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Carcereiro de Lula conta o que viu e ouviu nos 580 dias de prisão

Por Metrópoles

Rafaela Felicciano/Metrópoles

Jorge Chastalo – Chefe de custódia da PF

Rafaela Felicciano/Metrópoles

Os 580 dias em que Lula esteve preso pela Lava Jato, em Curitiba, tiveram uma testemunha privilegiada: o agente da Polícia Federal Jorge Chastalo Filho, carcereiro das celas de todos os presos da operação. Discreto, Chastalo até hoje não havia dado uma entrevista sobre o que viu e ouviu naquele período ao lado de Lula: os momentos tensos, os de tristeza, o começo do namoro do presidente com Janja, as raivas guardadas, o plano de sair da cadeia e voltar ao Planalto.

Em entrevista à coluna, de Lima, onde serve na Embaixada do Brasil, Chastalo contou em detalhes como foi a relação com Lula desde antes de sua chegada, quando precisou desenhar diferentes cenários de segurança para receber o mais famoso dos presos da Lava Jato.

Primeiro, foi necessário adequar um dormitório de policiais, no topo do prédio, às condições de “sala de Estado Maior” para receber um ex-presidente. Depois de convocar 60 policiais de outras localidades para reforçar o contingente de segurança nessa situação, Chastalo chegou a ouvir que havia exagerado. “Várias pessoas me falaram ‘para que 60 policiais aqui, se eles têm as missões dele e o Lula não vai ficar preso nem cinco dias? O STF vai soltar ele em cinco, seis dias’”, lembrou o policial. O petista ficaria quase dois anos preso.

Depois, ao longo do convívio, passou a ouvir de Lula lembranças do passado, agonias da prisão e planos para o futuro.

Segundo o policial, Lula se dizia satisfeito com seus dois primeiros governos, mas reconhecia que poderia ter defendido com mais afinco alguns projetos e previa voltar ao Planalto. “Ele falou isso mais de uma vez. Eu pensava que tudo é possível, inclusive nada, porque a situação dele não era fácil. Era terrível. Era bastante complicado acreditar que ele pudesse chegar onde chegou”, analisou.

Sobre Jair Bolsonaro, derrotado por Lula na eleição de 2022, o policial ouvia do petista que o então presidente era alguém “despreparado” para conduzir o país.

No período, Chastalo acompanhou de perto alguns dramas pessoais do petista. Além das sucessivas derrotas que os tribunais lhe impunham, Lula teve dolorosas perdas pessoais.

Em dezembro de 2018, morreu o advogado Sigmaringa Seixas, um dos melhores amigos do presidente. Um mês depois, em janeiro de 2019, morreu Genival, o Vavá, irmão do petista, a cujo funeral o petista não pôde comparecer diante de vetos da Justiça. O maior baque, lembrou Chastalo, foi em 1º de março de 2019, quando morreu Arthur, de 7 anos, neto do presidente e filho de Sandro Luís Lula da Silva, vítima de meningite bacteriana. Chastalo classificou o momento como “o mais terrível” para Lula na cadeia.

“O momento mais terrível para ele, e acredito que um dos momentos mais terríveis da vida dele, foi a perda do neto, Arthur. Isso causou um sofrimento absurdo, ele chorou, ficou muito mal durante uma semana, depois começou a se sentir mais… o tempo vai ajudando. Esse foi o pior momento”, contou o policial federal, que conheceu o menino nas duas vezes em que ele visitou o avô em Curitiba. Nos encontros, Arthur foi o centro das atenções de Lula.

O namoro com Janja

Viúvo desde fevereiro de 2017, quando morreu a ex-primeira-dama Marisa Letícia, Lula começou a namorar a atual primeira-dama do país, Janja, antes de ser preso. Ainda na carceragem da PF, o petista fazia planos de se casar com ela, com quem trocava cartas. Janja foi autorizada a visitar Lula somente alguns meses após ele ser preso.

Os cuidados da primeira-dama, diz o carcereiro, incluíam o envio de roupas e sopa a Lula. “Acredito que tenha sido fundamental, ela cuidava muito dele preso”, contou.

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