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Dia de Luta Contra a Aids: acreano conta como descobriu o diagnóstico há mais de 30 anos

Por Maria Fernanda Arival, ContilNet

Há mais de 40 anos, uma doença, que assustou grande parte da população mundial, havia chegado no Brasil. De forma poderosa, ela atacava a defesa imunológica dos seres humanos. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, a Aids, causada pelo HIV, teve o primeiro caso registrado em 1987 no Acre.

O Dia Mundial de Luta Contra a Aids, celebrado nesta sexta-feira, 1º de dezembro, foi instituído pela Assembleia Mundial de Saúde, em outubro de 1987, com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU).

A data serve para reforçar a solidariedade, a tolerância, a compaixão e a compreensão com as pessoas que vivem com HIV/Aids. A escolha dessa data seguiu critérios próprios das Nações Unidas. No Brasil, a data passou a ser adotada a partir de 1988.

Vírus HIV/Foto: Reprodução

Para falar sobre a data, o ContilNet conversou com o ator e servidor público aposentado, Cleber Barros, acreano que vive com o diagnóstico há 34 anos. Em 1990, Cleber percebeu que muitos amigos próximos estavam sendo diagnosticados com a doença e resolveu fazer a testagem. “Eu ia visitar sempre meus amigos e eu fiquei ‘grilado’, então, uma prima minha que é enfermeira disse que não era para eu ficar ‘grilado’ e fazer o exame. Deu 95% reagente e 5 não, então meus irmãos se juntaram e compraram minha passagem para o Rio de Janeiro, onde fiz outro exame, que deu 100% reagente”, explicou.

Cleber contou que desde o diagnóstico, em 1990, até 1996, ele não tomou nenhuma medicação e nem fez tratamento, mas de 1998 em diante, depois de desenvolver a Aids. “Em 98 eu voltei para Rio Branco, acompanhado pelo meu primeiro médico, Tião Viana, que tinha sido eleito para o senado naquele ano. Por isso, ele me indicou ser atendido por uma grande infectologista, mas eu disse que preferia um homem, então ele me indicou o Eduardo Farias, com quem eu fiquei por 2 anos, até ele se candidatar a vereador. Então passei a ser acompanhado pela Anna Tojal, depois Judith Weirich e agora sou acompanhado pelo Thor Dantas”, explicou.

1990

O ator acreano era assessor de um deputado federal em Brasília, no Distrito Federal, e retornou para Rio Branco após o fim do mandato. Cleber retornou para Rio Branco para trabalhar na antiga fundação de cultura, já que era funcionário antigo da instituição.

“Eu fui diagnosticado em 1990 e nessa época fazia nem 10 anos que ela tinha começado no Brasil e eu peguei porque transava com diversas pessoas e sem proteção. Eu corria o risco e acabei adquirindo. Eu não tenho vergonha de falar que tenho Aids”, disse.

Após o final do mandato, Cleber voltou para Rio Branco para trabalhar na Fundação de Cultura do Governo do Acre, quando fez o primeiro exame. 

Preconceito

Com o terror e a falta de informação que a chegada da Aids no Brasil causou, muitas pessoas passaram a ter preconceito com os portadores do vírus HIV e da doença. Na época, diversas campanhas foram veiculadas para ajudar na informação e prevenção.

Cleber contou ao ContilNet que lembra de apenas dois episódios de preconceito com relação à doença, mas ele nunca teve preconceito em falar sobre ser portador do vírus. 

“Eu só lembro de duas situações, uma delas foi uma mulher que trabalhava comigo e se dizia muito minha amiga, mas fez um comentário com outra pessoa depois de eu ter usado o banheiro do trabalho. E outra vez foi no Rio de Janeiro. Na época, a prefeitura dava uma carteirinha para quem tinha uma doença infecciosa, pois tinha gratuidade na passagem de ônibus e uma vez o motorista disse que eu era muito bem de saúde e jovem, por isso a carteira deveria ser falsa, então eu falei que poderia processar a empresa e ganhar um dinheiro. Ele não falou mais nada, eu entrei, sentei e acabou”, disse.

Cleber disse que os amigos nunca tiveram nenhum tipo de preconceito ou medo de conviver com alguém soropositivo. “Meus amigos me beijam no rosto, na mão, na testa. Sem problema nenhum. Eu nunca tive ninguém que tivesse preconceito comigo”, completou.

Ator e funcionário público

Antes de iniciar a vida profissional como assessor parlamentar, Cleber já era ator desde os 13 anos, quando participou da segunda montagem de “Pluft, o fantasminha”, de Maria Clara Machado, no Rio de Janeiro.

“Maria Clara Machado tinha estreado no teatro e depois encenei a segunda apresentação. Daí ela me deu a carteirinha de ator profissional e desde os 13 anos eu não parei mais de fazer teatro. Eu fiquei no Rio de Janeiro um bom período. Quando eu tinha 18 anos eu vim para o Acre passar as férias e com 19 anos eu resolvi sair do Rio de Janeiro e vim morar no aqui”, disse.

Cleber em frente a FEM, local onde trabalhou por 37 anos/Foto: Cedida

Em Rio Branco, Cleber participou de diversos espetáculos como ator e também dirigiu diversos trabalhos. O aposentado era professor de teatro pela Fundação de Cultura Elias Mansour (Fem), sendo um dos fundadores desta segunda fundação. Anteriormente, a instituição se chamava Fundação Cultural do Acre.

Ditadura Militar

Em 1964, a Ditadura Militar teve início no Brasil e durou até 1985, sendo um regime político comandado por membros das Forças Armadas brasileiras. Neste período, Cleber já era ator e confirmou ao ContilNet que sofreu muita perseguição. 

“Eu fazia teatro de vanguarda e era muito perseguido, tinha participado no Rio de Janeiro, em 1968, da última passeata que teve contra a ditadura e todos que estavam nessa passeata foram filmados e a polícia visitava todo mundo porque eles tinham a filmagem de todos que estavam na passeata e era perseguido. Em 1970, eu decidi ser religioso, servo de Maria, fui para a Itália”, contou.

Cleber contou que voltou para Rio Branco e tempos depois decidiu seguir pelo exílio voluntário, pois a ditadura estava “em cima” dele. “A polícia tinha chegado aqui 1975 e assistia os trabalhos que eu fazia, me chamada de comunista declarado em praça pública e tudo mais. Eu pensei que ia acabar sendo preso ou morto, então fui embora. Fui outra vez para a Itália, com passagem só de ida. Depois voltei. Quem sabe se eu tivesse ficado lá, minha vida não seria outra. Mas é assim mesmo”, explicou.

Mudança de vida

O acreano lembrou também que, após o diagnóstico, ele precisou fazer algumas mudanças na rotina, como na alimentação, visto que pela profissão de ator, o exercício físico sempre esteve presente na vida dele. 

Segundo Cleber, as mudanças vieram, principalmente, no aumento do consumo de verduras e frutas, além do arroz integral e preferência por carne branca. “Vez ou outra eu como carne vermelha, sem problema nenhum, como carne de porco, e isso não me faz mal nenhum, mas eu procuro me alimentar com coisas bem saudáveis. Como muita banana e maçã. Com relação aos exercícios físicos, eu sempre fiz. Eu sou ator e o exercício está presente na minha vida desde sempre”, explicou.

Cleber recebeu o diagnóstico de HIV em 1990 e desenvolveu Aids em 1996/Foto: Cedida

O aposentado, que atualmente tem 76 anos, conta que sempre está bem de saúde, mas já perdeu muitos amigos por conta dessa doença. Cleber recebeu o diagnóstico aos 43 anos e está em tratamento desde os 49 anos, quando introduziu as medicações.

Atualmente, Cleber tem retorno na Fundação Hospitalar do Acre (Fundhacre) a cada seis meses, visto que algumas taxas importantes para o tratamento estão com bons números. O acreano contou que faz check-up e todos os exames de forma periódica. Cleber toma quatro medicamentos, sendo duas vezes no dia, e todos estão disponíveis na rede pública de saúde.

HIV e Aids

HIV é a sigla em inglês para vírus da imunodeficiência humana. O vírus é o causador da Aids, da sigla em inglês para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, que ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças.

O vírus HIV é transmitido por meio de relações sexuais (vaginal, anal ou oral) desprotegidas com pessoa soropositiva, ou seja, que já tem o vírus HIV, além do compartilhamento de objetos perfuro cortantes contaminados, como agulhas, alicates, etc.

O dia 1 de dezembro é marcado pelo Dia de Combate a Aids/Foto: Reprodução

Segundo o Ministério da Saúde, os sintomas são:

Quando ocorre a infecção pelo vírus causador da aids, o sistema imunológico começa a ser atacado. E é na primeira fase, chamada de infecção aguda, que ocorre a incubação do HIV – tempo da exposição ao vírus até o surgimento dos primeiros sinais da doença. Esse período varia de 3 a 6 semanas. O organismo leva de 8 a 12 semanas após a infecção para produzir anticorpos anti-HIV. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar. Por isso, a maioria dos casos passa despercebida. Caso haja suspeita de infecção pelo HIV, procure uma unidade de saúde e realize o teste.

Prevenção:

O meio mais simples e acessível de prevenção ao HIV é o uso de preservativos masculino e feminino em todas as relações sexuais. Os preservativos são distribuídos gratuitamente em unidades de saúde e também podem ser comprados em estabelecimentos da iniciativa privada, como farmácias e drogarias.

Ter HIV e não ter aids:

Há muitas pessoas positivas para o vírus HIV que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. Elas podem transmitir o vírus pelas relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação. Por isso é importante fazer o teste regularmente e se proteger em todas as situações.

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