Folha diz que ‘desastre ambiental’ enfrentado pelo Acre ‘não é natural e muito menos inesperado’

Gladson decretou no último dia 6 de setembro a existência de circunstância anormal, caracterizada como situação de emergência

Em um editorial publicado nesta sexta-feira (13) pelo jornal Folha de São Paulo, um dos maiores do país, a situação de emergência climática que o Acre e outros estados da Amazônia vivenciam – com a seca dos rios, a morte de animais aquáticos e a ameaça à vida dos povos tradicionais – virou destaque.

Foto: Alexandre Noronha/Sema

“Altas temperaturas nos oceanos combinadas com o fenômeno El Niño trazem a maior seca já vivida pela Amazônia. Circulam nas redes sociais imagens chocantes com a morte de centenas de peixes e botos e comunidades ribeirinhas e indígenas ilhadas”, diz um trecho.

O jornal aponta que o desastre que está sendo enfrentado pelo Acre, Rondônia e Amazonas, especificamente, “não é natural e muito menos inesperado”. “Estamos diante de um evento extremo causado pela emergência climática. A seca até o final de 2023 deve ter meio milhão de afetados”, destaca.

“Nossos mais sábios já avisavam sobre as consequências de continuar tratando a floresta como mercadoria. Eles já podiam sentir as mudanças do clima desde aquele tempo, hoje os povos indígenas e tradicionais continuam sendo os mais afetados. Sofremos com a morte dos animais e sentimos a dor das nossas matas”, acrescenta.

Rio Acre com uma das piores cotas dos últimos anos/Foto: Juan Diaz/ContilNet

A Folha sugere que “precisamos mudar nosso sistema de produção e consumo”: “Precisamos entender que vivemos uma emergência, mudar nosso sistema de produção e consumo, acabar com o uso dos combustíveis fósseis, demarcar as terras indígenas, proteger cada vez mais nossas florestas e rios é essencial para combater essa crise. A elaboração de medidas de prevenção e adaptação para essas catástrofes climáticas que sofreremos são necessárias para salvar vidas”.

“A seca que nos assola não deve ser tratada como um problema só nosso, da região Norte. A mídia precisa noticiar como um problema nacional, se não só vira um problema de todos quando afeta o Sul ou o Sudeste. Segundo o IPCC, até 2040 os efeitos da emergência climática aumentarão os riscos à humanidade e aos ecossistemas, alguns deles inevitáveis”, finaliza.

Situação de emergência

Devido às condições climáticas adversas enfrentadas no Acre, o governador Gladson Cameli decretou no último dia 6 de setembro a existência de circunstância anormal, caracterizada como situação de emergência. A medida foi tomada em resposta ao cenário de extrema seca e à iminente possibilidade de desastre decorrente do desabastecimento do sistema de água no estado. A influência do fenômeno El Niño prolongou o período de seca, e as previsões meteorológicas indicam que a escassez de chuvas persistirá nos próximos 90 dias.

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