O mês de abril é conhecido como um período alusivo à conscientização ao autismo, sendo relevante devido ao aumento de 22% do número de diagnósticos entre os anos de 2018 e 2022, segundo os censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Tecnologia (IBGE).
Atualmente, as estatísticas apontam que uma para cada 36 crianças com idade de oito anos têm o Transtorno do Espectro Autista (TEA). A professora do curso de psicologia, e mestre na área, da Universidade Federal do Acre (Ufac), Ma. Roberta Alves explica o motivo do número de diagnósticos estar aumentando cada vez mais.
“Com a evolução da psicologia e psiquiatria no entendimento da neurodiversidade, conseguimos entender e acolher melhor os grupos mais subdiagnosticados que são perfis de nível de suporte 1 especialmente em sujeitos do sexo feminino”, esclarece ela.
As causas que levam ao transtorno não são completamente conhecidas, mas de acordo com a pesquisadora, hereditariedade para a neurodiversidade, a predisposição genética e fatores ambientais no período da gravidez e do parto, como pré-eclâmpsia, sofrimento fetal ao nascer e parto prematuro também influenciam.
Alves fala que a melhor capacitação para aplicação das avaliações psicológicas, uma bateria de testes usados em conjunto para a investigação do autismo, assim como maior conhecimento sobre como lidar com adolescentes e adultos dentro do espectro, influenciam avaliar melhor os casos subdiagnosticados.
O diagnóstico mais frequente é de graus de suporte mais elevados, como dois e três, e também em pessoas do sexo masculino. O fato ocorre, pois, de acordo com pesquisas realizadas na área, alguns fatores biológicos diferentes entre homens e mulheres têm influência na incidência do TEA.
Acerca do diagnóstico em mulheres, Alves diz que ele ainda é subnotificado, pois existem muitos fatores sociais inclusos no teste, e que devido a estrutura social existente, meninos e meninas desenvolvem essas habilidades de maneiras diferentes.
“Hoje se sabe que essa prevalência maior em homens está ligada ao fato de que os critérios diagnósticos levam em conta comportamentos mais visíveis em meninos do que em meninas. Sabe-se que meninas possuem maior cognição social e com isso maior capacidade de mascarar ou disfarçar as dificuldades de interação social que ela tem, enquanto meninos têm menos capacidade de mascarar”.
Estudos com adultos também estão crescendo e por isso os diagnósticos tardios cresceram. “Acredito que os diagnósticos tardios contribuíram para o aumento do número de diagnósticos, alavancando nossa melhora no entendimento do autismo. Muitas das pessoas diagnosticadas tardiamente foram prejudicadas pela falta de compreensão da psicologia, psiquiatria e pediatria quando eram crianças”, diz Alves.
Ainda sobre a subnotificação, a professora explica que muitos traços do autismo podem ser confundidos com outras neurodivergências, o que também dificulta a sua identificação.
Além disso, o capacitismo é algo que atrapalha no diagnóstico, pois existe certo receio em abordar o assunto, por medo da reação do paciente ou dos familiares, e às vezes por parte do próprio profissional, que por vezes não considera que TEA é um espectro, e que as pessoas com autismo têm níveis diferentes, apresentando assim necessidades de suporte e apoio diferentes.
“O capacitismo também impacta no diagnóstico errôneo quando o profissional deixa de considerar o autismo como possibilidade, porque a pessoa “é funcional” ou não apresenta estereotipias clássicas, ou seja, não passa pela concepção do próprio profissional que é possível ser autista e ser funcional”.
Acerca dos diagnósticos correlatos, ela explica que as principais comorbidades relativas ao autismo são os distúrbios do sono, transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e depressão. “Muitos autistas possuem bastante agitação noturna, tanto motora quanto de pensamento, e acabam tendo dificuldades para dormir ou para se sentir descansados quando dormem”.
Durante adolescência e vida adulta, além da depressão e TAG, o abuso de substâncias pode aparecer como uma das comorbidades, normalmente sendo ligada ao álcool, já na terceira idade, apesar da pouca pesquisa com autistas idosos, percebesse maior suscetibilidade ao desenvolvimento de perda de funções cognitivas.