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Otsuka: da fábrica de sacola no Acre ao sucesso como streamer

Por Ge

Otsuka durante ida a Los Angeles para cobertura do Valorant Champions 2023 — Foto: Gaby Kosinski

Otsuka durante ida a Los Angeles para cobertura do Valorant Champions 2023 — Foto: Gaby Kosinski

Otsuka durante ida a Los Angeles para cobertura do Valorant Champions 2023 — Foto: Gaby Kosinski

“Do Acre para o mundo”. Essa é a descrição do perfil de Leonardo Otsuka Campos, ou simplesmente Otsuka, no X (antigo Twitter). Orgulhoso da própria origem, o streamer de 23 anos que já fez de tudo um pouco na vida agora comemora o sucesso com as transmissões ao vivo de Valorant. Depois de viralizar irritando jogadores profissionais e outros criadores de conteúdo durante partidas ranqueadas do First-Person Shooter (FPS) da Riot Games, ele já até viajou a convite da empresa para cobrir o mundial da modalidade nos Estados Unidos.

CLIQUE AQUI para ver o vídeo.

Faço questão de colocar na minha descrição do Twitter “do Acre pro mundo” porque eu sinto que eu quero representar sempre meu estado
— Otsuka

Quem é Otsuka?

Leonardo Otsuka Campos, de 23 anos, é um streamer de Valorant com mais 185 mil seguidores na Twitch, a maior plataforma de transmissões ao vivo de jogos do mundo. Conhecido popularmente pelo sobrenome japonês da família, Otsuka começou a fazer lives no início da pandemia de Covid-19 em 2020.

Antes de entrar no mundo da internet, Otsuka fez, ainda com 14 anos, um curso de assistente de produção no Senai e já trabalhou em diversas áreas, como fabricador de sacola, vendedor de madeira e auxiliar do pai na cotação de preços para licitações. Pouco antes das lives trabalhava em um escritório de contabilidade e parou no meio de uma faculdade de Ciências Contábeis.

Depois de algumas lives de Call of Duty: Warzone em abril de 2020, o lançamento de Valorant pela Riot Games atraiu Otsuka, que entrou e nunca mais saiu. O streamer já foi contratado da organização de esports ODDIK, mas hoje trabalha sem filiação com o clube.

Além da Twitch, Otsuka faz sucesso com os vídeos editados em tom cômico no YouTube. Jogando quase sempre de doze (shotgun), bang e matando de faca, o streamer irrita os rivais. Na plataforma de vídeos do Google, o criador de conteúdo soma mais de 21 milhões de visualizações, sendo o quadro mais assistido o “Tiltando as lendas” (assista no topo da matéria).

Infância no Acre

Sem computador e videogame no início da infância, Otsuka conheceu o universo dos jogos através de um primo. Hudson já trabalhava com o pai e montou o próprio PC. Um dia o futuro streamer viu o primo jogando Crysis e se apaixonou. Foi então que pediu e recebeu de presente da família o primeiro PlayStation.

Otsuka conta que a cultura de jogar videogame só aumentou depois que o tio começou a realizar campeonatos semanais de Bomba Patch com a família e colegas de trabalho.

— A cultura de jogar sempre foi muito parte de mim, parte da minha infância. Joguei tudo que era possível! Black, Bomba Patch, Call of Duty, BattleField, enfim. Depois de uns anos comprei o notebook e comecei a jogar Pointblank em 2010.

Otsuka com o pai e os irmãos em Rio Branco, no Acre — Foto: Arquivo pessoal

Vida dividida

A partir da adolescência, Otsuka foi incentivado pelo pai a trabalhar e estudar. Ainda com 14 anos se formou em assistente de produção no Senai e começou a trabalhar na ACRE PLAST, uma fábrica de sacolas plásticas em Rio Branco.

Hoje streamer, Otsuka ainda passou um tempo como vendedor de madeira na loja do tio (o mesmo dos campeonatos de Bomba Patch) e auxiliou também o pai na cotação de preços para licitações. Mais velho, enquanto cursava Ciências Contábeis, estagiou em um banco e trabalhou em um escritório de contabilidade.

— Sempre estudei e trabalhei. Meu pai sempre me incentivou muito a trabalhar, então assim, nunca durei muito tempo em um emprego porque trabalhei pro meu pai, trabalhei com meu tio, trabalhei em banco, trabalhei pro meu outro tio, vendendo madeira, trabalhei, cara, com muita coisa. Mas sempre que podia estava jogando. Jogar pra mim era uma paixão — conta.

Otsuka com a mãe e a avó — Foto: Arquivo pessoal

O ato de jogar tomava tanto da rotina de Otsuka, que até a própria família incentivava que ele tirasse desse hobby um emprego.

— Minha família sempre falou, cara, você joga tanto (não no sentido onde você joga bem, até porque na época não tinha esse parâmetro dentro da família). Mas você joga tantas horas. Devia fazer dinheiro com isso. Meu primo, Hudson, falou: “faz live, cara” e emprestou o PC dele. Fiz live um dia na casa dele, gostei, mas morreu pra mim. Faz uns seis ou sete anos. Eu não tinha PC. Então essa realidade não era possível para mim.

Aquele gesto do primo Hudson plantou uma semente na mente de Otsuka, que cresceu por sete anos até florescer no isolamento da pandemia.

Otsuka nos EUA?

Convidado pela Riot a cobrir o VCT Américas 2023 e o Valorant Champions 2023 em Los Angeles, nos Estados Unidos, Otsuka quase foi parar de vez nos EUA alguns anos antes. No início de 2020, o acreano estava cansado da vida no Brasil e foi à São Paulo com a mãe e um irmão para fazer o visto norte-americano.

— A ideia era tirar o visto e ir embora porque eu não aguentava mais, sabe? Trabalhar para os outros, ganhar pouco dinheiro, não ter tempo para mim não me sentir feliz.

— Tirei o visto com a minha mãe, que é funcionária pública federal, e com meu irmão em São Paulo. Quando voltamos pro Acre estourou a pandemia e o consulado fechou as portas. Dei muita sorte, quer dizer, mais ou menos. Porque quando eu voltei pro Acre já não sentia gosto, nem cheiro de nada. Voltei com Covid-19 pro Acre, eu, meu irmão e minha mãe, então eu fui dos primeiros casos do estado. Ficamos isolados e o meu tio fazia compra pra gente e deixava do lado de fora.

Relação com o Acre

Nascido no Mato Grosso, mas levado ainda muito novo para Rio Branco, no Acre, Otsuka não esconde o apego ao estado em que cresceu. Ele se considera acreano e quer ser uma referência para os jovens conterrâneos.

— Lá de onde eu venho, são poucos que se destacam na criação de conteúdo na internet. Dos poucos que tem aí hoje em dia é a Gleice, né, que ganhou o BBB, e o Ramon “Dino”, que é um monstro. Muita gente conhece. Mas, assim, de criar conteúdo para jogos são poucos mesmo, cara.

Em março deste ano, ele e o amigo e também streamer Heitor “TCK” fizeram uma live beneficente de 9 horas para arrecadar doações para o Acre. Na época, Rio Branco passava por uma enxurrada que alagou diversos bairros e causou transtornos por toda a cidade. No total, mais de 27 mil pessoas foram afetadas.

— Eu já tinha passado por um alagamento como esse antes, mas não tinha atingido minha casa. Uma rua perto da minha ficou debaixo d’água. Nessa época, amigos meus da escola tiveram a casa submersa, tiveram que pegar um barco, sair com as coisas, tiveram que tirar tudo da casa antes que a água chegasse, porque sabiam que a água ia chegar.

— Quando soube desse caso recente, surgiu a ideia de fazer uma leve beneficente. Eu acho que não foi a primeira que eu fiz, mas foi a primeira que foi realmente grande. Eu joguei no grupo dos streamers mais próximos e na hora o TCK se dispoôs a participar. A gente arrecadou R$ 17 mil em uma live e doamos tudo para o Grupo Social “Pela Vida”.

Inspirado pelo dia das crianças, Otsuka divulgou uma rifa neste mês também em parceria com o Grupo Social “Pela Vida”. A ideia é usar o dinheiro arrecadado para fechar uma sessão de cinema pra crianças carentes no Acre no dia 12 de outubro.

 

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