Demitido da Record no fim do ano, Arnaldo Duran falou sobre sua relação com a Universal no período em que trabalhou na emissora. Em um bate-papo exclusivo com a coluna, o jornalista contou que acreditava no que a religião pregava e, por isso, fez serviços voluntários nas igrejas e ações publicitárias. Além disso, ele revelou ter doado quase R$ 1 milhão para a igreja.
“Eu dava dinheiro pra Igreja Universal porque fui enganado, acreditava no que eles falavam, achava que era sério aquele negócio lá. Então, todo mês antes de pegar um centavo do meu salário, eu fazia um TED ou DOC do dízimo. E sempre dava a mais do que os 10%. Porque eles sempre pregavam dar mais. Uma pedição de dinheiro que me envolvia e fazia acreditar. Claro que eu não tinha vontade de dar mais, só que eu obedecia. Eles falavam muito da obediência”, lembrou ele.
O jornalista calcula que doou quase R$ 1 milhão para a Universal, mas só tem recibos de metade desse valor, pois muitas vezes dava o valor em espécie: “Tenho tudo com recibo, fora o dinheiro que eu dava sem recibo. Grande parte era com recibo do banco. Doei o dinheiro porque acreditava muito no que eles falavam. Só depois que descobri que aquilo é uma grande mentira”, disse.
Uma curiosidade que o ex-funcionário da Record lembrou é que teve cheques protestados pela igreja: “Logo no começo, em 2010, dei muito cheque pré-datado para as campanhas da igreja de valores altos e, quando voltavam, por estarem sem fundo, eles reapresentavam, não perdoavam. Não adiantava pedir para segurarem um dia. Eu ia resgatar esses cheques no escritório central da igreja, em Santo Amaro, São Paulo, antes da construção do Templo de Salomão”, lembrou.
Arnaldo Duran ainda relatou que fazia trabalhos para a igreja, como apresentação de programas, gravações de vídeos e leituras de textos, mas se quisesse conferir o resultado, tinha que pagar: “Nunca recebi um centavo por isso. Se eu quisesse ver o resultado, eu tinha que fazer a assinatura da UniverVídeo porque não liberavam. Então, trabalhei de graça e ainda paguei pra ver”, desabafou.
Em seguida, Arnaldo Duran definiu o que sente hoje a respeito da igreja: “As mentiras que as pessoas pregam é pior que lixo. Eles não têm moral nenhuma pra dirigir uma igreja”, disparou.
Questionado sobre abrir um processo contra a igreja, o jornalista declarou ainda não saber como agir:
“Ainda não sei se eu vou entrar com ação contra a Igreja Universal por ter me enganado para fazer essas doações todas. Estou muito abalado ainda, não caiu a ficha. Não acredito que aconteceu uma tragédia dessa comigo. Vi que tem muita gente que recebe de volta o dinheiro que deu pra Igreja Universal. A Justiça tem determinado que o dinheiro seja devolvido. Se a pessoa for enganada, deu por engano o dinheiro, a Justiça está mandando recuperar esse dinheiro.”
Apesar de toda essa decepção com a igreja, Duran concluiu o bate-papo contando que mantém sua fé em Deus firme.
“Foi abalada a fé que eu tinha na Igreja Universal, a confiança do que diziam. Hoje, eu vi que é tudo balela, que aquele é um negócio de arrecadação de dinheiro. Tinha um negócio lá que eu participava, o tal do jejum de Daniel, que era ficar sem entretenimento durante umas semanas. Aí, fico pensando o seguinte: duvido que o Macedo tenha coragem de fazer um jejum de 45 dias sem pedição de dinheiro na Igreja Universal. Já pensou que desafio interessante? Seria outro jejum que podiam lançar na igreja”, sugeriu ele.
“Me deixar sem plano de saúde é crueldade”, desabafa Arnaldo Duran
Diagnosticado com síndrome de Machado-Joseph, uma doença degenerativa do sistema nervoso, em 2016, Arnaldo Duran se surpreendeu com sua demissão, no dia 30 de dezembro do ano passado.
O jornalista também desabafou sobre sua situação, afirmando que a emissora o “queimou” no mercado, e ainda definiu como “desumano” ter sido dispensado estando com um problema de saúde.
“No dia 30 de dezembro, antevéspera de uma passagem de ano, eu fui chamado pra uma reunião na TV Record, na direção do Domingo Espetacular. Eu achei que era alguma coisa sobre a coluna que eu fazia, a Mitos e Verdades da Alimentação. Eu estava levando um livro americano sobre alimentos usados como remédios nos tempos bíblicos e queria fazer uma série de reportagens dentro da coluna porque achei que seria um negócio excelente pra audiência. Mas não, a notícia que eles estavam me dando era a de que eu estava sendo demitido“, detalhou.
Em seguida, Arnaldo Duran relatou como se sentiu: “Eu fiquei assustadíssimo, não me lembro de ter nenhuma reação quando me disseram. A ficha não caiu e acho que não caiu até agora”, afirmou.
Ele deu mais informações sobre sua doença: “Eu tenho uma doença neurológica degenerativa que se chama Machado-Joseph, que agora é conhecida no mundo como SCA3. E eu acreditava que eu não ia perder o emprego fácil assim. Porque, apesar das dificuldades que essa doença traz, por exemplo, no equilíbrio eu já quase não consigo ficar em pé, só posso andar com o aquele andador. Mas eu falo muito bem ainda”, garantiu, antes de completar:
“Impressionantemente, milagrosamente, eu consigo falar. Acredito que consiga falar por causa da minha fé. Eu consigo falar, consigo ler textos. Inclusive eu tenho dois estúdios de áudio, tenho um aqui em São Paulo, outro em casa no Rio de Janeiro. Eu moro nas duas cidades. Eu cheguei a trabalhar na pandemia dentro de casa. Eu acho que fui o único dos velhos que conseguiu gravar a durante a pandemia, em casa. Eu montei um estúdio de vídeo também aqui em São Paulo”, recordou.
Logo depois, Arnaldo Duran voltou a falar sobre a atitude da emissora: “A minha demissão foi um ato desumano. Por quê? Além de tudo o que aconteceu, a Record espalhou que me demitiu por causa do salário alto. Já me queimou no mercado. [Os contratantes pensam] ‘eu não vou contratar o cara porque ganha, não tenho dinheiro pra pagar’. E espalhou pelo mundo inteiro também que eu tenho a doença neurológica degenerativa”, queixou-se.
Duran deu ainda mais detalhes sobre a “campanha”: “Inclusive, vários sites ligados à Igreja Universal falaram do meu sofrimento com a doença. Até o bispo Edir Macedo nas redes sociais aparece assistindo a um vídeo que eu gravei, impressionado com a minha capacidade de lutar contra a doença. Em vários sites ligados à igreja tem esse depoimento. Ele mandou passar esse depoimento nas igrejas Universal do mundo inteiro. Eu já me ouvi falando dublado em francês e dois sotaques espanhóis”, pontuou.
Para o especialista, o comportamento vai contra os preceitos da religião: “Acho que foi de uma maldade muito grande, uma desumanidade que vai totalmente contra o que a igreja prega. A igreja prega uma coisa e faz outra. Quando eu falo a igreja, a responsabilidade é dos grandes da igreja, os bispos que têm as empresas”.
Ainda durante a conversa, o jornalista lamentou ficar sem cobertura médica neste momento delicado: “Outra coisa, muito ruim. Eu vou ficar sem plano de saúde. O dono da Life Empresarial é o bispo Macedo. Então, ele mandou embora, um funcionário doente, é dono do plano de saúde, não vai pagar o plano de saúde desse funcionário. Me deixar sem plano de saúde é de uma crueldade muito grande, é muito ruim. Me sinto mal de falar sobre isso”, emocionou-se.
Questionado sobre um novo trabalho, Duran contou que não tem se sentido com ânimo para produzir: “Eu tô numa tristeza tão grande, tão doída, que não deu tempo ainda, não consegui desenvolver nenhum projeto. Deixa essa ferida ir se curando pra eu voltar às atividades. Empregado eu sei que nunca mais vou ser, sei que ninguém vai me dar emprego”, lamentou.
E seguiu: “Uma coisa que me deixa muito triste é que eu trabalho há mais de 50 anos, comecei em 1970 no rádio, e queria fazer 60 anos de profissão antes de parar. Mas não vai dar”.
Arnaldo Duran ainda deu mais detalhes sobre seu problema de saúde: “Eu tenho muita dor, não tem remédio específico contra a doença de Machado-Joseph, mas eu tomo muitos remédios pras dores, tenho muita câimbra e sofro muito com com essas dores, especialmente no frio. Por isso que fico entre Rio e São Paulo”, esclareceu.
No fim da entrevista, o jornalista voltou a desabafar sobre sua atual situação: “Estou perdido, mas vou encontrar um caminho, com certeza”.