Pai de vítima de acidente aéreo que teve 90% do corpo queimado diz que não há fiscalização em aviões

"São aviões velhos, sobrecarregados e sem maior fiscalização dos responsáveis', diz o pai da vítima

O comerciante Francisco Ferreira Chaves, de 55 anos, residente em Santa Rosa do Purus e pai de uma das vítimas da queda de um avião em local de mata fechada, a um quilômetro da cabeceira da pista de Manuel Urbano, na manhã desta segunda-feira (18), aponta responsáveis pela tragédia que matou uma e deixou outras seis pessoas queimadas e em estado grave.

Segundo o comerciante, os responsáveis são os próprios pilotos e os responsáveis pelas empresas de aviação, que sobrecarregam as aeronaves com carga além do peso permitido, e a falta de fiscalização por parte dos órgãos encarregados da segurança no transporte aéreo no país.

“A gente, que mora no interior e depende desse transporte, parece que vivemos no fim do mundo. São aviões velhos, sobrecarregados e sem maior fiscalização dos responsáveis pela segurança no transporte aéreo. Por isso, o resultado só pode ser tragédias como a que minha família e a dos demais passageiros estamos vivendo hoje”, disse Francisco Chaves.

Suani Camelo (à esquerda) teve cerca de 90% do corpo queimado em razão da explosão do avião/ Foto: Cedida

O comerciante é pai da passageira Suani Camelo, de 30 anos, que teve 90% do corpo queimado na queda e explosão da aeronave. Ela segue entubada, em estado grave. Os outros feridos são: Roner Mendes, 59 anos, o piloto da aeronave; Mateus Jeferson Fonte, 26 anos; Amélia Cristina Rocha, 28 anos; Bruno Fernando dos Santos, 36 anos, dentista; Delisiane Salomão Calisto, 15 anos. O morto no acidente foi o comerciante de nacionalidade peruana,mas naturalizado brasileiro, Sidney Hoyle, que morreu carbonizado.

SAIBA MAIS: Com 7 a bordo, avião que caiu no Acre tinha capacidade para transportar apenas 4 pessoas

O avião deveria viajar de Manuel Urbano para Santa Rosa do Purus, uma viagem de pouco menos de uma hora. Fabricado há 50 anos, em 1974, a aeronave foi projetada para carregar no máximo quatro passageiros, contando com o piloto. No último voo tinha praticamente o dobro de passageiros, além de objetos capazes de majorar ainda mais a carga permitida. Além disso, o avião estava irregular junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

O acidente deve ser investigado pelo CENIPA, o órgão do Comando da Aeronáutica responsável pelo Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER). O comerciante Francisco Chaves deve ser convidado a falar sobre suas denúncias ao ContilNet. “Eu vou falar porque não tenho rabo preso com ninguém. O que quero é que acidentes como este que vitimou minha família e outras pessoas inocentes possam ser evitadas. O que fazem com a gente que mora no interior e precisa desse tipo de transporte é um verdadeiro crime”, acrescentou.

O acidente de hoje foi o segundo registrado no Acre em cinco meses. Dia 29 de outubro de 2023, num domingo, um avião, também de pequeno porte, com destino a municípios do interior do Amazonas vizinhos ao Acre, caiu a poucos metros da pista do aeroporto de Rio Branco, com menos de um minuto de voo. Todos os passageiros e os pilotos, um total de 12 pessoas, entre elas uma criança de colo, morreram carbonizados.

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