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Conheça a primeira mulher do povo Shanenawa a se tornar mestre pela Ufac: “Não vou parar aqui”

Por Vitor Paiva, ContilNet

O Dia dos Povos Indígenas é comemorado nesta sexta-feira (19), criado em 1943 durante a era Vargas, sendo um momento de lembrar e comemorar a diversidade cultural existente, ao mesmo tempo que se presta respeito aos povos originários que aqui já estavam quando os europeus chegaram ao país, a pouco mais de 500 anos atrás.

O reconhecimento da importância da cultura indígena pelo homem branco foi se expandindo com o passar dos anos, chegando ao atual estado, onde, para além de serem focos de estudo de diversas pesquisas e estudos, estes povos adentram os portões da universidade e começam eles mesmos a fazerem ciência.

Edileuda Shanenawa é uma mulher indígena, de 41 anos, graduada em Licenciatura Intercultural, pela Universidade Federal do Acre (Ufac) e se tornou a primeira indígena do povo Shanenawa mestra em Artes Cênicas no estado do Acre. 

Edileuda participou do acampamento Terra Livre 2023, que contou com a participação de aproximadamente seis mil indígenas/Foto: Arquivo Pessoal

Ela conta que suas pesquisas começaram ainda em 2008, quando estudou acerca de uma festividade de seu povo, e como este rito ajudou na escolarização dentro das aldeias. Edileuda explica ainda que até hoje seus estudos têm como objeto principal de estudo o festival.

Durante sua trajetória, a pesquisadora explica que participou da Organização dos Professores Indígenas do Acre (Opiac). “Foi aí que ganhei espaço, tendo minha participação ativa em reuniões. Em 2018 participei da equipe e em 2023 fui eleita a coordenadora”.

Em 2021 ela ingressou no curso de mestrado, e através do seu trabalho, bebida e dança tradicional.

“Eu encontrei dificuldades. A gente sofre preconceito, não temos apoio financeiro, e muitas vezes as coisas se tornam mais difíceis, então eu digo que os estudantes indígenas que estão na universidade são guerreiros, pois muitos não têm recursos financeiros suficientes para se manter”.

Ela se tornou mestra em fevereiro de 2023, e afirma que não pretende parar apenas no mestrado e que buscará maior qualificação, para continuar realizando maiores pesquisas e criando mais materiais que possam ser utilizados como material de pesquisa para outros professores e alunos no futuro.

“Não vou parar aqui, gostaria que as portas que abriram não se fechassem agora, mesmo sendo avó, sendo mãe, aos 41 anos, ainda tenho desejo de dar uma continuidade aos estudos e pesquisa, tenho 14 anos como professora e quero continuar”.

A professora diz que se vê como uma fonte de inspiração para outros indígenas e mulheres para seguirem a carreira acadêmica/Foto: Arquivo Pessoal

Edileuda ainda diz que é importante inspirar outros indígenas e outras mulheres ocuparem cada vez mais os espaços a sua volta. 

“Sou gestora da escola da minha comunidade, coordenadora da Opiac e faço parte de um grupo de trabalho sobre mudanças climáticas e da temática indígena que existe no estado, isso é um avanço, uma quebra de barreira, mostrar que nós mulheres temos a capacidade de chegar onde queremos, de realizar sonhos”, diz a professora.

Edileuda Shanenawa evidencia ainda que a ciência e o ambiente universitário por vezes negligencia o conhecimento e saberes ancestrais .

“Nós consideramos nossos anciões como doutores e mestres (…) Às vezes o homem branco não aceita que os nossos conhecimentos sejam publicados ou que possam ser usados como didático”.

Ela explica ainda que esses materiais podem vir como mudança de paradigmas, mostrando que existem muitos conhecimentos e maneiras de pesquisar e criar conhecimento diferente do que está acostumado.

“Me orgulho do meu caminho e sou muito feliz em ser uma inspiração para o meu povo”/ Foto: Arquivo Pessoal

“Nossa participação na pesquisa mostra que nem sempre só dentro de um laboratório se faz pesquisa. Podemos fazer nas florestas, no meio ambiente, através de nossas práticas culturais e conhecimento ancestral. É diferente da ciência do homem branco, mas que também faz acontecer, então, participar disso, podemos mudar um pouco essa visão, e mostrar algo novo”, pontua.

Acerca de sua trajetória, a mestra diz que se vê como um exemplo para as comunidades indígenas e para as mulheres ao seu redor. “Posso inspirar várias pessoas, várias mulheres, me sinto empoderada, passei por momentos difíceis mas consegui chegar onde queria, nós podemos chegar onde queremos se determinarmos isso, se buscarmos isso, dependendo do esforço de cada um”.

 Por fim, ela diz que se sente orgulhosa de seu caminho, e que se sente feliz em ser uma inspiração para o seu povo. “Sou a primeira mulher Shanenawa a se formar no mestrado na história do nosso povo, mestre em Artes cênicas. Que a minha persistência sirva como inspiração para outras mulheres indígenas que tem esse desejo de estudar e se formar”.

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