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Com maior base da história, Gladson enfrenta oposição ‘quase’ solitária

Por Thiago Cabral, ContilNet

Se no primeiro mandato de governador, Gladson Cameli (PP) já gozava de facilidade em aprovar seus projetos na Aleac por ter uma base forte, neste segundo mandato a vida do chefe do Executivo estadual ficou ainda mais fácil. Com essa nova legistura, que se iniciou em 1º de fevereiro deste ano, Cameli conseguiu simplesmente a maior base da história do legislativo estadual.

Líder da Oposição, Edvaldo Magalhães no centro do plenário reunido com deputados da base/Foto: Juan Diaz/ContilNet

Restou na oposição à esquerda, um solitário Edvaldo Magalhães (PCdoB). Na oposição junto ao ‘camarada Edvaldo’, apenas mais dois deputados, de perfis bem distintos do comunista. Um é o deputado Emerson Jarude, do Novo. Um liberal de direita e de perfil denuncista. A outra é Michelle Melo, que apesar de fazer parte de um partido de centro-esquerda, o PDT de Brizola e Ciro Gomes, era líder do Governo Gladson na Aleac até poucas semanas atrás.

Ao ContilNet, com exclusividade, o deputado Edvaldo Magalhães concedeu uma entrevista em que expressa sua visão acerca do ano legislativo, do Governo Gladson e do Governo Lula (PT).

Sobre novatos e produtividade parlamentar

Da legislatura passada, Edvaldo perdeu três companheiros de oposição à esquerda: Jenilson Leite (PSB), ex-camarada de PCdoB e que disputou o Senado na última eleição, Daniel Zen, que não conseguiu se reeleger, e Jonas Lima, que não disputou a eleição, ambos do PT. Além disso, viu uma grande renovação na Casa, 50%. Ou seja, metade dos colegas de parlamento não retornaram nesta legislatura.

Edvaldo Magalhães, líder da Oposição na Aleac. Foto: Juan Diaz/ContilNet

“A renovação tem suas vantagens. Ânimo novo sempre ajuda na dinâmica. Também tem suas limitações, pois exige um tempo de adaptação. Mas no conjunto tivemos um ano produtivo. Foram dezenas de reuniões, audiências, espaços de escuta e produção legislativa elevada”, diz Edvaldo.

Como nem tudo são flores, o deputado apontou que a Casa vem sofrendo também o que ele classifica como abuso.

“Na contramão, o abuso legislativo: cheque em branco no tocante a reforma administrativa numa clara demonstração da maioria em cometer uma flagrante ilegalidade, autorizando o governo a criar cargos sem autorização legislativa. Essa marca negativa foi, felizmente, corrigida pela Justiça que cancelou por unanimidade essa aberração. Não fosse a vigilância da oposição minúscula, essa afronta a legalidade não teria sido corrigida pelo pleno do Tribunal de Justiça. Pra mim foi a nódoa legislativa do ano”.

Sobre oposição e o enfrentamento da maior base na história do legislativo

“O governo comete um erro ao querer ter uma base gigante, mas silenciosa. Numericamente avassaladora e politicamente tímida. Não por ausência de capacidade de posicionamento, mas pelo método adotado. Prioriza o voto em troca do espaço, não a defesa de um “projeto”, simplesmente pela inexistência de um projeto de governo”, aponta.

E qual o método para enfrentar essa base? O deputado ensina: “A saída foi usar a tática de guerrilha politica: fustigação por tópico, atingir o ponto fraco a cada momento, diversificar os temas, não concentrar num único setor e etc… Nessa dinâmica, a depender do tema e da pauta, se abre dissidências e amplia-se os apoios tópicos. A coesão da maioria se mostra volátil. Na fissura, construímos nossas vitórias. A minoria que se tentou a todo custo isolar, pautou o debate, venceu os principais embates e cresceu nesse primeiro ano da atual legislatura”.

Sobre a oposição

“A oposição cresceu. Não é, e está longe de ser numerosa, mas cresceu. Temos afinidade política, perfilamos e unificamos temas que deixam o governo fragilizado. Uma oposição tópica, política, não programática. Mas é da realidade política parida das urnas. O fato novo, foi a saída da líder e sua mudança de campo. Talvez a melhor forma de caracterizar seja: retorno para o campo de origem. Nessa realidade política, fazer uma oposição de esquerda exige dedicação, firmeza e capacidade de não se isolar. Ser construtor de pautas e movimentações que permitam produção legislativa avançada, diálogo permanente e pulso afinado com a rua”.

Sobre o governo Lula

Por fim, mas não menos importante, pedimos para o deputado fazer uma avaliação deste primeiro ano do terceiro mandato do presidente Lula (PT), sobretudo com relação ao Acre. Em um estado de maioria bolsonarista e alinhado a pautas da extrema-direita, o deputado aponta essa contradição, mas garante que Lula tem agido como um pai, mesmo sendo tratado com um padrasto.

“Lula provou sua generosidade com o Acre e sua capacidade de estender a mão para os que mais precisam do governo federal. A fase de reconstrução das conquistas sociais se depara com um Congresso Conservador e uma bancada no Acre majoritarimente hostil. Mesmo assim fez o melhor e mais importante gesto: evitou o desastre que seria o fechamento da BR-364. Garantiu os recursos e deu ordem de serviços para ações emergenciais que já são sentidas pela polução. O tráfego voltou a ser razoável. Bolsonaro abandonou a BR-364. E os que mais precisam dela, juntamente com o setor que tem seus negócios vinculado a a essa estrada, entregaram seus votos a quem quase destruiu e impediu o acesso. São as contradições do momento que vivemos”, avalia.

Edvaldo Magalhães e Michelle Melo no plenário da Casa/ Foto: Juan Diaz/ContilNet

Edvaldo acredita que com essas, e outras ações, a popularidade de Lula deve aumentar no Acre. “Lula dará um salto na sua relação com o Acre e seu desenvolvimento. O Novo PAC nos coloca mais uma vez diante de uma janela de oportunidades: investimento público na infra estrutura é base indispensável para nosso desenvolvimento. Serão mais de 26 bilhões”.

Em sua conclusão, como experiente deputado de oposição que é, não deixou escapar uma alfinetada no governador. “Infelizmente o governo e o governador não estão a altura para compreender e abraçar essa oportunidade. É incapaz de elaborar e tem profundas limitações em botar projetos em pé. Lula mais uma vez será o maior investidor na infra estrutura e nas políticas de inclusão social do Acre. Um pai que continua sendo tratado como padrasto”, finaliza.

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