Durante os 24 anos em que esteve internada em hospitais de Vitória, a paciente Clarinha deixou dúvidas sobre toda a sua história. Além do nome, nunca houve informações sobre idade, local onde morava e se tinha parentes no Espírito Santo ou em outro estado. Desde o primeiro momento, a equipe médica teve esperança de encontrar algum parente ou até filho de Clarinha, já que ela tinha uma cicatriz de cesariana, mas isso não aconteceu. A estimativa é que, em 2024, Clarinha tivesse entre 40 e 50 anos.
“Pode ser que ela tenha um filho que esteja vivo. Essa marca de cesárea realmente reforça muito a possibilidade de alguém da família identificá-la. Eu gostaria muito disso”, falou o médico tenente-coronel Jorge Potratz, em 2016, quando o caso ganhou repercussão. Entretanto, nenhum parente ou amigo a visitou até hoje.
O médico que cuidou de Clarinha acredita que ela tenha morrido com 47 anos de idade.
Neste mesmo ano, depois que uma reportagem exibida no Fantástico foi ao ar, mais de 100 famílias procuraram o Ministério Público para identificar Clarinha como uma possível parente desaparecida.
Desse total, 22 casos chamaram mais atenção, pelas fotos ou pela similaridade dos dados próximos ao perfil da mulher internada. Exames de DNA foram feitos e digitais da mulher foram colhidas pela Polícia Federal, mas não houve compatibilidade.
Clarinha morreu nesta quinta-feira (14), em Vitória, ao passar mal após uma broncoaspiração. Ela foi atropelada no Dia dos Namorados, em 12 de junho de 2000, no Centro de Vitória. Foi socorrida por uma ambulância sem documentos, mas chegou ao hospital já desacordada.
Em 2021, uma equipe de papiloscopistas da Força Nacional de Segurança Pública usou um processo de comparação facial e fez buscas em bancos de dados de pessoas desaparecidas com características físicas semelhantes às da mulher. A suspeita é que ela seria uma criança desaparecida em 1976 em Guarapari, que esteve na cidade para uma viagem em família. Mas depois a possibilidade também foi descartada e o caso nunca foi solucionado.
Durante todos esses anos, diariamente, a paciente recebeu a visita de médicos e enfermeiros. O médico tenente-coronel Jorge Potratz foi o responsável pela paciente e seguiu com os cuidados mesmo depois de aposentado. Foi ele quem escolheu o nome Clarinha.
“A gente tinha que chamar ela de algum nome. O nome não identificada é muito complicado para se falar. Como ela é branquinha, a gente a apelidou de Clarinha”, disse Potratz.
Potratz auxiliou a mulher com produtos básicos para os cuidados dentro do hospital, que não são oferecidos para paciente na situação em que ela se encontrava. Cremes, produtos de higiene, limpeza, fraldas eram adquiridos pelo coronel que custeava as compras.
Morte após 24 anos
Nesta quinta-feira (14), a morte de Clarinha foi confirmada. A paciente passou mal ainda pela manhã, teve uma broncoaspiração e não resistiu.
O coma da paciente não identificada era considerado elevado. “A gente classifica o coma em uma escala de três a quinze pontos. Quinze é o paciente acordado e lúcido e três é o coma mais profundo. Ela não tem nenhum contato com a gente e por isso a gente considera um coma de sete para oito”, explicou o médico aposentado.
Clarinha foi atropelada no Dia dos Namorados, em 12 de junho de 2000, no Centro de Vitória. A mulher foi socorrida por uma ambulância, mas não possuía documentos, chegou ao hospital já desacordada e sem ser identificada.
Inicialmente, Clarinha foi levada para o Hospital São Lucas. Um ano depois, foi transferida para o Hospital da Polícia Militar, também na capital, onde permaneceu até o final da vida.