O dia do combate a discriminação racial é comemorado em 21 de março, como uma maneira de reforçar a importância de se combater o racismo. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas, em 1966, fazendo alusão ao Massacre de Sharpeville.
Em 1960, na África do Sul, em Sharpville, província de Gauteng, a polícia local abriu fogo contra manifestantes que se pronunciavam acerca da Lei do Passe, que obrigava os negros a andarem com seus passaportes dentro da África do Sul. O ato resultou em 69 mortos e 186 feridos.
Em 2024, mesmo 64 anos após o combate a discriminação racial ainda se faz necessário no dia a dia, nas mais diversas formas possíveis, inclusive na arte. Uma das pessoas que usam deste caminho para se posicionar é Cristina Santos, de 20 anos, mais conhecida no meio artístico como Medusa.
A jovem, que participa de batalhas de “Slams”, conhecido como poesia das ruas ou poesia marginal, fala que, mesmo nos textos sem foco na questão racial, é algo que não deixa de aparecer, pois o fato de ser negra, e a luta envolta nisso, é algo que perpassa sua vida.
“Tem uma poesia minha que parte dela foi inspirada em um caso da infância, onde uma pessoa tentou me abraçar, e eu recusei, e pedi pra que não chegasse perto de mim, então o homem disse ‘essa menina preta, macaca, nojenta, pensa que é gente’, eu não entendi o que era aquilo na época”, explica ela.
Ela diz que a discriminação racial é sim uma pauta que precisa estar presente nas artes. “ A discriminação é uma temática muito importante nas poesias, falo muito disso em uma poesia chamada ‘Foi um Fardado’, mas sempre tem pelo menos um verso sobre isso, porque é a única forma que as pessoas nos ouvem, através da arte, e é isso, nosso problemas, o que o jovem preto enfrenta, isso salva muitas vidas”, diz Medusa.
A jovem levou sua luta para além das fronteiras do estado, em 2022 e 2023, participando do Slam das Minas BR, e durante a comemoração dos 15 anos de eventos do gênero no Brasil, ela ficou em primeiro lugar.
“Foi muito gratificante poder mostrar o estado lá fora, representar o pessoal daqui, e levar um pouco de mim também, das minhas palavras, das minhas histórias e das minhas vivências”. comenta ela.
“O slam busca levar informação através da palavra, já ouvimos muito isso do nosso público. Ele contribui para a sociedade dessa forma, levando informações através da poesia, com as próprias vítimas da discriminação racial contando e se curando das dores disso através da poesia e da arte”, finaliza ela.
Confira trecho de “Foi um Fardado” abaixo:
“Foi uma criança que tava saindo da escola
Com a mochila nas costas, uniformizado.
Eles atiraram e mataram
Porque na cabeça deles é assim
Só mais um viciado
Eu cansei de ver através da minha Vivência
O imaginário, as coisas do mundo
E o racismo que a TV não te revela
Eu me perguntei assim
Não vai mudar?
O Preto foi agredido
Vítima de racismo
procura vaga na universidade
Agredido por tentar estudar
Mas como eu era preto, né?”