O crime que chocou os Estados Unidos e o mundo da indústria cultural há 27 nos parece chegar, finalmente, a uma resolução. Na última sexta-feira (29/10), Duane Davis, nome de guerra do gangstar “Keefe D”, de 60 anos, foi acusado pelo assassinato do rapper, ator e compositor norte-americano Tupac Shakur – que na época tinha apenas 25 anos.
O mistério de quase três décadas gerou inúmeros documentários, além de teorias, tanto para os investigadores quanto para o público em geral. O curioso é que o assassinato só voltou a ser investigado porque Keefe D detalhou o crime em seu livro de memórias, lançado há quatro anos, e em várias entrevistas concedidas.
Entre as declarações, o suspeito alega que dirigiu o veículo usado na ocasião e entregou a seu sobrinho, Orlando “Baby Lane” Anderson, a arma do crime para que ele realizasse os disparos.
As novas informações chamaram a atenção das autoridades, mesmo com afirmações do acusado sobre nunca ter participado de fato do homicídio. Porém, em julho deste ano, a polícia de Las Vegas realizou um mandado de busca e apreensão na residência de Keefe D, em Henderson.
Segundo a promotoria do caso, os oficiais encontraram a pistola utilizada no assassinato do rapper, modelo glock, além de uma cópia do livro que ele escreveu detalhando sua vida como membro da gangue californiana “Crips”: “Compton Street Legends”.
Relembre o caso
Davis estava na companhia de seu sobrinho e dois comparsas, todos dentro de um Cadillac branco, quando se encontraram lado a lado com o carro de Tupac na noite de 7 de setembro de 1996, em Las Vegas. Houve tiroteio e o rapper foi atingido por quatro tiros e faleceu quatro dias depois, deixando um legado gigantesco na indústria.
Anos mais tarde, os envolvidos no homicídio – Orlando e os outros dois indivíduos – também foram assassinados. As autoridades policiais nunca solucionaram o caso completamente. Somente com as declarações de Davis que as investigações foram retomadas e apontaram para sua responsabilidade.
Davis tinha ligações com a gangue Crips e passou 15 anos atrás das grades com acusações relacionadas ao tráfico de drogas. Agora, ele enfrenta a possibilidade de pena de morte ou, no mínimo, prisão perpétua.
Novas revelações
Investigadores divulgaram imagens inéditas mostrando os últimos momentos de vida do astro. Nas filmagens, é possível ver Tupac e o CEO da gravadora Death Row Records, Marion “Suge” Knight, como líderes de um grupo de homens, brigando com o sobrinho de Keeffe D, que era membro de uma gangue com a qual o rapper já havia se desentendido antes.
Anderson estava no chão enquanto recebia chutes de Tupac e seus companheiros. Embora os seguranças estivessem presentes e observassem a confusão, eles optaram por não intervir. Logo após a confusão, o rapper e Knight deixaram o local antes da chegada da polícia.
As autoridades suspeitam que Anderson se reuniu posteriormente com outros membros de sua gangue, incluindo seu tio, e teriam conspirado para o assassinato do rapper na mesma noite.
Quem é Keeffe D?
Duane “Keeffe D” Davis, natural de Watts, na Califórnia, era o líder da South Side Compton Crips. Em 2019, ele publicou um livro “Compton Street Legends” que retratava suas vivências e experiências no contexto das gangues. De acordo com as autoridades policiais dos Estados Unidos, Davis ainda ocupava uma posição de liderança dentro do grupo quando supostamente planejou o ataque contra Tupac Shakur.
Em autobiografia, Davis compartilha sua história de vida, revelando que na década de 60 sua família se mudou para um bairro de classe média voltado para a comunidade negra em Compton. Ele cresceu em uma família numerosa, com 12 irmãos e aos 15 anos enfrentou a perda de sua mãe para o câncer. Além disso, dois de seus irmãos também faleceram, um deles devido ao câncer e o outro vítima de um tiroteio nas ruas da cidade, como mencionado na rede televisiva CBS.
Durante sua juventude, Davis foi introduzido no mundo do crime e ficou atraído pelo rápido retorno financeiro. Ele passou um período na prisão, de 1985 a 1989, por tráfico de drogas, e em seu livro compartilhou que esse tempo encarcerado não resultou em sua reabilitação, mas o transformou em um indivíduo ainda mais imerso na vida de gangues.
A lenda do Hip-Hop
“2Pac“, cujo nome foi inspirado no líder revolucionário inca Tupac Amaru em homenagem à sua mãe, uma ativista dos Panteras Negras, abordava em suas letras as dificuldades enfrentadas pelos afro-americanos nos Estados Unidos, como a brutalidade policial e o problema das prisões em massa.
Ele se tornou um dos artistas de Hip-Hop mais bem-sucedidos de todos os tempos, com 75 milhões de álbuns vendidos e responsável por hits memoráveis como “California Love” e “Hit ‘Em Up”. Nascido em Nova York, Tupac Shakur se mudou para a Califórnia ainda na adolescência com sua família. O artista acabou se destacando como uma das personalidades mais proeminentes da cena musical da costa oeste, passando de um dançarino secundário para se tornar um autodenominado “gangsta rapper” e uma das figuras mais influentes do cenário.
Seis meses após o seu assassinato, seu principal rival, o rapper da costa leste Christopher Wallace, mais conhecido como “The Notorious BIG”, também foi vítima de um tiroteio.
Muitos acreditam que ambos os homicídios estão ligados a uma rivalidade entre suas respectivas gravadoras, a Death Row, baseada em Los Angeles, e a Bad Boy Entertainment, de Nova York. No entanto, alguns historiadores da música argumentam que as tensões entre os dois artistas foram amplificadas por motivos de competição comercial.