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Ulysses requisita informações sobre reuniões de auxiliares de Flávio Dino com mulher de líder do CV

Por ASCOM

O deputado federal Coronel Ulysses (União/AC) e mais 37 deputados federais ingressaram na Câmara nesta segunda-feira (13) com requerimento de informações ao ministro Flávio Dino [Justiça] para que a pasta explique os motivos pelos quais assessores do ministro receberam dentro do prédio do ministério uma integrante do Comando Vermelho duas vezes neste ano.

Conhecida como “dama do tráfico amazonense”, Luciane Barbosa Farias esteve em audiências com dois secretários e dois diretores da pasta de Dino num período de três meses. O nome dela não consta das agendas oficiais. O novo escândalo envolvendo auxiliares de Dino foi revelado hoje pelo jornal O Estado de S. Paulo. Em nota, o Ministério alegou que a “cidadã”, como se refere a Luciane, foi recebida por secretários do ministro Flávio Dino, mas afirma que ela integrou uma comitiva e era “impossível” o setor de inteligência detectar previamente a presença dela.

Foto: Reprodução

Em nota, a Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim), responsável pelas agendas, tentou desvincular o nome do grupo e a reunião em que a mulher de uma líder do CV, dentro do Ministério da Justiça, em Brasília. A reunião foi marcada pela ex-deputada do Psol, Janira Rocha [vice-presidente da Anacrim]. No entanto, segundo Walker Júnior [presidente da entidade], apenas presidentes da associação é que teriam autonomia para marcar reuniões desse tipo com autoridades. O registro da reunião no sistema do governo federal é no nome da Anacrim

Mas Ulysses e os demais signatários do requerimento não se convenceram com as explicações veiculadas sobre o escândalo. E vão aprofundar as investigações. No documento, os deputados querem saber quais os temas das duas reuniões realizadas pela Anacrim e a pasta de Dino com a presença de Luciene Barbosa – casada há 11 anos com Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, considerado o “criminoso número um” na lista de procurados pela polícia do Amazonas, até ser preso em dezembro passado. Ela e o marido foram condenados em segunda instância por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa. Tio Patinhas cumpre 31 anos no presídio de Tefé (AM). Luciane foi sentenciada a dez anos e recorre em liberdade.

Sobre as reuniões os deputados requisitaram as atas e os memoriais produzidos. Ainda querem saber o motivo de o nome de Luciene não constar das agendas oficiais, bem como a relação de todos os participantes das conversas com assessores de Flávio Dino. O requerimento questiona, ainda, se o Ministério da Justiça, “antes de qualquer reunião não solicita lista de presentes, incluindo possíveis acompanhantes”.

Ulysses – e os demais deputados – questionam se o ministério não faz “background check”. O termo em inglês significa a checagem da vida e ficha corrida da pessoa que vista a pasta de Dino e outros órgãos público.  “Vamos querer saber, por exemplo, se o sistema de controle do órgão está ou não interligado com algum sistema de inteligência”, diz Ulysses. Para o deputado, face a importância da pasta [Justiça e Segurança Pública], “se não tiver esse controle, há um sério risco para a segurança nacional”.

O deputado Coronel Ulysses explica, ainda, que a intenção dele e seus colegas é averiguar, a fundo, se a pasta de Dino ou mesmo auxiliares do ministro receberam outros membros de organizações criminosas. Também querem detalhes de quais as providências o ministério adotou para que casos como o envolvendo Luciene voltem a ocorrer.

Saiba que é Luciene e seu marido, líder do CV no Amazonas

No Amazonas, o marido de Luciane ficou conhecido por ostentar a “fama de indivíduo de altíssima periculosidade, com desprezo à vida alheia”. O Ministério Público relata que ele possui poder econômico advindo do tráfico de drogas e costuma ser cruel com seus devedores, “ceifando-lhes a vida sempre que os crimes em que se envolve lhes torna credor”, segundo um trecho da denúncia do procurador Mário Ypiranga Monteiro Neto, de agosto de 2018.

Os métodos violentos de Tio Patinhas marcam a crônica policial do Amazonas. Em abril de 2019, um homem foi encontrado morto em Manaus com um cartaz no rosto: “devia Tio Patinhas”. Num ataque a um motel, um homem foi morto com tiro na cabeça e outro ficou ferido, ambos vítima de execução comandada pelo traficante. Tio Patinhas também já posou para foto segurando uma metralhadora de artilharia antiaérea calibre .30, capaz de abater aeronaves e atravessar veículos blindados.

Sobre Luciane, o Ministério Público do Amazonas aponta que ela atuou como o “braço financeiro” da operação do marido. “Exercia papel fundamental também na ocultação de valores oriundos do narcotráfico, adquirindo veículos de luxo, imóveis e registrando ‘empresas laranjas’.” Graças ao trabalho, ela “conquistou confiabilidade da cúpula da Organização Criminosa ‘Comando Vermelho’”, detalha a acusação.

Clemilson e Luciane se casaram em 30 de outubro de 2012. Na época, ela abriu um salão de beleza que, segundo os investigadores, era usado para lavar dinheiro do tráfico. O casal prosperou: a declaração de Imposto de Renda de Luciane apresentava bens de R$ 30 mil em dezembro de 2015. No ano seguinte, passou para R$ 346 mil, alta de 1.053%. Segundo os investigadores, os dois também eram donos de ao menos três imóveis no Amazonas e em Pernambuco, além de seis veículos (sendo uma moto, três carros e dois caminhões).

Em maio, Luciane entrou no Ministério da Justiça como presidente da Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA). No papel, uma ONG de defesa dos direitos dos presos e que, segundo a Polícia Civil do Amazonas, atua em prol dos detentos ligados à facção. Criada no ano passado, a organização também seria financiada com dinheiro do tráfico, de acordo com investigação sigilosa à qual o Estadão teve acesso.

No dia 19 de março, Luciane esteve com Elias Vaz, secretário Nacional de Assuntos Legislativos de Flávio Dino. Pouco tempo depois, a 2 de maio, ela se encontrou com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen). (Com informações de O Estado de S. Paulo).

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