Glauco Capper, jornalista e filmmaker, afirma que sua exposição “Lágrimas de Março”, que estreia neste sábado (16) até o final do mês, começou quando foi ajudar seus amigos e percebeu a situação de calamidade vivida em março de 2023. Com o subtítulo “Uma Enxurrada de Dor”, a exposição/imersão retrata o dia 24 de março de 2023, quando, após chover 186mm em um único dia, cerca de oito igarapés transbordaram em Rio Branco.
Além da exposição audiovisual, Capper também fará o pré-lançamento do documentário de mesmo nome da exposição, em que explora o sentimento de perda coletiva que ronda a cheia do ano passado:
“Poucas pessoas sabem o que é perder tudo. Passar dias limpando, tirando o cheiro de podre das paredes com medo de cobras e outros bichos”, declara.
A nascente da vontade de ser fotógrafo
“Eu sempre sonhei em ser fotógrafo. Aos 10 anos, fiz um curso via Correios do Instituto Universal Brasileiro. Não tinha condições de ter uma câmera naquela época. Vim comprar minha primeira câmera aos 27 anos. As primeiras fotos que fiz foram da alagação de 2011. Ali me vi diante de muitos questionamentos para além da fotografia”, reflete Glauco sobre seu início de carreira.
Uma foto em específico, conforme dito por Glauco, sempre mexe com ele. “O olhar da senhora que estava tirando o sofá de casa parecia conversar comigo perguntando: “isso é bonito pra você?”; ou “acha bonita essa situação?”.
Nessa época já cursava jornalismo na Ufac. Aos poucos, migrando de vez para o audiovisual. O filmmaker começou pelo registro de eventos para manter o sustento até chegar à publicidade. A partir daí, começou a trabalhar em registrar eventos em Rio Branco.
O curso da exposição
Sob a curadoria de Rafaella Zanatta, a exposição imersiva tem o objetivo de levar o público a experienciar e refletir as dores do outro, enxergando que que a importância climática também passa por uma atitude individual e coletiva. “Estar diante do olhar sensível, artístico e humano de Glauco Capper, é o mesmo que presentear nossa alma com uma oração” descreve Zanatta.
Com a imersão e o documentário, o expositor busca, mesmo que de forma limitada, entender o tamanho do caos que foi aquele dia; a forma como a sociedade lida e enxerga seus problemas. De acordo com o expositor, tudo começou quando foi ajudar amigos vítimas da inundação dos igarapés.
“Tremendo mais que vara verde! É a primeira vez que sou convidado para uma exposição. Isso mexeu muito comigo porque não me via nesse lugar. Até que a Rafaella Zanatta disse: “Menino, que trabalho lindo, vamos fazer uma exposição” (palavras dela). Vi que era a oportunidade de realmente fazer toda a diferença que sempre busquei através das minhas fotos e vídeos”, descreve o artista sobre a sensação pré-exposição.
Expondo uma “enxurrada” de despreparo, abandono e descaso do poder público para prever, enfrentar e lidar com desastres naturais. Além disso, sendo sua primeira exposição, o jornalista pretende abrir um debate sobre os enchentes e as mudanças climáticas:
“É a chance de me encontrar no lugar de “venham cá, vejam o que vi, reflitam e ajam”. Essa discussão não pode acabar ao fim dessa imersão. Eventos extremos vão acontecer com maior intensidade e precisamos estar preparados, principalmente o poder público. E isso é desconfortável pra mim, mas extremamente motivador”.
A enxurrada de dor
Por fim, Glauco Capper convida toda a população para sua exposição/imersão. A exposição vai acontecer de 16 a 31 de março de 2024, no Salão de Exposição do Sesc Centro, com entrada gratuita. A abertura/vernissage acontece no dia 16 de Março às 19h. A partir do dia 17, o espaço segue aberto para visitação das 8 às 12h e das 14 às 18h.
“Meu convite à população de Rio Branco e do Acre é para que venham imergir na realidade daquele dia. Foi um dia triste. Dia em que pessoas perderam tudo sem poder reagir. E essa imersão audiovisual vai nos colocar diante da dor e sofrimento de quem enfrentou tudo isso. Será uma reflexão necessária sobre o quanto precisamos nos unir, enquanto sociedade, para enfrentar novos eventos extremos”.