Na última semana foi publicado o artigo que revelou uma descoberta inédita na área da parasitologia do Brasil. A pesquisa, chamada de ‘Dactylogyridae (Platyhelminthes, Monogenea), descobriu cinco novas espécies parasitos em peixes no país. As amostras foram colhidas em espécies no Maranhão e no Acre.
RELEMBRE: Pesquisa descobre a existência de parasitos jamais vistos em peixes do rio Acre
O estudo foi realizado pela Universidade Estadual do Maranhão (Uema), em parceria com o Laboratório de Helmintos Parasitos de Peixes do Instituto Oswaldo Cruz e Fiocruz. No Acre, a pesquisa teve a participação da professora do Instituto Federal do Acre (Ifac), Williane Maria de Oliveira Martins, que tem Doutorado em Ciências e experiência na área. A pesquisa com esse tipo de peixe já dura pelo menos 3 anos.
Em entrevista exclusiva ao ContilNet, a doutora lembra que os parasitos foram encontrados em peixes no Rio Juruá, interior do Acre.
“O estudo representa uma descoberta significativa na área de parasitologia. É uma pesquisa que descreve espécies de parasitos ainda não conhecidos a partir de coletas no Acre e Maranhão. Foi possível constatar que são poucos os trabalhos que desenvolvem a temática sobre a parasitologia no Acre. Por esta razão decidimos investigar a biodiversidade parasitária que acomete os peixes de importância comercial no Acre e Maranhão”, explicou.
As cinco novas espécies de Cosmetocleithrum eram desconhecidas pela comunidade científica e foram descritas considerando aspectos morfológicos não encontrados em nenhuma outra espécie do gênero Cosmetocleithrum, fato que caracterizou tratar-se de novas espécies. A pesquisa com esse tipo de peixe já dura pelo menos 3 anos.
Esses parasitos não têm potencial zoonótico, ou seja, não causam riscos à saúde humana. Porém, a pesquisadora faz um alerta. “Podem causar grandes perdas econômicas quando acometem principalmente peixes de sistemas de cultivo, uma vez que quando em grandes infestações podem levar o peixe à morte”.
A pesquisadora lembra que os parasitos foram achados no peixe Oxydoras niger, conhecido como “ Cuiu cuiu” , muito apreciado na região do Juruá. Ainda em 2023, uma segunda nova espécie de parasito foi descoberta neste mesmo peixe , também no rio Juruá. “Os parasitos são coletados das brânquias dos peixes. A nova espécie se chama Unibarra juruansis, nome dado em homenagem ao rio Juruá em Cruzeiro do Sul”, disse Williane.
“É um peixe grande, de couro. Muito apreciado. A carne é muito boa”, completou.
A coleta e os resultados
Ainda na entrevista, Williane explicou como a pesquisa foi realizada. As coletas foram feitas a partir da necrópsia dos peixes e coletaram as brânquias, onde os parasitos foram encontrados. “Esses parasitos não transmitem doenças para o homem. Porém, ela apresenta um potencial de grande multiplicação principalmente em piscicultura, gerando perdas econômicas significativas aos empresários. Com um índice alto de mortalidade, pode perder até 100% da produção. Mas no ambiente natural, como no Rio Juruá, eles não causam um potencial econômico”.
E é justamente essa biodiversidade presente no Rio Juruá que estimulou a pesquisa. A professora lembra que o rio é um importante afluente não só do Vale do Juruá, mas para outros estados brasileiros próximos ao Acre, e de outros países que fazem fronteira com o estado, como o Peru.
“Ele é um rio importante no fornecimento de pescado para toda a região. Então como é um rio também bastante preservado, fica mais fácil de identificar esses parasitos, pela conservação do ecossistema. Existe uma quantidade grande de espécies de peixes, a população se alimenta de pescado desse rio. Nossa pesquisa é importante para entender essa relação parasito x peixe. Os parasitos podem ser indicadores de qualidade desse ecossistema”, destacou a professora.
A pesquisadora lembra que não é comum que os parasitos descobertos contaminem outras espécies de peixes. “Mas existem uma diversidade de outras espécies, inclusive ainda não conhecidas. Isso porque nós temos um número elevado de hospedeiros na Bacia Amazônica. Tem muito trabalho a ser feito. Muita coisa que a gente não conhece”.
Ao final, Williane destacou a importância da pesquisa para a parasitologia no Acre. “Esse trabalho é muito significativo, pois mostra a riqueza de espécies e contribuem para que ela não se perca. Os parasitos têm papel importante no ecossistema e para preservar, é preciso conhecer”, finalizou.