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Erasmo Carlos: cantor que morreu há um ano terá disco póstumo, de canções inéditas, lançado em 2024

Por O Globo

O cantor Erasmo Carlos — Foto: Gustavo Miranda

Há exatamente um ano, o cantor e compositor Erasmo Carlos morria, aos 81 anos, após sucessivas internações por causa de uma síndrome edemigênica. O Tremendão da Jovem Guarda, irmão camarada e maior parceiro de Roberto Carlos, além de artista dos mais populares da MPB terá o seu primeiro álbum póstumo, de canções inéditas, lançado no ano que vem pela gravadora Som Livre — e nesta sexta-feira chega ao streaming a primeira faixa desse trabalho: “Menina da felicidade”, canção de sabor axé, que virou, por obra do filho Leo Esteves e do produtor Marcus Preto, um dueto com Gaby Amarantos.

Segundo Marcus, que foi diretor artístico dos últimos álbuns de Erasmo (“Amor é isso”, de 2018, e “O futuro pertence à… Jovem Guarda”, de 2022, que ganhou o Grammy Latino de melhor álbum de rock ou de música alternativa em língua portuguesa), a história da canção tem que ser buscada lá no ano de 2017.

— Eu estava fazendo um disco para a Wanderléa e pedi uma música para o Erasmo. Na mesma leva, ele fez o “Menina” e uma para o Paulo Miklos (incluída num disco de Miklos que Marcus estava produzindo), nós nos aproximamos e eu acabei produzindo “Amor é isso” — conta. — Mas a Wanderléa cancelou o disco, porque preferiu gravar chorinhos, e tive que abrir mão do repertório que tinha sido preparado para ela. O Erasmo falou com a Wanderléa e liberou a música para qualquer cantora que quisesse gravá-la. E aí ficou uma gravação do “Menina da felicidade” com a voz guia dele (usada na versão definitiva, com a voz Gaby Amarantos gravada após a morte de Erasmo).

No disco do ano que vem, serão duas as faixas com vocais de Erasmo Carlos: “Menina da felicidade” e uma outra que Marcus e Leo preferem não revelar. As demais, todas inéditas, serão gravadas por outros artistas, entre eles Tim Bernardes (um dos últimos parceiros do cantor) e Russo Passapusso, do BaianaSystem. O dois produtores pensam em incluir de 10 a 13 faixas no trabalho. Um outro single será lançado após o carnaval e o álbum, em abril.

— O disco vai para muitos lugares, mas o Erasmo do rock será o mais presente. Essa outra faixa que ele deixou, da qual gente ainda vai gravar a participação, é um negócio que eu nunca tinha ouvido, uma coisa meio eletrônica. Até me perguntei que doideira era essa que o Erasmo estava pensando quando gravou aquilo! Ele estava mesmo de olho numa novidade, num outro caminho — adianta Marcus Preto.

Letras, bilhetes e poemas

Leo Esteves conta que esse novo álbum chegou a ser iniciado com o pai ainda vivo:

— Quando tentei convencer o Erasmo a fazer “O futuro pertence à… Jovem Guarda”, ele torceu o nariz, e eu argumentei: “é uma jovem guarda que só você pode cantar.” Ele aceitou, mas com a condição que o disco seguinte fosse com a jovem guarda de fato, com esse pessoal que está aí.

Depois da morte de Erasmo, novas composições surgiram a partir de cadernos de letras que o artista deixou, com rabiscos diversos, bilhetes para Narinha (mãe de Leo, já falecida) e poemas para Fernanda, a viúva (“Nos últimos anos, ele estava mudando a forma de escrever, ele estava se tornando um poeta fluido”, observa o filho). Um material que vai de 1973 até pouco antes da morte do cantor. A caligrafia nas letras e nos bilhetes, além alguns desenhos seus, farão parta da arte gráfica da capa e encarte do disco (que, insistem os produtores, será lançado em vinil).

Nos arquivos de Erasmo coletados por Leo, havia ainda fitas k7, posteriormente digitalizadas pelo pesquisador Marcelo Froes, com muito material inédito e raro – como a fita em que Caetano Veloso gravou, no exílio londrino, a demo de “De noite na cama”, canção gravada pelo cantor no LP “Carlos, Erasmo”, de 1971. Falas de Erasmo, retiradas dessas fitas, deverão entrar entre as faixas do disco, como vinhetas (“esse disco terá o Erasmo Esteves na sua essência”, garante o filho).

Com uma banda composta por Pupillo (bateria), Felipe Coimbra (guitarra), Fábio Sá (baixo) e alguns tecladistas convidados, o álbum póstumo de Erasmo Carlos será uma coletânea de várias fases de sua vida, nas mais diversas modalidades de parcerias.

— Tinham umas sobras do “Amor é isso”, letras que ele mandou para os compositores e, como nem todas foram musicadas, a gente mandou para outros parceiros. E a regra era só mandar para quem já era parceiro dele, não achávamos legal inventar parcerias (póstumas). Depois, o Leo foi atrás de fitas e a gente ele foi achando a gravações inacreditáveis, músicas inteiras — relata Marcus Preto. — Teve uma dessas que o Arnaldo Antunes botou a letra em cima e o Russo Passapusso gravou, uma música inacreditavelmente linda e louca. Ou seja, a gente tinha música sem letra, letra sem música e pedaços de canções, que a gente passou para os parceiros completarem.

— E mais coisas poderão sair daí — alerta Leo Esteves, que desde abril é empresário de Roberto Carlos. — Eu e o Roberto, a gente nunca teve uma relação, era sempre aquela coisa de se encontrar no camarim. Aí a gente começou a falar, ele parou de trabalhar com Dodi (Sirena, seu ex-empresário) e me convidou para trabalhar com ele. Foi o chamado da vida, nunca imaginei isso, mas estou feliz, a gente está tendo um relacionamento bacana.

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