A comunidade jovem de Rio Branco é expressiva. Segundo dados do censo de 2022 do IBGE, 25,2% de sua população tem até 14 anos, sendo a mais jovem do Brasil. Também, pode se notar um crescimento de movimentos políticos capitaneados por jovens. Os agentes por trás dessas lutas tem muito o que falar. Afinal, o que leva estes jovens a se engajarem nessas lutas?
FALA E ESPAÇO
“Eu acho que a militância faz a gente se aproximar das diferentes realidades, aqui em Rio Branco, mas também no Acre, Amazônia e Brasil. Como uma pessoa que mora na periferia no sistema, é algo que faz parte do meu dia a dia, é algo que faz a gente ouvir muitas pessoas e também falar quando é necessário!” afirma Tácila Matos, 23, estudante de jornalismo.
Para José Lucas Alencar, 23, a juventude tem essa capacidade de balançar as estruturas de uma cidade como Rio Branco:
“A militância jovem tem essa capacidade, porque os jovens fazem novas perspectivas sobre os problemas que a gente enfrenta, coisas que antes não eram enxergadas como um problema. [E também] tem as redes sociais que estão cada vez mais fortes, presentes para ser uma ferramenta de fala, de espaço”.
Porém, nem tudo são flores, pois, segundo Matos, por exemplo, além de ataques em redes sociais – principalmente em qualquer notícia veiculada sobre alguma ação dentro da universidade ou fora -, há uma descrença dos militantes mais velhos na nova geração, o que, segundo a estudante, gera conflito, mesmo eles agindo como esses agentes de suporte:
“Eu acho que o papel das pessoas mais velhas acaba sendo de suporte. Às vezes financeiro, porque muitos jovens não têm uma parte financeira estabelecida. E nessa parte de orientação também […] Mas é complexo, porque têm várias questões a serem pensadas. Algumas pessoas mais velhas que estão nesse meio, elas já estão muito confortáveis nesse espaço e elas não têm mais a mesma energia que antes. Elas não criticam tanto, quanto antes e alguns também julgam muito a atuação da juventude”.
SOLUÇÃO E PROBLEMA
Assim, como dito pelo segundo entrevistado, Alencar, é necessário que essa lógica do sentar e obedecer seja quebrada através da documentação e educação eficaz:
“A importância de documentar esses jovens ativistas vem muito desse lugar das vozes serem escutadas. Porque a gente vem de uma educação que quando o adulto está falando, a gente tem que ficar calado e aceitar […] só que a gente não precisa ficar mais calado, né? A gente têm nossas questões que precisam ser levantadas. Então, acho que a importância para além da gente também ser escutado e poder se impor nessa sociedade que pode servir também para processos educacionais”.
Para Tácila Matos, as conversas e reflexões sobre a experiência de cada geração de militantes também faz parte desse imbróglio, afinal, “nossa geração nunca passou por uma ditadura militar”. Transmitir este legado e permitir que a lógica iluminista de que o futuro é sempre o progresso seja subvertida é um dos braços da discussão.
Passado, presente e futuro unidos num só coro: uma humanidade melhor. Parafraseando a clássica carta do ativista ambiental Chico Mendes para o jovem do futuro. Que os acontecimentos que os mais velhos sonharam e não vão ver, não sejam apenas sonhos, mas o motivo de luta dos mais jovens.