‘Ebulição global’ tem feito a Amazônia – e o Acre – ferver; entenda o novo conceito

A era da ebulição global também pode ser chamada "Fervura Global", um sinal claro de estamos vivendo em um período de temperaturas elevadíssimas

No último dia 27 de junho deste ano, um novo termo para o período climático que estamos vivendo foi cunhado por António Guterres, secretário-geral da ONU: ebulição global. Um termo que vem assustando a sociedade e colocando os países, sobretudo os desenvolvidos, contra a parede – já que são esses países os principais emissores de gases do efeito estufa.

A era da ebulição global também pode ser chamada “Fervura Global”, um sinal claro de estamos vivendo em um período de temperaturas elevadíssimas. Com o aumento das temperaturas médias globais, a previsão é que os oceanos e rios também vão se aquecer, a um ponto de provocar a morte da vida aquática, elevar o nível do mar e reduzir a absorção de gases de efeito estufa.

O aumento do aquecimento global é causado principalmente pela poluição, uso de combustíveis fósseis, atividades agropecuárias e desmatamento. Apesar da gravidade da situação, especialistas acreditam que ainda temos tempo para evitar um agravamento generalizado. Para isso, é crucial promover uma colaboração eficaz entre países para proteger o planeta.

Para os acreanos, tem sido comum nas últimas semanas ver os termômetros beirando os 40ºC, e até passando disso quando observamos a sensação térmica. Um clima difícil de aturar até pra quem é acostumado com o calor.

Termômetro na Praça do Relógio, em Rio Branco. Foto: Juan Diaz/ContilNet

El Niño

Tido como o principal vilão das altas temperaturas históricas registradas neste ano em quase todo o planeta, o El Niño não é o responsável por isso sozinho.

O professor titular do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e integrante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), Paulo Artaxo, em entrevista à Fiocruz explicou que “o principal fator [das altas temperaturas] é o aquecimento global, não é o El Niño. Este é um fenômeno natural que, em conjunto com as mudanças climáticas, está intensificando os fenômenos extremos neste ano.

Foto: Juan Diaz/ContilNet

O clima do planeta está aquecendo e esse aquecimento favorece e intensifica eventos climáticos extremos, como essas ondas de calor que estamos vendo em São Paulo, as grandes inundações que estamos vivendo no Rio Grande do Sul, e assim por diante.

O próprio El Niño está sendo intensificado pelas mudanças climáticas, pois ele é alimentado essencialmente pela temperatura marinha na região do Oceano Pacífico e essa temperatura está um grau, um grau e meio mais alta do que seria o normal. Em resumo, os eventos extremos atuais para o planeta como um todo, incluindo o calor recorde no Brasil, são um efeito sinergístico entre o El Niño e o aquecimento global”.

Amazônia

E este calor extremo já começou a atingir a Amazônia. No estado vizinho, o Amazonas, das 62 cidades, 60 estão em situação de emergência em razão da forte estiagem que atinge o estado. Até o momento, mais de 600 mil pessoas foram afetadas e apenas nas cidades de Presidente Figueiredo e Apuís a situação é “normal”.

A estiagem deste ano já fez o estado registrar morte de peixes, botos e outros animais. Muitas das cidades afetadas enfrentam ainda o desabastecimento de alimentos e problemas de acesso a água potável.

No início deste mês, o Acre também registrou mortes de peixes possivelmente por causa do calor extremo. O episódio ocorreu no Rio Amônia, em Marechal Thaumaturgo e foi registrado por um pescador. Centenas de peixes mortos se amontoavam presos a galhos e troncos de árvores, os balseiros.

Peixes encontrados mortos no rio Amônia, em Marechal Thaumaturgo/Reprodução

A própria Secretaria de Meio Ambiente do Acre, em nota, disse acreditar que a causa foi o calor. “Uma equipe já foi designada para realizar a avaliação da qualidade da água no Rio Amônia, para que possamos ter dados mais precisos da situação local. O registro inicial é de que o aquecimento das águas possa ter ocasionado a mortandade dos peixes”, dizia um trecho da nota.

Queimadas

Para além do calorão, quem vive na Amazônia precisa conviver também com as queimadas. No ano passado, a fumaça produzida na região chegou até o estado de São Paulo. Sobre isso, o professor Artaxo acredita que a tendência é que as queimadas continuem com uma alta intensidade, porém ele apresenta uma visão otimista.

Resex Chico Mendes pode ocupar a segunda reserva ambiental mais ameaçada/Foto: Juan Diaz/ContilNet

“A precipitação na região da Amazônia está diminuindo rapidamente e esta queda na precipitação favorece a incidência de queimadas, que também estão associadas ao desmatamento. Precisamos reduzir o desmatamento para reduzir as emissões de queimadas. Essencialmente, a tarefa do Brasil é zerar o desmatamento da Amazônia até 2030, como foi compromissado com a comunidade internacional. Com isso, também eliminamos as queimadas na região amazônica. Isso é possível”, disse.

Soluções

Uma possível solução para que a população do planeta se adeque a essa nova era de altas temperaturas, seria reproduzir o modelo indígena de moradia e relação com o meio ambiente. No entanto, o professor alerta que devido a alta densidade populacional do planeta, não é viável reproduzir esse modelo para todo mundo.

“Não é possível e muito menos viável tentarmos reproduzir o modo de vida de populações indígenas para uma população global de oito bilhões de pessoas, a maioria já vivendo em grandes áreas urbanas do nosso planeta. Não é possível fazer isso, por razões óbvias. Então, temos que inventar e criar novas maneiras de construir cidades, que sejam mais sustentáveis do que as que existem hoje. Novas formas de construção, de consumo de energia, transporte, produção de alimentos, distribuição de água, de tudo”, concluiu.

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