Com o Valorant escolhido como melhor jogo de esportes eletrônicos da temporada no Esports Awards 2023, o brasileiro Leo Faria, diretor da Riot Games, discursou para agradecer o prêmio e disse que a modalidade teve um ano incrível, apesar das críticas da comunidade sobre a alteração no ecossistema competitivo, da debandada de clubes brasileiros e do sucateamento dos torneios Challengers.
É uma honra estar aqui em nome de todos nós da Riot Games. Obrigado ao comitê do Esports Awards por esta honra. Nós tivemos um ano incrível no Valorant. Nós somos muito gratos em sermos parte desta comunidade. Nós lançamos três novas ligas internacionais neste ano, nós organizamos campeonatos Challengers e Game Changers ao redor do mundo e nós organizamos eventos globais. E isso tudo, é claro, é graças a todos que são parte da nossa comunidade, muitos dos quais estão aqui nesta noite hoje — discursou Leo, com o troféu do Esports Awards em mãos.
E eu quero agradecer, é claro, aos milhares de ‘rioters’ ao redor do mundo que fazem do Valorant uma realidade, a todos os jogadores profissionais, aos times, aos casters, aos observers, à equipe de produção, aos organizadores de campeonatos, mas, acima de tudo, eu quero agradecer aos jogadores, à comunidade de Valorant, aos fãs. Tudo que nós fazemos é para vocês. Em um mundo com tantos games tão incríveis, com tantas opções de entretenimento incríveis, nós estamos muito honrados e agradecidos que vocês escolheram ser parte da comunidade de Valorant. Muito obrigado e aproveitem o evento!
No discurso de 1 minuto, o executivo não fez qualquer menção, nem mesmo indireta, às pesadas críticas que o cenário competitivo e ele próprio recebeu ao longo do ano.
Head global de esports de Valorant na Riot Games, Leo Faria, em discurso no Esports Awards 2023 pela escolha do Valorant como o jogo de esports do ano — Foto: Reprodução/YouTube
Temporada problemática e criticada
A partir de 2023, a Riot modificou o ecossistema competitivo de Valorant e adotou o modelo de franquia para três principais ligas regionais, nas Américas, na Europa e no Pacífico.
Até o ano passado, os torneios Challengers, como o Valorant Challengers Brazil (VCB), eram os mais importantes de cada região, contavam com as principais equipes locais e classificavam para os campeonatos internacionais, inclusive o Valorant Champions, o mundial da modalidade.
Entretanto, com o lançamento das franquias, com só dez clubes selecionados para participar em cada uma das três ligas, os Challengers se tornaram torneios de segunda divisão, sem acesso aos Valorant Masters e ao Valorant Champions.
Mesmo com a Riot dando vagas para a franquia para os times do Challengers por meio do VCT Ascencion, os torneios regionais, disputados em paralelo às franquias, embora em dias diferentes, pouco interessaram ao público, com baixíssimos índices de audiência.
Além disso, as mudanças anunciadas para a temporada 2024 continuaram desagradando. Entre as novidades estão a realização de três edições anuais, a operação terceirizada pela internet e a participação de mais equipes do que antes.
Como consequência, cinco, dos oito clubes que disputaram o VCB em 2023 saíram da modalidade. A Legacy decidiu utilizar o time inclusivo no campeonato. Só RED Canids Kalunga e TBK Lusa, de organizações, se mantiveram para o ano que vem.
Diante das novas críticas da comunidade brasileira, Leo deu diversas declarações dizendo que a Riot vê os torneios Challengers como “degrau” para o circuito principal. Ele já declarou que a empresa não busca estabilidade no Challengers, mas sim que as equipes desenvolvam talentos, e que a principal motivação para equipes estarem no campeonato secundário deve ser a possibilidade de chegar à franquia.
O problema é que a ascensão para o circuito principal é temporária, válida por duas temporadas, e só uma equipe de cada região se classifica. Times brasileiros ainda criticam o benefício que os participantes do Challengers da América do Norte acabam tendo por conta da proximidade com as equipes do VCT Américas, disputado em Los Angeles, nos Estados Unidos.
Os problemas, porém, não se restringiram ao Challengers. Também houve críticas na franquia, principalmente em relação ao calendário muito curto, porque, assim como aconteceu na divisão secundária, os campeonatos de elite terminaram cedo, com times ficando sem ter o que disputar já em julho.
Com o Valorant Champions sendo concluído em agosto, as melhores equipes já encerraram a temporada com quatro meses ainda para o término do ano.
O MIBR, que é participante do VCT Américas mas não se classificou para nenhum campeonato internacional, disputou somente 11 séries em 2023, menos até do que as piores equipes do VCB.
Sobre o calendário, Leo já declarou que a Riot não monta o cronograma do ano pensando nos times que não se classificam ao Valorant Champions, mas sim em como colocar as melhores equipes em evidência.
Leo ainda se envolveu em outra enorme polêmica envolvendo a participação da The Guard no VCT Américas, como vencedora do Ascension.
Quando anunciou que a Guard não havia assinado o contrato de participação no VCT Américas, a Riot informou que não deixaria a vaga para os jogadores, nem a repassaria para a M80, a 2ª colocada no Ascension. A decisão pegou os ex-jogadores da Guard de surpresa e provocou uma enxurrada de críticas.
Leo chegou a defender a decisão em um longo comunicado na internet. Mas, diante da péssima repercussão e das pesadas críticas, o executivo recuou e admitiu reavaliar a situação. Ele depois anunciou que os ex-atletas da Guard teriam a chance de encontrar uma nova organização. Foi a G2 Esports que conseguiu contratar a maioria do elenco para participar do VCT Américas.