Neste domingo (29) foi celebrado o Dia Nacional do Livro, data que talvez não seja mais motivo de comemoração para quem atua no ramo. Com o mercado digital de venda de livros cada vez mais ganhando espaço, principalmente após a pandemia do Covid-19, as livrarias físicas têm enfrentado grandes desafios para se manter no comércio. No Acre, há apenas um estabelecimento do ramo, a tradicional livraria Paim, localizada no Centro de Rio Branco.
Há 43 anos no mercado, a Paim tem sido a única livraria em todo o Acre resistindo aos impactos da internet e do mercado digital. Com um acervo composto milhares de autores, o empreendimento é um dos maiores da região Norte. José Alves trabalha há 30 anos no ramo de venda de livros e conta que ao longo dos anos viu a movimentação na livraria cair drasticamente.
“Uma livraria desse porte, você olha e não tem ninguém, só funcionários. E a cada ano que passa está caindo mais, esses jovens de agora são mais digitais. Mas seguindo tentando sobreviver. Nosso grande concorrente chama-se internet”, revela.
O vendedor conta, ainda, que a livraria tem tentado se remodelar, investindo na venda de outros produtos, como mochilas, produtos de papelaria, copos personalizados, dentre outros, para assim completar a renda no final do mês.
“Estamos tentando agregar outros produtos para complementar, a venda de livros a cada dia que passa cai mais. Vamos continuar tentando mudar para sobreviver, se esse espaço fosse alugado, provavelmente já teríamos fechado”, disse.
O acreano Manoel Maria Paim, natural de Xapuri, é o fundador da livraria, projeto que nasceu em 1981. No entanto, sua história com os livros começa bem antes, pois ele era apaixonado por leitura e chegou a vender livros de porta em porta.
Manoel Paim revela que hoje seu negócio sobrevive pelo amor que ele tem pelos livros e demonstrou incerteza sobre o futuro de seu empreendimento. “Está difícil, a gente hoje trabalha aqui mais pelo coração do que pela razão. Se continuar no ritmo que está, sem mudanças políticas ou econômicas, a tendência é parar no tempo ou se acabar”, contou. Paim destacou, ainda, a importância de políticas públicas por parte dos governantes que venham a fortalecer o consumo de livros físicos.
A livraria, que já chegou a empregar mais de 40 funcionários, teve seu quadro reduzido e hoje conta com 20 colaboradores. O vendedor José Alves, que por toda sua vida trabalhou na livraria, revela preocupação com relação ao seu futuro.
“Eu trabalho há 30 anos com livros, se me perguntar o que sei fazer além disso, eu vou responder: nada. Se a livraria fechar eu vou ficar desempregado, vou precisar começar do zero. O que eu sei trabalhar é com livro”, enfatizou.
Queda no consumo de livros
Segundo a 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro, Itaú Cultural e IBOPE Inteligência, com dados de 2019, o brasileiro tem uma média anual de 4,96 livros lidos por habitante, fazendo com que o país fique em 52º no ranking internacional de leitura.
Ainda de acordo com a pesquisa, em 2023 o setor livreiro sofreu queda de 5,34%, com relação a 2022. Enquanto em 2022, o setor livreiro registrou o movimento de 39,87 milhões de livros. Em 2023, o número chega a 37,74 milhões de exemplares.
José Alves cobrou ações dos governantes para incentivo a leitura e adesão ao livro físico. “Hoje não temos mais as escolas que trazem os alunos para visitar, para ler, para pegar emprestado ou até mesmo comprar nossos livros por meio de parceria. Falta incentivo nessa parte”, enfatizou.