Busca por atendimento psicológico é baixa entre PMs do Acre: “Muita resistência”, diz associação

Tema ainda é tabu dentro da corporação

No último domingo (14), uma tragédia que ocasionou em duas mortes de policiais militares no Distrito Federal acendeu um alerta sobre saúde mental nas corporações Brasil a dentro. Três PMs estavam dentro de uma viatura fazendo patrulhamento de rotina quando o segundo-sargento Paulo Pereira de Souza baleou e matou o soldado Yago Monteiro Fidelis e depois a própria vida.

O terceiro militar envolvido na tragédia foi o segundo-sargento Diogo Carneiro dos Santos, que conseguiu escapar antes de ser atingido. Segundo uma reportagem do portal Metrópoles, policiais que conheciam o autor dos disparos afirmaram que ele estava passando por problemas psicológicos.

Pelo menos 56 militares foram promovidos nesta segunda-feira. Foto: Joabes Guedes/PMAC

No DF, ainda segundo a reportagem do portal, há apenas um médico psiquiatra para uma tropa com 10.000 integrantes.  Para saber como está a situação do cuidado com a saúde mental dos policiais no Acre, a reportagem do ContilNet entrevistou Kalyl Moraes de Aquino, 1º sargento da Polícia Militar do Acre (PMAC) e atual presidente da Associação dos Militares do Acre (AME/AC).

Veja a seguir:

ContilNet: Como está a situação dos cuidados com a saúde mental dos policiais militares aqui no Acre? Existe médico psiquiatra para atender a corporação? É suficiente?

Kalyl Moraes de Aquino: Essa questão do atendimento clínico, psiquiátrico, hoje nós temos a Policlínica, que é uma unidade da Polícia Militar que atende aos militares nessas questões de saúde, e dentro do quadro dela nós temos, além de alguns profissionais da instituição que são psiquiatras, a gente também tem os conveniados, os psiquiatras conveniados. Mas o número de profissionais para atender essa demanda ainda é insuficiente.

ContilNet: Há procura por esses serviços?

KMA: Ainda há uma certa resistência do militar em aceitar o atendimento, isso é uma realidade de todo o país, infelizmente, que no meio da tropa há essa resistência, esse preconceito, quanto ao atendimento psicológico. As unidades, elas não fazem devido encaminhamento, porque nós entendemos que um militar, quando ele se envolve em qualquer situação, seja do serviço ou fora dele, que afete a boa performance dele no serviço, ele já deveria ser submetido a uma análise clínica para ver as condições de trabalho. Por exemplo, a gente tem militares que se envolvem em ocorrências, onde inclusive há registro de óbito por parte do meliante, por parte do agente infrator, e o ideal seria pegar toda a equipe de serviço, fazer um afastamento e o encaminhamento por um período de pelo menos 7 a 15 dias, para poder realmente submeter a análise, porque nem todos os militares têm a mesma forma de responder psicologicamente a essas ocorrências. Uns mais do que outros. E até para que o militar tenha condições de retornar para casa dele, mas retornar bem psicologicamente, assim como pro serviço, então seria bom que houvesse essa análise. Hoje o encaminhamento é muito raso, geralmente o militar que se envolve numa ocorrência assim, ele, no próximo serviço, já está escalado novamente, e vida que segue. E é algo que está sendo discutido ainda hoje e a gente defende que seja adotado uma nova forma de abordagem, para que seja garantida a saúde mental do profissional como também da família.

ContilNet: Como o Governo tem tratado essas questões de saúde mental?

KMA: A Sejusp hoje, ela tem um conselho estadual, que é formado por entidades do próprio Estado, entidades do governo, do Ministério Público, OAB, pelas Forças de Segurança, Corpo de Bombeiro, Polícia Civil, Polícia Militar, e também de algumas entidades como a própria Associação dos Militares também, ela é participante desse conselho. E dentro desse conselho, que ele trabalha toda a estrutura de segurança, um dos eixos que está sendo, inclusive, muito focado tanto pelo governo federal como pelo governo estadual, a Sejusp, é justamente trabalhar no combate a essas questões de saúde mental. No sentido de fomentar o atendimento clínico, fomentar que o militar tenha uma higiene mental mais tranquila, que ele tenha o acompanhamento devido, que ele tenha uma condição de exercer o seu trabalho diante de todas as dificuldades, mas pelo menos com um pouco mais de sanidade física e mental, para poder desempenhar de forma satisfatória o serviço policial, seja militar, civil, penal. Mas trazendo para dentro da nossa instituição, o que se tem é essa valorização do policial, que passa também pelo acompanhamento psicológico, que trata de estabelecer ações que visem atender dentro desse campo, aquilo que for melhor para o profissional da Segurança Pública.

ContilNet: E sobre as demais condições de trabalho, como estrutural e funcional, como estão?

KMA: Eu não posso deixar de falar, até porque é um reconhecimento que nós aqui na associação temos, que o governo tem tentado, tem nos dado muitas condições de trabalho, estruturalmente, como a questão de reforma de quartéis, aquisição de novas viaturas, fardamento, armamento, isso tudo tem, tá sendo feito, mas, como eu sempre falo, não adianta só investir na estrutura, tem que cuidar do ser humano, do profissional. Algumas coisas ainda tem um pouco de resistência, tem um pouco de dificuldade de tratar, por exemplo, da saúde mental. Nós tivemos três turmas de soldado que entraram agora, e estamos tendo uma valoração na carreira, com cursos de formação e de aperfeiçoamento. Temos um curso de sargento em andamento, temos um curso de habilitação de oficiais administrativos em andamento. Mesmo assim a nossa instituição ainda tem um déficit de pessoal, a gente trabalha com uma escala corrida, de 12h por 24h, 12h por 48h, de 6 horas, de 8 horas, 7 dias por semana, 4 semanas do mês, 12 meses por ano, a gente não para. E aí entra a questão do reconhecimento em forma de valoração financeira. Hoje é o nosso grande gargalo dentro da instituição, são as carreiras, nós estamos brigando por uma redução de interstício para que a gente possa ter as promoções corrigidas, vamos dizer assim. E também estamos na torcida para que o Estado saia do limite prudencial e a gente tenha condições de sentar com a equipe de governo e tratar do nossa realinhamento salarial, que traz a questão de remodelar a nossa remuneração, mas essa é uma discussão que todas as outras categorias também estão tentando ter junto ao governo, mas que estão impedidas hoje em razão da lei de responsabilidade fiscal, que controla os gastos dos gestores e também do limite prudencial. É essencial, e é algo que o Estado já vem tentando inclusive se organizar para sair dessa condição e poder fazer essa implementação, dessa política de valorização salarial.

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