“Terra e Paixão” começou com uma tarefa inglória: alavancar a audiência deixada pela desastrosa “Travessia”. Com o fracasso da novela de Glória Perez, coube ao fazedor de sucesso da casa, Walcyr Carrasco, responsável por tramas celebradas em todos os horários, de “Chocolate com Pimenta”, das 18h, até “Verdades Secretas”, das 23h, passando por “A Dona do Pedaço” e “O Outro Lado do Paraíso”, das 21h, o trabalho de recuperação da faixa das 21h.
A missão foi concluída com certo sucesso. A segunda metade da trama foi ganhando público, muito com o auxílio da co-autora, Thelma Guedes, e de grandes medalhões da trama como Tony Ramos, Glória Pires e Eliane Giardini.
Nas redes sociais e em outros programas da casa quem também teve destaque, quase alçando posto de protagonistas, foi o casal formado por Diego Martins (Kelvin) e Amaury Lorenzo (Ramiro).
O romance do casal apelidado de “Kelmiro” movimentou o público, que torceu meses pelo beijo entre o garçom e o capanga, e rendeu momentos igualmente divertidos e emocionantes.
Essa visibilidade LGBTQIA+ não se estendeu ao casal de mulheres da trama. Pouco a pouco, Menah (Camilla Damião) e Mara (Renata Gaspar) foram sendo jogadas de escanteio e coube a Renata ir a público cobrar os autores por um final digno para as personagens.
“Amores, Mara e Menah não terão mais trama na novela. Acho que quando tudo acabar falaremos mais do que passamos. Mas é isso, viramos as tias, que ficam de fundo na festa e ninguém pergunta sobre sua história pois não querem saber. ‘É aquela tia que vive com a amiga dela'” publicou ela em X, antigo Twitter.
O resultado da reclamação foi um beijo de consolação em tempos onde a emissora tem eliminado cena de afetos entre pessoas do mesmo sexo.
Quem também passou quase batido foi Valéria Barcellos, artista brilhante e de carisma inegável que merecia muito mais para sua simpática Luana.
Negros e indígenas
Mesmo com a escalação da trama colocando uma família branca como representante do agronegócio predador e uma protagonista negra como uma das vítimas da ganância, a pauta racial acabou sendo ignorada.
“Vai na Fé”, última trama das 19h mostrou, com muito sucesso de público e crítica, que é possível falar sobre o tema de forma efetiva, pedagógica e interessante e em outra linguagens, como a literatura, o tema tem se mostrado atrativo ao público, vide o sucesso do romance “Torto Arado” de Itamar Vieira Jr.
A mocinha, inclusive, foi quem mais sofreu, e não por ser mocinha como é esperado da maioria das tramas, mas pela falta de rumo de sua personagem. Faltou à equipe de “Terra e Paixão” sensibilidade para apresentar uma mulher negra e mãe solo no Brasil de 2023, que conta com 1,7 milhões de mães solos com 90% delas sendo negras, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Com nomes importantes como Daniel Munduruku e Suyane Moreira, o núcleo indigena também afundou na trama, aparecendo muitas vezes de um lugar místico e de apoio ao protagonista Caio, interpretado por Cauã Reymond.
Agora, o público das novelas das nove esperam para ver se “Renascer”, próxima trama a ser exibida que se passa no interior da Bahia e conta com um elenco diverso, vai apresentar essa diversidade em sua trama.