Numa entrevista antes da inauguração da primeira grande obra de seu Governo, a ponte sobre o Rio Iaco, em Sena Madureira, nesta terça-feira (19), concedida, com exclusividade, pelo governador Gladson Cameli ao ContilNet, ele falou sobre a Operação Ptolomeu, que o incomoda faz mais de três anos. O governador diz que, neste período, nunca foi intimado ou ouvido e que tem consciência tranquila e que confia na Justiça.
Gladson disse que não teme ser afastado do cargo, como já foi pedido pela Procuradoria Geral da República ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e que espera, dentro de um ano, nesta mesma época, continuar governando o Acre e se preparando para dar continuidade a sua vida política.
Disse que não tem como prioridade o retorno ao Senado, mas lembrou que espera isso com naturalidade se fizer um bom governo para continuar a merecer o apoio popular. “Mas, no dia em que perceber que o povo já não me quer, sou o primeiro a puxar o trem de pouso”, disse.
A seguir, os principais trechos da entrevista do governador:
Governador, daqui há um ano, ano que vem, onde o senhor estará e o que estará fazendo? O que o senhor espera do futuro?
Gladson Cameli – Estarei inaugurando obras e agradecendo à população por mais um ano de parcerias.
Isso significa que o senhor não se preocupa com aqueles processos da Operação Ptolomeu?
Gladson Cameli – Eu tenho minha consciência tranquila. Deito a cabeça no travesseiro e durmo tranquilo porque eu confio na Justiça. Quero que as coisas ocorram para que eu possa me defender para eu continuar minha vida pública. Quando te afirmo que eu não tenho… A lei não é interpretação? Ou se tem fatos ou não. É isso que estou esperando.
Essa operação já dura mais de três anos. O senhor nunca foi intimado? Nunca depôs?
Gladson Cameli – Nunca, nada! O que eu sei hoje que a PGR (Procuradoria Geral da República) pediu é pela imprensa. Pela imprensa eu sei que o processo foi fatiado. A informação que me deram dos autos é que haviam sido desviada uma quantia de R$ 800 milhões e agora caiu para R$ 16 ou R$ 11 milhões. Mas seja lá quanto for, eu quero poder me defender e é o que estou aguardando. Mas eu te afirmo que não tenho problemas de consciência porque eu sei como agi.
O senhor ainda tem bens bloqueados?
Gladson Cameli – Tenho, sim. Mas os bens não importam. O maior custo é o emocional. O prejuízo que isso já me trouxe, não tem valor que compense.
Diante dos problemas emocionais que o senhor mesmo admite que essa Operação lhe traz, o senhor continua tranquilo para governar? O Estado vai concluir as obras e os projetos que o senhor anunciou que iria realizar?
Gladson Cameli – Tudo o que há de expectativas e todo o volume de investimentos em todas as áreas, eu coloco aí a realização de 30% a mais de quanto as coisas positivas começarem a acontecer. Por exemplo: ampliação de ações na saúde, mais concursos públicos. Sei que, nesta área, há muita expectativa e eu não gosto de criar muita expectativa, de falar muito, porque sou daqueles que gosta de ver as coisas na conta, acontecendo, mas as expectativas são grandes porque há condições de ampliarmos a cartela de investimentos para o Acre, com a geração de empregos, principalmente na área de construção civil. Quando falo de concursos é porque a grande maioria das secretarias estaduais está preciando de pessoas para a execução das atividades. Vamos fazer muitos concursos ainda.
A verdade é que o pessoal do funcionalismo público do Acre envelheceu, não é?
Gladson Cameli – Isso. Os serviços na rede estadual de saúde, ao serem ampliados, vão precisar de novos servidores. Os provisórios tendem a se tornarem efetivos. Mas, além disso, teremos novos concursos públicos. Não é só concurso público em substituição. Eu tenho que aumentar a quantidade de servidores.
O IBGE acaba de divulgar dados em que o Acre aparece como o terceiro estado de menor índice de desemprego do país. Ao que se deve isso?
Gladson Cameli – A gente deve isso à política do agronegócio, da política de deixar as pessoas trabalharem, uma política que mexeu com a economia não só do Acre. Nós arrecadamos nesse ano de 2023 R$ 1 bilhão e 800 milhões.
Em relação ao futuro, o senhor pensa em renunciar ao mandato para ser de novo candidato ao Senado? O senhor sonha em voltar ao Senado?
Gladson Cameli – Não descarto nada. Mas o meu sonho é concluir bem esse mandato e só serei candidato de novo se eu me sentir, junto ao povo do meu Estado, em condições para isso. O meu sonho é concluir o mandato e dizer que fiz aquilo que me comprometi como governador e então poder dizer assim: missão cumprida. O meu sonho é concluir bem o segundo mandato de governador e, naturalmente, ir para o Senado. Mas voltar para o Senado não é uma prioridade da minha vida. Mas o natural da história é eu voltar para o Senado e por isso eu vou fazer tudo o que eu puder para que meu plano governamental possa dar condições políticas e credibilidade com a população para continuar. Mas eu posso falar uma coisa: no dia em que eu perceber que a população não quer, eu sou o primeiro a recolher o trem de pouso.
Mas em relação ao futuro, o senhor tem uma equação a resolver: é apontado como um político bolsonarista de carteirinha e, no entanto, tem que se relacionar com um governo, petista, que é antibolsonaro. Como resolver isso?
Gladson Cameli – Bolsonarista? Eu me definiria como um político de Direita. Eu sou de Direita. O que não sou é exagerado, extremista. Não gosto de exageros. A Esquerda, politicamente, tem suas ideologias e eu sou diferente do que alguns pensam no Governo, mas eu tenho um Estado para governar. Eu vou ficar fechando portas ou me recusado a entrar em portas que possam me ajudar?
O senhor tem encontrado com o presidente Lula. O que o senhor tem dito a ele? O que tem pedido?
Galdson Cameli – Eu tenho o agradecido por ter ajudado o nosso Estado. E aqui não estou fazendo nenhuma promoção do Governo, mas estou o agradecendo pela ajuda em relação à BR-364, às mudanças que vão nos permitir realizar uma nova licitação para a conclusão do Anel Viário de Brasiléia, pelos recursos, que vem através do senador Marcio Bittar, para o viaduto aqui da Corrente, para recursos para a habitação, para a nova Maternidade, que já estamos construindo. Ou seja, estou agradecido por tudo que envolve recursos federais, que tem a chancela do presidente, além de agradecer a ele, sempre o convido para vir ao Acre.
O senhor tem alguma frustração como governador, por ter pensado em construir algo e não ter conseguido?
Gladson Cameli – Eu estava pensando nisso outro dia, e percebi que tenho muito a agradecer. Dias difíceis todo mundo tem, mas quando penso nas vidas que salvamos naquela que foi a maior tragédia da humanidade, na época da Covid, acho que fizemos a coisa certa e salvar vidas, foi algo que me dixou feliz. No início da Covid, eu liguei para o então ministro Mandetta (da Saúde) e ele me disse: prepare os caixões, fale com as funerárias porque vai morrer muita gente. Ali eu vi que estávamos diante de uma tragédia. A gente sabe como lutou. Mas às vezes vem essa coisa de desestimular toda a equipe, como é o caso dessa Operação Ptolomeu.
Como surgiu essa Operação? Qual é de fato a origem dela?
Gladson Cameli – A origem é uma investigação, acho que em Cruzeiro do Sul, numa interceptação telefônica em que alguém diz que o governador vai ficar muito feliz se esse medicamento chegar, essas coisas. Mas, em seguida, aparece uma frase dizendo que é inaudível, coisa assim, que não deu para entender. Foi através dessa frase que começou essa situação. A PGR (Procuradoria Geral da República) fez uma denúncia por causa da Murano. Agora, você sabe porque a Murano veio para o Acre? Veio por causa da AC-40, a estrada daqui para Senador Guiomard, quando assumimos estava para fechar. Como a empresa presta serviços no Brasil todo e eu havia determinado pressa para a obra, porque estava um negócio muito crítico, eles resolveram fazer a contratação através de ata, eu sei lá, já que esta parte técnica não é comigo e eu determinei a ação imediata do Deracre. Começaram a questionar, a fazer denúncias.
O senhor não tem nenhuma relação com a Murano?
Gladson Cameli – Não conheço nem o dono nem ninguém de lá. Nós acreanos sabemos que os irmãos Cameli, Eládio, Orleir e Chiquinho tinham um grupo de empresas que, quando eu assumi o Governo, eu visitei os órgãos de controle e disse as empresas que eu era ligado diretamente porque eram empresas da minha família. Agora , querem dizer que a empresa Colorado, que era do meu tio Orleir e que é tocada pelo meu primo Linker, filho do Orleir, é do meu pai. Nenhuma empresa do meu pai tem relação com obras no Acre. Eu sou sócio do meu pai na Marmud Cameli, que é a primeira de todas, onde começou tudo, e posso dizer: as empresas das quais eu sou sócio com meu pai, das quais recebo pró-labório, que está registrado no meu Imposto de Renda, não tem nenhuma relação com o Acre.