado com uma pessoa do mesmo sexo. E que a identidade sexual de seu cliente estaria sendo apagada, com a justificativa de que ele teria praticado crime de homofobia. Obrigando seu cliente a provar que é gay.
Quanto à acusação de lesão corporal, a nota do advogado não nega a agressão, registrada por uma câmera de segurança, mas diz que “há nos autos do processo exame de corpo de delito realizado por perito oficial que prova que as lesões não geraram incapacidade, perigo de vida ou debilidade permanente”.