O juiz Paulo Furtado de Oliveira Filho, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Justiça paulista, autorizou a abertura da recuperação judicial do grupo empresarial de Washington Cinel, dono da Gocil, uma das maiores empresas de vigilância privada do país.
A decisão blinda por 180 dias todas as empresas de Cinel de ações de execução de cobranças na Justiça. No despacho, o magistrado minimiza as acusações feitas por bancos de que o pedido de recuperação judicial é fraudulento e de que estaria sendo usado para blindar o patrimônio do empresário.
“Quanto à suposta impossibilidade de processamento do pedido por inexistência de crise por determinadas devedoras, e pelo próprio Washington, tese sustentada por alguns bancos em suas manifestações iniciais, não pode ser aceita”, afirmou Oliveira Filho.
O juiz afirma, no entanto, que “caso detectada alguma fraude, poderá ser responsabilizado civil e criminalmente o seu autor, sem prejuízo” de um eventual “afastamento dos controladorese administradores”. “Não é caso, contudo, de indeferimento da inicial”, afirma.
Segundo Oliveira Filho, a empresa demonstrou as “causas da crise de forma adequada e a necessidade da recuperação, não havendo razão para maior detalhamento, pois os credores podem examinar as demonstrações financeiras e constatar se o diagnóstico da crise pelas devedoras está correto ou não, aprovando ou rejeitado o plano de recuperação a ser apresentado”.
Como mostrou o Metrópoles, bancos contestaram de maneira dura o pedido de recuperação judicial do grupo de Cinel. O Banco do Brasil, que costuma votar contra recuperações, mas raramente parte para o ataque, afirmou que o empresário quer viver uma “vida de luxo e ostentação” às custas de seus credores.
Já o Safra afirmou à Justiça que o empresário usa o pedido de recuperação judicial como uma “pueril tentativa de blindar” seu “multimilionário” patrimônio e “fraudar seus credores”.
O Metrópoles revelou que antes de pedir recuperação judicial, empresas de Cinel contraíram créditos de R$ 510 milhões junto ao Banco do Nordeste (BNB). Uma das cédulas, no valor de R$ 325 milhões, foi firmada dois meses antes do pedido. E parte da verba, no valor de R$ 32 milhões, liberada dias antes de a empresa requerer a recuperação judicial. Uma fazenda foi dada em garantia ao banco, o que pode protegê-la da venda para pagar credores.
A coluna de Guilherme Amado revelou que, apesar de avaliado em R$ 325 milhões pelo banco, o imovel foi comprado dois anos antes por R$ 41 milhões, em um valor bem menor.
Questionado pelo Metrópoles sobre os empréstimos concedidos ao grupo de Washington Cinel às vésperas da recuperação judicial, o BNB afirmou, por meio de nota, que “todo o processo seguiu rigorosamente os trâmites legais e normativos estabelecidos”.
“Vale ressaltar que, em situações de inadimplência e até mesmo nos casos de recuperação judicial, são adotadas as medidas necessárias para assegurar o ressarcimento do banco, em conformidade com as práticas comumente adotadas”, completou.
O BNB afirmou posteriormente que “não repassou R$ 510 milhões presentes nas cédulas de crédito às quais o Metrópoles obteve acesso às vésperas do grupo de Cinel entrar em recuperação judicial”.
Segundo o banco, “todo recurso efetivamente repassado pelo BNB somou R$ 188 milhões, sendo que R$ 156 milhões foram creditados em 2022 e R$ 32 milhões, este ano.” Ainda de acordo com a instituição, “todo o processo seguiu rigorosamente os trâmites legais e normativos estabelecidos”.
Já o Grupo Handz, que controla as empresas de Cinel, afirma que as informações “não procedem”, sem detalhar quais seriam as informações consideras corretas. “O Grupo não pode se manifestar em relação a dados econômico-financeiros devido ao processo de recuperação judicial em andamento”, alegou.
A reportagem do Metrópoles foi baseada em documentos do próprio BNB que foram anexados ao processo de recuperação judicial do grupo de Washington Cinel.