As datas para a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2023 estão cada vez mais próximas e as rotinas de estudo dos candidatos estão chegando ao fim. Com provas marcadas para 5 e 12 de novembro, mais de 3,9 milhões de inscritos se preparam para buscar uma vaga no ensino superior. E, faltando pouco tempo, a atenção dos candidatos se volta para questões como o possível tema da redação, que será aplicada no primeiro dia do exame.
Faltando menos de um mês até a primeira prova, o Metrópoles analisou os temas das redações de edições anteriores (veja a lista completa no fim do texto) para ajudar os candidatos a entender as escolhas dos formuladores da prova. Com frequência, as redações do Enem abordam assuntos relacionados a desigualdades sociais e direitos de minorias.
As redação do Enem tem como tradição cobrar temas de relevância social e, nos últimos anos, não foi diferente.
Nas quatro edições anteriores, a banca pediu aos candidatos para escreverem sobre desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais; a garantia de acesso à cidadania para pessoas sem registro civil; o estigma associado às doenças mentais na sociedade; o desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do país; e a democratização do acesso ao cinema no Brasil.
Essas temáticas estão presentes no dia a dia dos brasileiros, em discussões políticas Congresso Nacional ou Supremo Tribunal Federal (STF) e ganham espaço em noticiários.
Motivo de preocupação para os inscritos e única parte discursiva do Enem, a redação tem um peso importante na pontuação final do exame. A nota consegida nesse item também é usada como critério de desempate em diversos programas de acesso a universidades.
Banca nova
Nesta edição do Enem, a banca organizadora será o Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação, Seleção e Promoção de Eventos (Cebraspe) — conhecido por preparar provas de concursos públicos. A edição de 2023 marca o retorno do Cebraspe, que ficou a cargo do exame pela última vez em 2017.
O diretor e professor de direção do Ao Cubo, Rafael Pinna, ressaltou que nos últimos anos não notou-se uma mudança drástica no perfil dos temas da redação. Para ele, isso ocorre porque o Enem tem uma identidade consolidada ao longo de mais de 20 anos de aplicação.
“A tarefa de qualquer banca que assuma o processo não é dar uma nova cara para o exame, e sim seguir esse padrão das temáticas e também dos critérios de correção dos textos”, explicou Rafael.
A prova deste ano será a primeira do terceiro governo Lula, que tem uma ideologia diferente da adotada pelo presidente anterior, Jair Bolsonaro (PL). Com isso, para o professor, “algumas pautas que dificilmente apareceriam nos últimos exames voltam a ser possíveis, como homofobia, transfobia, vacinação e problemas ambientais”.
Conforme o professor, os temas sob a gestão do Cebraspe devem dialogar com a realidade de minorias sociais — grupos que sofrem violências e exclusões.
Histórico dos temas
Veja os temas da redação dos exames feitos pela banca nos últimos anos:
- Enem 2017: “Desafios para formação educacional de surdos no Brasil” (Enem regular) e “Consequências da busca padrões de beleza idealizados” (Enem PPL e reaplicação)
- Enem 2016: “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil” (Enem regular primeira aplicação), “Caminhos para combater o racismo no Brasil” (Enem regular segunda aplicação) e “Alternativas para a diminuição do desperdício de alimentos no Brasil” (Enem PPL e reaplicação)
- Enem 2015: “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira” (Enem regular) e “O histórico desafio de se valorizar o professor” (Enem PPL e reaplicação)
- Enem 2014: “Publicidade infantil em questão no Brasil” (Enem regular), “O que o fenômeno social dos “rolezinhos” representa?” (Enem PPL e reaplicação), “Alternativas para a escassez de água no Brasil” (Terceira aplicação)
- Enem 2013: “Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil” (Enem regular) e “Cooperativismo como alternativa social” (Enem PPL e reaplicação)
A professora de redação Ludimilla Costa conta que o Cebraspe “gosta” de temáticas ligadas à tecnologia. Uma das apostas dela é tecnologia e exclusão, devido ao cenário pandêmico, onde a defasagem entre escolas públicas e privadas ficou escancarada. “Pode vir, também, relacionando democracia e fake news, às quais estão intimamente ligadas ao ambiente das redes sociais”, avaliou.
De acordo com Nathália Lopes, professora de redação do Colégio Qi, com a mudança para o Cebraspe os candidatos devem “estar bem preparados para desenvolverem argumentos firmes e convincentes”, ponto que a banca costuma dar a isso “uma atenção especial”.
“É possível sim que haja maior ou menor rigor em um tipo específico de exigência, como a produtividade do repertório sociocultural, que é avaliado na competência 2”, conta o professor Rafael.
Apostas para a redação do Enem 2023
A “grande” aposta da professora Ludimilla para a redação do Enem é a preservação da democracia no Brasil: “Tivemos no início do ano, em 8 de janeiro, a invasão dos prédio dos Três Poderes. O episódio abre espaço para muitos questionamentos sobre a ordem democrática”, avaliou ela.
A educadora também não descarta assuntos ligados aos direitos das mulheres, dos negros ou à comunidade LGBTQIA+. Ludimilla lembra que tramitam, hoje, no Congresso Federal, debates sobre a criminalização da misoginia e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
“A misoginia é um tema muito avançado para o público de ensino médio. E a segunda é polêmica demais. Não sei se a organização do Enem quer encarar essa briga”, disse a professora de redação.
Já a professora Nathália destaca três assuntos-chaves: os impactos da inteligência artificial no mercado de trabalho brasileiro, os desafios para a inclusão de pessoas do espectro autista na sociedade brasileira e a importância da representatividade das minorias na política.
Pensando em temas presentes no noticiário, o professor de redação Rafael aconselha os alunos a considerarem assuntos relacionados ao trabalho, à tecnologia, ao meio ambiente e à saúde. “Dentro disso, há várias temáticas específicas, como ‘vício em telas’, ‘exclusão e analfabetismo digital’, ‘informalidade e precarização no trabalho’, ‘poluição e mudanças climáticas’, ‘obesidade’ e ‘sedentarismo’”, listou.
Dicas para mandar bem na redação
Na prova de redação, os estudantes precisam escrever um texto dissertativo-argumentativo, onde devem defender um ponto de vista a respeito do tema proposto, apoiado em argumentos consistentes, estruturados com coerência e coesão. Com uma proposta de intervenção social para o problema apresentado no desenvolvimento da redação, obviamente, que respeite os direitos humanos.
Com tantas demandas, o nervosismo pode ser uma pedra no sapato durante a redação. Essa sensação abre margem para o candidato escrever frases desconexas, perder a linha de raciocínio do tema e cometer erros gramaticais. Por isso, o Metrópoles reuniu dicas de professores para te ajudar a conseguir se sair bem na hora da redação.
Aluna dá a dica para redação nota mil no Enem: “Fugir do senso comum”
– Escrever: dominar o português é fundamental para fazer uma boa redação e apenas na prática é possível evitar erros que podem custar caro na nota final. Escrever uma ou duas redações por semana pode ajudar no período de preparação para ter um texto organizado e claro.
– Conhecer a banca: saber os critérios de correção da banca. Não trata-se de apenas escrever uma boa redação, sem erros, e sim escrever um texto que evidencie ao corretor o cumprimento das exigências. “Em outras palavras: não basta fazer uma ‘boa’ proposta de intervenção se não souber quais são os elementos que tornam uma intervenção boa sob a ótica da competência 5”, reforça Rafael.
– Reler redações anteriores: é fundamental revisitar redações feitas durante o ano para identificar os erros mais recorrentes. Dessa forma, esses “deslizes” não vão aparecer no dia da prova. Portanto, dê atenção total aos erros para evitá-los no texto final.
– Fazer fichamentos de temas: anotar tudo sobre um assunto cotidiano, por exemplo, a inteligência artificial. Ou organizar uma retrospectiva sobre os assuntos mais importantes do ano. Quanto mais informações, melhor. Uma dica é selecionar boas leituras. Não fique preso nos debates nas redes sociais, eles são necessários, mas tendem a ser rasos. Priorize fontes mais confiáveis, como livros, revistas, artigos, jornais e aulas.
– Não sabe o tema? Mantenha a calma: mais do que adivinhar o tema, é preciso manter a calma para estruturar o texto e selecionar as ideias que vão de fato para o papel. Mas é importante não esquecer de colocar repertório sociocultural (citação, referência a um filme, livro ou música etc). “Isso é essencial para entrar na famosa faixa dos 900 pontos”, explicou Ludimilla.
Confira os temas das redações anteriores do Enem desde 2009*:
- Enem 2022: “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil” (Enem regular) e “Medidas para o enfrentamento da recorrência da insegurança alimentar no Brasil” (Enem PPL e reaplicação)
- Enem 2021: “Invisibilidade e Registro Civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil” (Enem regular) e “Reconhecimento da contribuição das mulheres nas ciências da saúde no Brasil” (Enem PPL e reaplicação)
- Enem 2020: “O Estigma Associado às Doenças Mentais na Sociedade Brasileira” (Enem impresso), “O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil” (Enem digital) e “A falta de empatia nas relações sociais no Brasil” (Enem PPL e reaplicação)
- Enem 2019: “Democratização do acesso ao cinema no Brasil” (Enem regular) e “Combate ao uso indiscriminado das tecnologias digitais de informação por crianças” (Enem PPL e reaplicação)
- Enem 2018: “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet” (Enem regular) e “Formas de organização da sociedade para o enfrentamento de problemas econômicos no Brasil” (Enem PPL e reaplicação)
- Enem 2017: “Desafios para formação educacional de surdos no Brasil” (Enem regular) e “Consequências da busca padrões de beleza idealizados” (Enem PPL e reaplicação)
- Enem 2016: “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil” (Enem regular primeira aplicação), “Caminhos para combater o racismo no Brasil” (Enem regular segunda aplicação) e “Alternativas para a diminuição do desperdício de alimentos no Brasil” (Enem PPL e reaplicação)
- Enem 2015: “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira” (Enem regular) e “O histórico desafio de se valorizar o professor” (Enem PPL e reaplicação)
- Enem 2014: “Publicidade infantil em questão no Brasil” (Enem regular), “O que o fenômeno social dos ‘rolezinhos’ representa?” (Enem PPL e reaplicação), “Alternativas para a escassez de água no Brasil” (Terceira aplicação)
- Enem 2013: “Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil” (Enem regular) e “Cooperativismo como alternativa social” (Enem PPL e reaplicação)
- Enem 2012: “O movimento imigratório para o Brasil no século XXI” (Enem regular) e “O grupo fortalece o indivíduo?” (Enem PPL e reaplicação)
- Enem 2011: “Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado” (Enem regular) e “Cultura e mudança social” (Enem PPL e reaplicação)
- Enem 2010: “O trabalho na construção da dignidade humana” (Enem regular) e “Ajuda humanitária” (Enem PPL e reaplicação)
- Enem 2009: “O indivíduo frente à ética nacional” (Enem regular)
O que levar para fazer a prova:
– Documento de identificação (RG ou outro documento oficial com foto);
– Caneta esferográfica preta em material transparente (ir com pelo menos duas);
– Garrafa de água em material transparente; e
– Lanches leves (frutas, castanhas, sanduíches, sucos etc) também embalados em material transparente.