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Hoyle, única vítima fatal de acidente aéreo no Acre, defendia tratado nunca respeitado pelo Brasil

Por João Maurício Rosas, ContilNet

Em 5 de junho de 2009, o empresário peruano Sidney Hoyle, morto há uma semana no acidente aéreo que deixou outras seis pessoas feridas em Manoel Urbano, comandou a maior operação de alfandegamento provisório já realizada em um rio da Amazônia brasileira.

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Sidney Hoyle, morto há uma semana no acidente aéreo que deixou outras seis pessoas feridas/Foto: Reprodução

O empresário passou um ano articulando o transporte de oito mil sacas de cimento e 1.320 tambores de betume, matéria prima do asfalto, entre Manaus e Puerto Esperanza, capital da província do Purus, no Peru. Os produtos foram destinados à pavimentação da pista do aeroporto local.

Denominado de “Ato de Alfandegamento Extraordinário no rio Purus”, o evento foi chancelado pelo, então, superintendente da Receita Federal em Rio Branco, Elmar Nascimento, com participação do superintendente da Polícia Federal, José Carlos Calazane e do diplomata Carlos da Fonseca, chefe da Divisão das Américas do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty).

O alfandegamento foi realizado em Santa Rosa do Purus, localizada a quatro horas de Puerto Esperanza rio acima. A mercadoria chegou de Manaus em três balsas – Olineusa, Angelina e Fátima Pinheiro – numa viagem de 68 dias, com um investimento de 800 mil reais à época.

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“Se fizesse o mesmo negócio entre Pucallpa e Puerto Esperança teríamos que investir cerca de R$ 2 milhões em transporte aéreo”, comentou Sidney à época.

O empresário se emocionou ao discursar durante o alfandegamento. Ele vinha insistindo no tema desde 2008 quando a Aleac, sob presidência do deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), realizou uma sessão ordinária em Santa Rosa. Na época, a Aleac levava sessões deliberativas itinerantes a todos os municípios isolados do Acre.

Acompanhado por um grupo de empresários purusinos, como são chamados os habitantes do outro lado da fronteira, Hoyle se reuniu com o Edvaldo Magalhães e defendeu o cumprimento do “Tratado de Limites e Trânsito Fluvial – Terrestre e Comércio”, assinado em 1909 entre os presidentes Nilo Peçanha, do Brasil, e Alberto Leguia, do Peru.

O documento, nunca respeitado pelo Brasil, segundo Hoyle, garante o livre comércio e a navegação como “direito perpétuo em todo o curso dos rios que nascem ou correm dentro ou nas extremidades da região”. Ou seja, alcança praticamente toda a Bacia Amazônica, já que o Peru é o berço dos principais rios da Amazônia brasileira.

Na época, Puerto Esperanza tinha menos de três mil habitantes e havia grande demanda por materiais de construção vindos do Peru, do cimento aos materiais para acabamento com preços 200% mais baratos que os similares do Brasil.

“É preciso que se entenda a realidade da região para que as normas legais sejam aplicadas de forma diferenciada em municípios isolados”, argumentava Hoyle. “Talvez por desinformação, este tratado não é respeitado pelo Brasil”, dizia.

Sempre com uma cópia do tratado à mão, Hoyle ficou conhecido nos corredores da Aleac e da burocracia do Estado. Ele e o empresário peruano Edwin Alvarado, representante da indústria da construção civil de Puerto Esperanza, lideravam um Comitê de Integração e Desenvolvimento da Fronteira que defendia a regulamentação de um comércio que sempre houve entre as duas cidades.

“O comércio em pequenas quantidades já é uma rotina, mas queremos que seja regularizado para podermos pensar em desenvolvimento real. Esta Assembléia vai ser importante para que deixemos de ficar de costas um para o outro”, argumentava Hoyle.

Descendente de escoceses, Hoyle era ruivo e sardento, falava português fluentemente e era casado com uma senamadureirense. Vivia numa espécie de ponte aérea entre Sena Madureira e Puerto Esperanza.

Era íntimo do Cessna Skylane 182, monomotor que caiu em uma fazenda próxima ao Aeroporto de Manoel Urbano. Com capacidade para apenas quatro passageiros, era comum levar sete – um no banco do copiloto, três de costas para o piloto e dois espremidos no banco traseiro da aeronave, que tem sua cabine afunilada.

Avião caiu em Manoel Urbano/Foto: Reprodução

Em sua saga por transportar materiais de construção de Manaus para a província do Purus, Sidney Hoyle era comparado ao lendário aventureiro irlandês Brian Sweeney Fitzgerald, chamado pelos indígenas peruanos de Fitzcarraldo, atualmente nome da avenida principal de Pucallpa, capital do Departamento de Ucayali. Só que o herói peruano, em vez de cimento, levava um barco por terra para construir um teatro de ópera na floresta, que foi tema do filme Fitzcarraldo, dirigido pelo alemão Werner Herzog.

A investigação do acidente deverá constatar superlotação e excesso de carga, o que é comum nos vôos que saem de Rio Branco rumo às cidades isoladas. No dia do alfandegamento, em 5 de junho de 2009, Sidney Hoyle foi o sétimo passageiro a embarcar em um vôo fretado pela Aleac.

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Ficaram feridos no acidente, a biomédica Amélia Cristina Marques Rocha, de 28 anos, e seu marido, o dentista Bruno Fernando dos Santos, de 36 anos. Amélia sofreu queimaduras graves em cerca de 70% do corpo, enquanto Bruno teve ferimentos leves. Além deles, a enfermeira Suani Camelo, de 30 anos, também teve graves queimaduras, assim como Jefferson, seu marido, que está em condição estável. Uma adolescente, Deonicilia Kaxinawá, de 15 anos, sobreviveu ao acidente com queimaduras nos braços e pernas.

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