Brasileiros lançam versão grátis de Spider-Man 2 para PC; veja a entrevista

Possivelmente, o maior caso disso é a versão não-oficial de Spider-Man 2 para PC

Com as novas parcerias da Sony, a “Era dos Jogos Exclusivos” parece finalmente estar chegando ao fim — para a alegria geral dos jogadores, e tristeza dos que não têm bom senso. Entretanto, a boa notícia ainda acompanha um detalhe não tão agradável, mas compreensível pela barganha: o maior tempo de espera. É claro, nem todos os fãs têm tanta paciência e, enquanto alguns compram um PlayStation 5, outros preferem resolver a situação de uma forma mais… democrática.

Possivelmente, o maior caso disso é a versão não-oficial de Spider-Man 2 para PC. Ambicioso, o projeto está sendo desenvolvido com arquivos originais do exclusivo de PlayStation 5, com um código fonte obtido no último vazamento da Insomniac. Desde a ocasião, em dezembro do ano passado, ao menos três tentativas foram feitas para “exportar” o conteúdo corretamente para computadores — quase todas sem sucesso. A exceção aconteceu quando o projeto recebeu o importante apoio: dos brasileiros.

Imagem: Adriano Camacho / Sony / Spider-Man PC Brazil

Para contar melhor essa história, Voxel entrevistou um dos fundadores do projeto Spider-Man 2 PC Brazil, que prefere se identificar pelo seu apelido online: “Biladeiro”, ou simplesmente “Bila”. Atuando como Diretor-líder de Desenvolvimento, ele contou informações exclusivas sobre a versão não-oficial do exclusivo de PS5.

A seguir, você poderá entender como esse desafio está sendo realizado, as medidas preventivas para evitar processos da Sony e como isso se reflete na indústria nacional de jogos.

E se Spider-Man 2 fosse portado para PC — pela ciência, hipoteticamente?

Enquanto a ideia começou simplesmente como um experimento que buscava provar que era, sim, possível criar uma versão “executável” de Spider-Man 2 com os dados vazados, o desafio não demorou para tomar novas proporções. Após desenvolver a base para que o jogo funcionasse apenas até certo ponto, parte da tecnologia foi revertida e adaptada para ir adiante. Essa solução foi, então, compartilhada com um novo grupo de desenvolvedores que sonhava mais alto, com uma versão completa do jogo.

Este segundo projeto, no entanto, não durou por muito tempo — ainda que tenha sido alvo de muitas polêmicas. A principal delas referia-se ao seu Desenvolvedor Líder, conhecido por “Whisper”, um canadense de apenas 16 anos, que não aguentou a pressão dos fãs e cancelou todos os planos para a empreitada. Segundo Bila, a comunidade apenas pedia por evidências de progresso, além da liberação dos arquivos utilizados para rodar o título no PC. Neste fatídico momento, entram os brasileiros.

Nomeado Spider-Man 2 – PC Brazil, a mais nova vertente do projeto possui os mesmos objetivos almejados pelo jovem canadense, mantendo a promessa de criar uma versão “completa” do jogo e finalizar seu trabalho. A iniciativa atualmente reúne uma equipe internacional de 14 membros, que inclui quatro brasileiros e nove desenvolvedoras. Contando com participantes dos projetos anteriores, o grupo segue motivado pelo apoio da comunidade.

Apesar da experiência e do progresso alcançado até o momento, o grupo ainda encarou muitas dificuldades técnicas. Segundo Bila, o “desembaralhamento” das texturas e a implementação do Motor Havok, responsável pela física de Spider-Man 2, foram dois problemas complexos no desenvolvimento — mas ambos já foram resolvidos. Adiante, o esforço no projeto trouxe resultados surpreendentes.

Apesar de pequenos bugs, que são reportados e resolvidos com apoio da comunidade, a versão não-oficial de Marvel’s Spider-Man 2 para PC está totalmente jogável. Muito além disso, na verdade: os jogadores podem finalizar toda a campanha do título, sem grandes problemas. E, claro, isso gera muitas dúvidas!

Spider-Man 2 para PC é diferente da versão original?

Para os curiosos que estiverem preocupados com a fidelidade em relação ao original, Bila tranquiliza: “Essa versão de Marvel’s Spider-Man 2 para PC não sofre sacrifício algum em jogabilidade ou conteúdo”. Contudo, ele esclarece que uma réplica “1:1” não seria possível pela ausência de suporte ao DirectX12 que, entre outros recursos, também permite o uso de Ray Tracing — mas isso não é um problema.

Segundo o Diretor-líder de Desenvolvimento, essa versão de Spider-Man 2 para PC garante muito mais liberdade visual aos jogadores, que podem modificar trajes icônicos ou ajustar os shaders. Essa diferença possibilita a criação de atmosferas únicas na jogabilidade, algo que combina muito bem com as diferentes variantes do Aranha — afinal, quem não ama os tons alaranjados nos pôsteres da trilogia do Sam Raimi? Na versão oficial, exclusiva do PS5 até o momento, somente a Insomniac tem esse controle criativo.

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Por outro lado, esse nível de fidelidade na reprodução levanta muitas questões legais e, até mesmo éticas sobre o projeto. Embora não tenha detalhado sobre os métodos e tecnologias utilizados no Spider-Man 2 – PC Brazilsabe-se que o grupo utilizou códigos obtidos ilegalmente da Insomniac por terceiros, além de implementar técnicas de engenharia reversa em alguma capacidade. Essas características, ainda que sejam impressionantes como uma comprovação de conhecimento técnico, pode ameaçar a tênue linha que separa a iniciativa da pirataria.

Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades

Diante dos problemas com emuladores e projetos do tipo, como foi no caso da Nintendo, Bila falou sobre algumas medidas que a equipe adota para se manter nas conformidades da Lei. Para começar, ele esclarece que o projeto não possui nenhuma finalidade de lucro, seja direto ou indireto, sendo direcionado a todos os jogadores gratuitamente. Embora pareça óbvio, esse detalhe é extremamente importante na Lei de Direitos Autorais, conforme explicamos na reportagem sobre a Steam Verde.

Junto disso, o projeto mantém código aberto até certo ponto — isto é, fornecendo acesso livre apenas às ASIs e dados do launcher. O motivo para não liberar o acesso completo ao código-fonte é simples: ele pertence à Insomniac. Mesmo que o grupo tenha utilizado essas informações, obtidas em um vazamento ilegal, ainda houve muito trabalho para adaptá-lo e torná-lo jogável. Justamente, esses dados são protegidos para que não caiam em mãos mal-intencionadas.

Reforçando a preocupação com o caso, o projeto também não disponibiliza os assets — como as texturas e os modelos — necessários para rodar o experimento. Nesse contexto, para desenvolver a versão de computador de Spider-Man 2a equipe obteve o material diretamente do jogo original, comprado para este fim — um processo simples que, segundo Bila, pode ser feito por qualquer usuário. Essa abordagem é bastante similar às diretrizes de ROMs e emuladores, que costumam oferecer o software, mas não os arquivos dos jogos.

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Por outro lado, ainda que não seja comercializado, o projeto ainda pode ser considerado uma “cópia” ou “réplica” de Spider-Man 2 perante a Lei dos Direitos Autorais. Isso se dá pelo uso de uma Propriedade Intelectual da Insomniac, com objetivo de levar um produto para um mercado onde ainda não estreou, mas presumidamente irá — em outras palavras, pode acabar prejudicando a projeção de lucros do estúdio.

Todavia, o caso ainda pode ser defendido na perspectiva de um experimento independente e para uso pessoal, conforme explica Bila: “tudo depende das Leis do Brasil e de como nós podemos compartilhar tecnologia revertida, que nós utilizamos somente para pesquisa”. Ele complementa, reforçando: “não fazemos a distribuição dessa tecnologia, diretamente”.

Ao ser questionado se o projeto poderia ser relacionado à pirataria, o fundador do projeto pondera: “Depende muitíssimo do ponto de vista,” contextualiza, “não ‘há’ Marvel’s Spider-Man 2 para PC, mas os assets utilizados são originais do PS5 e compartilhado para uso pessoal — acredito que há um meio-termo”.

Problemas à vista?

Considerando o histórico da Sony, é possível que o projeto continue firme e forte — pelo menos até sua conclusão. Diferente da Nintendo, que costuma encerrar projetos minimamente parecidos com qualquer uma de suas propriedades intelectuais, a Dona do PlayStation parece um pouco mais permissiva. Até então, há dois casos onde a empresa impediu o lançamento de jogos feitos por fãs, e ambos compartilham similaridades.

São eles Bloodborne Kart, mais recente, e LittleBigPlanet Restitched, encerrado há mais de quatro anos. Discutivelmente, ambos são projetos que buscavam explorar novas propostas em uma nova plataforma, enquanto utilizam propriedades intelectuais próximas à Sony.

Claro, Spider-Man 2 se encaixa como um sucesso da Gigante Japonesa, mas sua versão não-oficial para PC não explora uma nova ideia, e busca apenas lisonjear sua versão oficial. Nesse detalhe, há menor chance de descaracterização de marca — algo que uma versão motorizada de Bloodborne certamente faria, embora soe muito divertida.

O futuro de Spider-Man 2 para PC e a Saga do Clone

Com dois jogos da franquia Marvel’s Spider-Man no PCnão é mistério que Spider-Man 2 deve ser lançado na plataforma. Diante da hipotética estreia, Bila reflete: “será curioso ver como a Nixxes trabalhará no port e como ele ficará em comparação com o nosso”. Ele tempera as expectativas: “não tenho dúvidas de que o oficial será melhor, mas o nível seria igualado se tivéssemos as mesmas ferramentas que eles”.

Assim como na Saga do Clone, em que a coisa mais tranquila que aconteceu com Peter Parker foi ter uma cópia, é possível que os jogadores convivam com uma dupla de Spider-Man 2 no PC. A equipe, que não trabalha com cronogramas de lançamento, afirma que Spider-Man 2 PC Brazil está em constante desenvolvimento. Para Bila, há chances do projeto continuar apesar de uma estreia oficial: “depende de como a Insomniac irá lançar as DLCs de MSM2”.

Pensando nos próximos passos do projeto, Bila segue motivado: “vamos terminá-lo,” ele afirma, “e, em seguida, prosseguir com o desenvolvimento do Protótipo Milestone 13, de Wolverine para PC”. Para quem ficou de fora, o novo jogo do Carcaju também sofreu com inúmeros vazamentos, com direito a trechos de jogabilidade e cinemáticas.

Spider-Man 2 para PC está otimizado?

Enquanto a versão oficial não chega, Spider-Man 2 PC Brazil faz as honras com capricho na plataforma. Por exemplo, para rodar em 4K com 30 FPS, o projeto pede apenas uma RTX 3060 Ti. Enquanto isso, o mínimo recomendado para jogar em 720p e 30 FPS é uma GTX 1050 Ti — que completa quase sete anos de mercado, em 2024. Para completar, o título ainda roda no Steam Deck em HD, desde que utilizando upscalling.

Confira os requisitos completos de Spider-Man 2 PC Brazil, logo abaixo:

Requisitos SM2PC

Requisitos de Spider-Man 2 PC Brazil.

Entretanto, há um problema de grande tamanho: o espaço exigido para o projeto. Ao todo, Spider-Man 2 PC Brazil pede cerca de 250 GB para sua instalação — ou quase a metade do espaço exigido para as skins Modern Warfare 3 e Warzone 2. Piadas a parte, o requisito assusta, mas se deve a falta de otimização e compressão apropriada, que devem chegar nas versões futuras.

Onde jogar Spider-Man 2 para PC?

Oficialmente, Spider-Man 2 não está disponível para computadores. Mas enquanto isso, os jogadores podem experimentar o título com a versão PC BrazilA pedido do fundador do projeto, Bila, o Voxel não disponibilizará links para download — que não devem ser difíceis de achar, contudo. Afinal, nesta plataforma, os gramados e as bibliotecas de jogos estão sempre mais verdes com possibilidades.

De tudo, a versão brasileira de Spider-Man 2 para PC mostra que a comunidade não está muito satisfeita com o longo tempo de espera até jogar um título, seja exclusivo ou não. A estratégia não apenas parece antiquada, frente ao sucesso de outras abordagens como a de Helldivers 2, mas contraproducente para o sucesso das próprias franquias restritas — sim, isso é um apelo para que Bloodborne seja liberto do PlayStation 4.

Expandindo o debate, o projeto também demonstra a capacidade técnica dos desenvolvedores brasileiros de jogos, uma área rica em talentos não-explorados. Para Bila, este é um mercado embrionário e longe dos títulos arrasa-quarteirão: “com todos os problemas políticos e nacionais, o desenvolvedor brasileiro nunca terá chance no mercado Triple A,” infere, “mas com a aprovação do Marco Legal dos Games, acredito que o mercado brasileiro pode, sim, competir no espaço independente”.

Diante de todo esse contexto, para Bila, a empreitada já é um sucesso. Ele comenta: “é uma honra enorme fazer parte do projeto,” afirma, “não pelos seus resultados, mas pelas pessoas incríveis que conheci, e pelas pessoas que hoje fazem parte do time — que posso chamá-las de amigas”. Agradecendo o apoio da comunidade, ele afirma: “desejo a todos uma maravilhosa jogatina”.

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