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CBF: vítimas não podem se calar em casos como Robinho e Daniel Alves

Por Metrópoles

Confederação Brasileira de Futebol (CBF) soltou comunicado, na noite desta sexta-feira (22/3), em que defende que as vítimas de estupro, como nos casos como dos ex-jogadores Daniel Alves e Robson de Souza, o Robinho, não se calem. A nota é assinada por Ednaldo Rodrigues, presidente da entidade.

“É fundamental que a corajosa atitude das vítimas inspirem cada vez mais mulheres a não se calarem diante de barbaridades de tal ordem”, informa trecho da nota.

A CBF ressalta que os ex-jogadores não podem utilizar a camisa da Seleção Brasileira para tentar se proteger das condenações por estupro. “É vergonhoso que um atleta se sinta confortável para cometer esse tipo de perversidade acreditando que aquilo que conquistou pelo esporte vá de alguma forma lhe blindar de qualquer punição.”

Reprodução

Robinho foi preso pela Polícia Federal (PF) na noite dessa quinta-feira (21/3), em Santos, no litoral de São Paulo. O mandado de prisão contra o ex-jogador foi emitido pela Justiça Federal da cidade após o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), negar recurso da defesa do ex-atleta.

Na quarta-feira (20/3), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) acatou o pedido da Justiça da Itália e determinou a prisão imediata do ex-jogador.

Daniel Alves foi condenado a 4 anos e 6 meses de prisão pelo Tribunal de Barcelona, na Espanha, por “agressão sexual”, equivalente ao crime de estupro no Brasil. Segundo a Corte, o ex-jogador abusou de uma mulher de 23 anos em um banheiro de uma boate em 31 de dezembro de 2022.

A Justiça de Barcelona, por outro lado, concedeu liberdade provisória a Daniel Alves mediante o pagamento de fiança no valor de 1 milhão de euros (R$ 5,4 milhões). No entanto, o ex-jogador não conseguiu fazer o desembolso e ficará preso durante o fim de semana.

A CBF reforça que tem trabalho para combater violências no ambiente esportivo, como no combate ao racismo, homofobia e agressões motivadas por brigas de torcidas.

Confira a nota completa:

As condenações definitivas dos jogadores Robson de Souza e Daniel Alves colocam um ponto final em um dos capítulos mais nefastos do futebol brasileiro.

Os dois casos, que envolvem jogadores que foram estrelas da Seleção Brasileira de Futebol, um dos maiores ícones culturais do nosso país, não podem se encerrar com a condenação dos dois culpados.

É fundamental que a corajosa atitude das vítimas inspirem cada vez mais mulheres a não se calarem diante de barbaridades de tal ordem.

Mais do que isso: num ambiente em que o machismo impera, nós, homens, precisamos estar na linha de frente para combater não apenas a violência sexual, mas todo tipo de violência.

A CBF, todos os seus dirigentes e a comissão técnica da Seleção Brasileira se solidarizam com as vítimas brutais dos dois crimes cometidos pelos ex-jogadores.

A camisa amarela que os atletas brasileiros vestem em campo é mais do que apenas um uniforme. Assim como o futebol é para o Brasil mais do que apenas um esporte. Cabe àqueles que a vestem defender os sentimentos e valores de um país inteiro ali representados. É vergonhoso que um atleta se sinta confortável para cometer esse tipo de perversidade acreditando que aquilo que conquistou pelo esporte vá de alguma forma lhe blindar de qualquer punição. Assim como é igualmente vergonhoso que um torcedor de qualquer nacionalidade se sinta confortável para ofender atletas brasileiros apenas por sua raça, como lamentavelmente temos visto na Europa, contra o jogador Vinicius Jr.

A CBF tem atuado ostensivamente para combater violências que se acomodaram no ambiente esportivo sem que fossem endereçados com a devida firmeza. O combate ao racismo, à homofobia e violências motivadas por rixas de torcidas atravessa a agenda de prioridades da entidade de forma transversal, em todos os seus eixos de atuação, dos quais destaca-se:

1) A parceria de quatro anos com o Observatório da Discriminação Racial no Futebol para o monitoramento sistemático de qualquer forma de discriminação no futebol;

2) A realização, em 2023, do I Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol representou um marco para o enfrentamento da questão;

3) A instituição de um grupo de trabalho composto por mais de 50 representantes de mais de 30 entidades do setor público, privado e da sociedade civil que se reúnem com o objetivo de debater e construir soluções coletivas para a problemática;

4) A realização das campanhas “Por um Futebol e uma Sociedade Antirracista” em 2022 e “Com Racismo Não Tem Jogo” em 2023, tendo esta última vencido, inclusive, a premiação global “FIFA THE BEST – FAIR PLAY AWARD”;

5) A reforma do Regulamento Geral de Competições da CBF, com a introdução de dispositivos de salvaguarda dos direitos humanos, além de sanções administrativas severas para infrações de caráter discriminatório, possibilitando que clubes sejam responsabilizados pelas condutas de seus atletas, dirigentes e torcedores;

6) A proposição de medidas às principais entidades de administração do futebol, como FIFA, a CONMEBOL, a UEFA e outras federações nacionais, defendendo que estas organizações incorporem provisões semelhantes às da CBF em seus regulamentos;

7) O diálogo permanente com os Ministérios do Esporte, Justiça e Segurança Pública , Igualdade Racial e Relações Exteriores, buscando que autoridades espanholas sejam impelidas a atuar na responsabilização e punição dos culpados pelos crimes contra Vini Jr.;

8) O apoio ao Coletivo Canarinhos LGBTQIAP+, financiando a elaboração do Anuário da LGBTfobia no Futebol Brasileiro nas temporadas de 2022 e 2023;

9) A realização, em 2023, do inédito “Levantamento sobre a Diversidade no Futebol Brasileiro”, em parceria com a Nike e o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, que mapeou aspectos relacionados à diversidade racial, religiosa, de gênero, orientação sexual e origem de atletas, treinadores e árbitros de clubes participantes do Campeonato Brasileiro, no futebol masculino e feminino;

10) O Acordo De Cooperação com o Governo Federal, por intermédio do MJSP e MEsp, que prevê a implementação do “Projeto Estádio Seguro”, implantando os mais avançados sistemas de controle de público nas arenas para combater violência;

11) A contratação de consultoria especializada Travessia para a implementação do “Programa de Diversidade e Inclusão da CBF”, com o objetivo de elaborar um diagnóstico do ambiente corporativo, bem como planejar, executar e avaliar um amplo programa de diversidade e inclusão, incluindo a elaboração de políticas e mecanismos de prevenção e enfrentamento ao assédio moral e sexual, a realização letramentos e treinamentos específicos com colaboradores, a implementação de mecanismos de denúncias e intervenção precoce em casos de abuso ou assédio, bem como o monitoramento global e periódico do programa, recentemente ampliado para abranger treinamento também para todas as seleções brasileiras, masculinas e femininas;

12) O apoio da organização Futebol contra o Racismo na Europa, ou Football Against Racism in Europe (FARE Network), em reconhecimento ao trabalho desenvolvido pela CBF;

13) A adesão ao programa FIFA Guardians para a implementação, em um futuro próximo, de programas e políticas de salvaguarda, prevenindo e coibindo quaisquer abusos ou assédios no âmbito do futebol organizado, por meio da atualização dos requerimentos do Programa de Licenciamento de Clubes e da Certificação de Clube Formador;

14) A Candidatura para Sediar a Copa do Mundo Feminina da FIFA 2027, que representa o maior projeto da atual gestão para promover a participação de mulheres no futebol, combater o machismo e desenvolver a modalidade.

As soluções aos problemas complexos e profundos que contaminam hoje o futebol não se encerram com essa lista de ações, mas a CBF espera, por meio dessas e outras iniciativas, contribuir não apenas para a melhoria do ambiente esportivo, mas de toda a sociedade.

Ednaldo Rodrigues

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