No dia do desenhista, data escolhida para homenagear o nascimento de um dos artistas mais conhecidos da história, Leonardo da Vinci, que nasceu no dia 15 de abril de 1452, e também para homenagear todos os profissionais e artistas que encantam com seus traços e criatividade, contaremos a história de Diego Fontenele, 30 anos, desenhista acreano, diagnosticado com autismo na fase adulta, que produz artes visuais desde a adolescência e hoje produz seus trabalhos em materiais reaproveitados.
Para iniciarmos a história, é importante lembrar que este dia celebra o trabalho de desenhistas das mais diversas produções, sejam físicas em papel e lápis, canetas etc, ou artes digitais, técnicas, industriais, abrangendo muitos dos artistas visuais.
O caminho para que Diego se tornasse e se reconhecesse como desenhista foi complexo, pois veio de uma família pobre onde comumente não se tem liberdade para sonhar em trabalhar com a arte, o que causa uma grande desaprovação familiar, ainda que toda a família dele tenha entrado num consenso de que ele tinha predisposição para o desenho.
Ainda assim, desde a infância e a adolescência e até os dias atuais, ele reconhece ter muita aptidão para isso por ser autodidata, nunca parar de treinar e se apaixonar pelo processo e pela obra pronta.
Na fase adulta, Diego recebeu um diagnóstico de autismo. Passou um tempo sem desenhar, mas durante a pandemia encontrou mais predisposição a isso, e hoje em dia, com alguns incentivos e oportunidades que surgiram, ele diz estar no caminho para se profissionalizar.
“O autismo me fez sentir as cores e os traços de maneira diferente, como meu sensorial é meio bagunçado uso isso ao meu favor na hora fazer meus estudos artísticos”, conta.
Diego conta que não enfrenta muitos desafios, pois tem um suporte bem leve, faz o uso de medicamentos para foco e que o ajudam a manter a produção diária, além de preferir não comentar sobre o autismo em sua vida diária. Suas artes são livres, feitas de material reaproveitado, e seus traços possuem um padrão de alinhamento que representa uma mente bastante concentrada.
“Eu chego cedo na Adufac (Associação de Docentes da UFAC) que tem nos servido como ateliê, e passo a selecionar materiais. Esse processo é melhor se estiver bem descansado e bem alimentado [risos], e a partir dos materiais eu penso em temas que estou em foco, como barcos, peixes, lugares… E aí vou fazendo. Sempre produzo mais pela manhã”, conta ele.
Todo o seu dia é dedicado para as artes, principalmente com as exposiçãos se aproximando, o que faz com que o trabalho se extenda até a noite, para que ele trabalhe simultaneamente de forma indireta fazendo a divulgação de sua arte nas redes sociais.
“Tudo pra mim é inspiração para as produções e exposições. As conversas, as músicas, os livros, as fotos, as memórias… Uso de tudo um pouco pra compor meus estudos e projetos”, diz o artista.
Diego é membro original do coletivo artístico Errantes, que nasceu na Ufac para reunir os alunos artistas e possui 9 membros, que são um grupo respeitado porque trabalham e produzem muito para os resultados positivos. Ao todo, são cinco artistas, dois curadores e editores, um do educativo e um da comunicação e marketing.
As exposições são combinadas entre os artistas, e Diego costuma realizar as suas pela Universidade Federal do Acre e em exposições esporádicas, além de fazer amostras de artes durante as semanas acadêmicas.
“Com o coletivo e com as oportunidades que tem aparecido, a visão de sua família até muda, mas ainda há muita descrença. É importante que as pessoas apreciem e participem, mostrando que trabalhar da arte é um trabalho digno”.
A vernissage da próxima exposição do coletivo Errantes será no dia 9 de maio, com continuidade do dia 10 de maio a dia 10 de julho, na galeria de arte Juvenal Antunes, no Calçadão da Gameleira em Rio Branco, o que significa um um grande passo para a carreira de Diego e seus amigos membros do coletivo.
“Não sei dizer se realmente faço algo fora as artes. Eu gosto de caminhar e fazer leituras de literatura, também procuro filmes de terror de gosto duvidoso e no fim tudo isso me serve de inspiração pra estudos de arte. Pretendo seguir num mestrado ou doutorado voltado pras artes, e fazer uma residência artística fora do estado. Hoje em dia, é uma possibilidade bem real tudo isso”, compartilha o artista.
Diego deixa uma mensagem a todos os desenhistas e pessoas que possuem aptidão a esta forma de arte: “Não desistam, as vezes pode parecer difícil demais produzir e estudar e ainda manter uma vida minimamente social, mas insistam, que uma hora a oportunidade vem, porque a minha veio aos 30 anos.. mas veio”, expressa o artista.
Confira alguns desenhos de Diego: