Em reunião, Heleno falou em ‘virar a mesa’ e infiltrar Abin nas campanhas em 2022

Vídeo do encontro, realizado em julho de 2022, estava em aparelho de Mauro Cid. Quando Heleno cita Abin e 'risco' de reunião 'vazar', Bolsonaro interrompe e sugere discussão privada do tema

Ex-ministro do GSI Augusto Heleno – Reuters/Adriano Machado

O então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno afirmou, em reunião com Jair Bolsonaro e ministros em julho de 2022, que pretendia infiltrar agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nas campanhas de Jair Bolsonaro (à reeleição) e de seu principal adversário, o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

As declarações constam no vídeo com a íntegra da reunião, realizada em julho de 2022. As imagens foram encontradas no computador de Mauro Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e tornadas públicas nesta sexta-feira (9).

“Dois pontos para tocar aqui, presidente. Primeiro, o problema da inteligência. Eu já conversei ontem com o Victor [Felismino Carneiro], novo diretor da Abin, nós vamos montar um esquema para acompanhar o que os dois lados vão fazer”, declara Heleno.

“O problema todo disso é se vazar qualquer coisa. Muita gente se conhece nesse meio. Se houver qualquer acusação de infiltração desse elemento da Abin em qualquer um dos lados…”, prossegue Heleno, antes de ser interrompido por Bolsonaro.

O então presidente da República pede que Heleno interrompa a fala naquele momento – e diz que, se há medo de vazamentos, o assunto deve ser tratado em reunião privada, longe dos demais ministros.

“General, eu peço que o senhor não fale por favor. Peço que o senhor não prossiga mais na sua observação, não prossiga na sua observação. Se a gente começar a falar ‘não vazar’, esquece. Pode vazar. Então a gente conversa particular na nossa sala sobre esse assunto”, diz Bolsonaro.

‘VAR’ e ‘virar a mesa’

Em seguida à reprimenda de Bolsonaro, Heleno passa a tratar de um “segundo ponto”: segundo ele, a necessidade de que o governo agisse antes mesmo das eleições para evitar um revés na votação.

“O segundo ponto é que não tem VAR nas eleições. Não vai ter segunda chamada na eleição, não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa, é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições. Depois das eleições, será muito difícil que tenhamos alguma nova perspectiva”, diz Heleno.

“Até porque eles vão fazer tão bem feito que essa conversa do Fachin, foi exatamente com os embaixadores para que elimine a possibilidade de o VAR acontecer. No dia seguinte, todo mundo reconhece e fim de papo”, prossegue.

“Isso aí tem que ficar bem claro, acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. Vai chegar um ponto em que não vamos poder mais falar, vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e determinadas pessoas, isso para mim é muito claro. Só isso.”

 

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