A sinuca de bico da família
Na cena política do Acre desde 1978, quando elegeu como deputado estadual Félix Bestene, o “Felito”, a família Bestene, uma das mais tradicionais do Acre, oriunda de Xapuri, vai viver uma sinuca de bico na Capital Rio Branco nas eleições municipais de 2024. Antes de mais nada, como nem todo leitor da coluna é versado no jogo de sinuca, creio ser necessário explicar o que é e como funciona uma sinuca de bico. É uma situação em que a pessoa se encontra sem uma saída confortável. No popular, seria uma condição de pessoa imprensada, como se diz do marido que não gosta mais da esposa – ou vice-versa – mas mantém o casamento por falta de condições de separação. Ou do noivo ou namorado que engravida a parceira antes do casamento ou das tratativas.
A sinuca de bico é, portanto, o popular “imprensado”, é uma analogia ao jogo, quando o jogador tem a bola da vez protegida atrás de outras bolas de forma que fica impedido de acertá-la. Ainda por cima, o jogo está numa condição onde a bola errada pode facilmente ser encaçapada.
Uma família em seu labirinto
A situação do jogador nesse imprensado é em tudo semelhante a da família Bestene desde que o odontólogo Alysson e secretário de Governo colocou seu nome como pré-candidato do PP (Partido Progressistas) como pré-candidato a prefeito nas eleições do ano que vem. Afinal, o chefe político da família, ex-deputado José Bestene, atual presidente do Saneacre e homem de confiança do gvoernador Gladson Cameli, tem sua irmã Nabiha Bestene como secretária de Educação de Boclaom, e o filho, Samyr, é vereador da base de apoio do prefeito.
Não haveria problema algum o surgimento de mais um político de sobrenome Bestene na política local. Afinal, Alysson já disputou cargos outras vezes e até chegou a ser eleito vereador no período de 2008 a 2012, sendo inclusive candidato a vice de Boclaom nas eleições municipais de 2012. O problema da família começa quando Alysson quer ser candidato pelo PP (Partido progressista), partido da família Bestene desde a época em que a sigla atendia por Arena (Aliança Renovadora Nacional), passando por PDS e PPR, até chegar à sigla atual, no qual também é filiado o prefeito Tião Bocalom.
A lei da física
Com cada Partido legalmente só pode lançar um candidato a cargos majoritários no Executivo e como a lei da física leciona, no princípio da impenetrabilidade da matéria segundo o qual dois corpos distintos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço e ao mesmo tempo, uma vez que um corpo não pode ocupar ao mesmo tempo dois lugares distintos no espaço, um dos dois, Alysson ou Bocalom, vai ter que sobrar dentro do PP. No caso de Alysson vencer a guerra dentro do PP, como ficam os Bestenes que ocupam cargos de confiança no entorno de Bocalom? Vão segui-lo e abandonar o parente ilustre?
Duvido.
Gladson já fez sua opção no PP
Partidariamente, a situação está mais confortável para Alysson, que tem o apoio da presidente da executiva municipal do PP, a deputada federal Socorro Neri, e da maior liderança regional do PP, o governador Gladson Cameli. Aliás, Gladson, fazendo jus à condição de político que não esconde o que pensa e diz o que sente, o que deveria ser uma praxe entre a classe política, já se manifestou pedindo que seus apoiadores e a população em geral sigam Alysson nas redes sociais
Gladson Cameli justificou a preferência afirmando que Alysson é seu amigo e que vai apoiá-lo por confiar nele e também porque, como secretário de saúde, o ajudou muito no combate à pandemia do coronavírus, na luta pela preservação de vidas.
Bocalom nega apoio a Gladson duas vezes
A declaração do governador pode até ter abespinhado Bocalom e o grupo político que o cerca, mas a verdade é que Gladson Cameli não teria nenhuma obrigação de apoiar o atual prefeito porque, nas duas vezes em que disputou o governo do Acre, foi preterido por ele e seu grupo.
Em 2018, Bocalom, então filiado ao PSL de Bolsonaro, apoiou para o governo do Estado o então candidato do bolsonarismo raiz coronel Ulysses Araújo, atual deputado federal pelo União Brasil. Em 2022, na reeleição, Bocalom outra vez preteria Gladson Cameli e apoiou a candidatura ao Governo de Sérgio Petecão, marido de sua vice e que o apoiou nas eleições de 2020.
Portas abertas no PL ou União
Sobre Bocalom, nesta questão interna do PP, que joga para tirá-lo da sigla o quanto antes para que Alysson possa navegar com mais tranquilidade, abriu-se um mar de possibilidades de ele vir a ser candidato por outra sigla. É que o deputado Ulysses Araújo declinou da proposta de vir a ser candidato a prefeito de Rio Branco.
Com a desistência de Ulysses, o senador Alan Rick fica sem candidato e, ao lado de Márcio Bittar, outro senador da sigla, deve apoiar o atual prefeito, se ele se filiar ao PL ou mesmo ao União Brasil.
Bocalom recorre a Ciro Nogueira
Mas, fazendo jus à fama de turrão e brigão, Bocalom deve ficar no PP até os últimos segundos do prazo regulamentar de filiação para poder concorrer à reeleição. E, para isso, ele recorre à executiva nacional através do senador Ciro Nogueira, o todo poderoso presidente nacional da sigla.
Embora tenha passado pelo PSDB e pelo PSL, nas tratativas com Ciro Nogueira, Bocalom tem insistido que é filiado ao PP desde que foi vereador em Nova Olímpia, no interior do Paraná, no início dos anos 80, quando o Partido ainda se chamava PDS. É em nome do passado que Bocalom vai insistir em continuar na sigla.
Félix Bestene, o começo de tudo
Enquanto Tião Bocalom recorre ao passado, os Bestene miram o futuro como uma forma de manter o sobrenome na política em homenagem ao ideólogo de todos eles, o médico Félix Bestene. Eleito deputado estadual em 1098, em 1982 ele não conseguiu renovar o mandato mas, mesmo sem mandato, não deixou de exercer forte influência na política naquele início de redemocratização do país.
Lúcido, coerente e comprometido com a política limpa, Félix Bestene, se não tivesse morrido em 1984, ainda muito jovem, certamente teria sido eleito governador do Acre apesar de ter perdido a reeleição de deputado estadual em 82. Com a morte de Felito, por câncer, o bastão político da família foi passado a José Bestene, que começa a transferi-lo para a geração mais nova da família, o filho Samyr e o sobrinho Alysson.
Sob fogo cruzado
Mudando de assunto: o secretário de agronegócio do Governo estadual, deputado licenciado Luiz Tchê, continua sob fogo cruzado de muitos setores do empresariado da área no Estado. Mesmo com o secretário anunciando uma safra recorde de milho e soja, com um salto de 61,3 mil toneladas no início da década de 1990 para 178,6 mil toneladas em 2022, um recorde nos últimos 30 anos, há quem diga que isso se deve, fundamentalmente, à atividade isolada do empresariado.
Seria graças ao empreendedorismo dos empresários do setor, dizem os que fazem oposição a Tchê.
Com a palavra, o secretário Luiz Tchê.
Governo Temer vira filme
Acredite ou não, mas o governo do ex-presidente Michel Temer, aquele a quem o PT acusa de ter liderado um golpe para a derrubada da então presidente constitucional Dilma Rousseff, vai virar filme ou uma série de TV. A direção será assinada pelo cineasta Bruno Barreto. O filme (ou série) vai se chamar “963 dias”, referência ao tempo em que Temer esteve no poder, e conta com a consultoria do jornalista Elio Gaspari. O projeto vem sendo tocado com o apoio de Elcinho Mouco, marqueteiro de Temer.
Temer vai interpretar a si mesmo. Não precisa de dublê. Opositores dizem que ele bem poderia ser interpretado pelo ator que fez O Conde Drácula.
Veloso no Alto Acre
Deputado federal Eduardo Veloso (União) e assessores devem embarcar neste sábado (11) para uma viagem pelo Alto Acre, parando em todos os municípios ao longo da BR-317, de Senador Guiomard a Assis Brasil. Vai se reunir com prefeitos, vereadores e outras lideranças locais.