Jan-Frits: holandês escolhe Rondônia para fazer arte provocadora e inquietante

Utilização de fibras naturais e pigmentos, além de cores vibrantes e a intensidade da luz amazônicas impactam na elaboração das obras

O holandês Jan-Frits Obers, 60, chama a atenção dos apreciadores de artes plásticas que têm a oportunidade de conhecer seu trabalho em Rondônia. Vivendo no município de Colorado do Oeste (sul do Estado) há apenas um ano, o artista trouxe na bagagem um olhar e um currículo que vêm de longe.

Desde adolescente, Jan desenha e pinta. Frequentou ateliês de arte em seu país de origem, aprimorando técnicas e conhecimentos acadêmicos. Mas acabou se formando em economia para contribuir com os negócios da família, sem nunca ter abandonado as tintas e os pincéis.

O holandês Jan-Frits Obers/Foto: Reprodução

Desde que chegou a Rondônia, participou de mostras individuais em Colorado e Porto Velho, além de eventos na Ecodecor e Galeria Mirage, em Vilhena. A Amazônia tem sido fonte de inspiração para vários experimentos de Jan. A criação de telas utiliza fibras naturais e pigmentos específicos encontrados em abundância nesta região. As cores vibrantes e a intensidade da luz amazônicas também impactam na elaboração das obras.

A inserção do pintor no circuito artístico da região está acontecendo de uma forma orgânica, através de indicações de pessoas que desejam maior divulgação para gerar um movimento de relevância cultural. “Como eu e a minha família somos recém-chegados, o meu objetivo é conhecer os amantes das artes e ser conhecido como alguém que cria algo que emociona e incentiva as demais pessoas a se expressarem artisticamente”, conta.

A arte de Jan é um tanto provocadora e inquietante. Nenhuma tela passa batida aos sentidos de quem descobre as expressões de cada trabalho. Ele considera como sua obra-prima a pintura que mais lhe gerou emoção pessoal, até hoje. Trata-se da pintura intitulada “Good Time”. “Retrata um velhinho em um parque de diversão curtindo bastante o brinquedo enquanto um jovem aparece sentado com celular e fone de ouvido, participando da mesma experiência, sem curtir nada”, narra.

Obra do holandês Jan-Frits Obers/Foto: Reprodução

Sobre a arte plástica que se pratica em Rondônia, Jan afirma que por estar há pouco tempo na região não consegue classificá-la. Observa, porém, que “os artistas que encontrei aqui são bastante resilientes. O ambiente de moradores aqui na região, que podem ser considerados desbravadores, é de quem não recebeu, ainda, muita leitura para expressões culturais muito sofisticadas. Em outras palavras, quem cria arte aqui é artista-raiz e ganha todo o meu respeito”.

Qual é o compromisso da arte plástica para além de estética? Jan responde que “cada período na história da humanidade tem suas expressões que, em geral, são notadas e registradas para a posteridade quando contêm elementos de transformação, mudança, contestação de paradigmas. Portanto, existe um retrato da vida em sociedade através das artes contemporâneos”.

Segundo ele, a arte pode ser exatamente o gatilho que desperta fortes emoções de forma muito profunda ao ponto que uma experiência com uma manifestação artística fica gravada na memória por muito tempo.

O trabalho de Jan é tipificado como realismo espontâneo, uma técnica que une um estilo de realismo com traços e cores que não são intencionados de serem fiéis ao objeto. O objetivo é gerar uma emoção especial pela textura, utilização da paleta de cores e materiais distintos, formando uma linguagem do artista que reflete a sua personalidade. Para os interessados em sabe mais, há muitos registros no Instagram @janfritsobers.

Contribuições

Jan-Frits Obers tem a disposição de oferecer cursos rápidos. Neste ano, ministrou oficinas no Instituto Federal em Colorado, na Galeria Miragem, na Fundação Cultural em Vilhena e no projeto Anastásis em Cerejeiras. A próxima oficina será dia 9 de dezembro no projeto social da comunidade Italiana Cicol, em Colorado.

Quem

Formado em economia na Universidade de Eindhoven, na Holanda, em 1987, Jan se especializou em desenvolvimento de sistemas de gestão integrados para o agronegócio. Veio para o Brasil jovem, aos 26 anos, vivendo em Minas Gerais, atuando em sua empresa de desenvolvimento de softwares.

Aportou em Rondônia neste ano devido ao fato de a sua esposa, Cláudia, ter sido designada para ser pastora em uma igreja em Colorado do Oeste; “acabou sendo o nosso chamado: cuidar de pessoas juntos com o nosso filho de 13 anos, o Cauan”, encerra.

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