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Em artigo enviado ao ContilNet, Arquilau de Castro Melo pergunta: Sena Madureira merecia?

Por Artigo de Arquilau de Castro Melo

Sempre que se lê sobre a história da cidade de Sena Madureira a informação mais comum é a de que o nome escolhido pelo seu fundador, o general Siqueira de Menezes, foi dado em homenagem a um amigo, igualmente militar, que participara da Guerra do Paraguai (1864-1870).

Essa escassa e singela informação sempre me intrigou, e punha-me a perguntar como pode alguém dar o nome de uma cidade a uma pessoa, só porque fazia parte do seu círculo de amizade. Era algo inusitado considerando que esse amigo não tivera participação alguma na construção da história da anexação do Acre ao Brasil e se tratava de um tenente coronel de hierarquia inferior a do general fundador e que falecera 15 anos antes da cidade receber seu nome.

Desembargador aposentado Arquilau de Castro Melo/Foto: cedida

Esses dias me dediquei a uma pesquisa, buscando entender se a homenagem houvera se dado em razão da amizade entre ambos (fundador e homenageado) e descobri, surpreso, que o tenente-coronel Antônio José de Sena Madureira detinha muito mais méritos para ser homenageado do que sua simples amizade com o general Siqueira de Menezes.

Sena Madureira, coronel do exército, era pernambucano de Recife e se chamava Antônio José de Sena Madureira foi um militar muito estimado, na caserna por ter iniciado uma polêmica entre oficiais do Exército e os generais que comandavam a tropa, ao publicar nos jornais um artigo em que criticava o comando da corporação por admitir reformas propostas pelo Império Brasileiro, que prejudicavam os militares.

O protesto rendeu-lhe punições disciplinares e deu início ao que os historiadores chamam de a QUESTÃO MILITAR, movimento que culminou com a Proclamação da República em 1889.

E mais, o coronel Sena Madureira também era abolicionista e se opunha que os soldados do Exército fossem designados para capturar e prender os negros que fugiam para não serem escravizados. “O Exército não é um capitão do mato”, dizia a referência aos particulares que ganhavam a vida em busca de capturar fugitivos negros.

Enquanto isso, em Fortaleza, o jangadeiro Francisco José do Nascimento, se recusava a transportar escravos para um navio negreiro, que se achava ancorado no Porto da cidade. Esses escravos seriam vendidos no Rio de Janeiro. Essa ousadia paralisou o mercado escravista de Ceará, que foi o primeiro estado a abolir a escravidão, antes mesmo da Lei Aurea. Depois desse episódio o jangadeiro ficou conhecido como “Dragão do Mar” ou “Navegante Negro”, o que levou Sena Madureira, nessa época comandante da Escola de Tiro do Rio de Janeiro a convidá-lo para ir ao Rio de Janeiro, a fim de ser homenageado, atitude que evidentemente, desagradou o Imperador e os militares de alta patente.

Uma multidão esperava pelo “Dragão do MAR” no Porto do Rio de Janeiro e antes do navio atracar, sua jangada foi lançada ao mar, onde ele embarcou para ser saudado pela multidão entusiasmada.

Esse episódio inspirou a música “O Mestre Sala dos Mares” de Aldir Blanc e João Bosco que fez muito sucesso na voz de Elis Regina.

“Há muito tempo nas águas da

Guanabara

O dragão do mar reapareceu

Na figura de um bravo feiticeiro

A quem a história não esqueceu…..”

*Arquilau de Castro Melo é sócio do escritório Castro Melo Advogados e membro da Academia Acreana de Letras.

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