A força-tarefa que apura o envolvimento do PCC em serviços públicos de São Paulo revelou como o grupo criminoso ocultava um patrimônio milionário.
A piscina privativa é só um dos atrativos do apartamento. O espaço de lazer tem televisão de 70 polegadas, mesa para 14 lugares, churrasqueira e um ofurô na varanda.
Em uma loja de carros, uma frota de luxo. São dezenas de veículos, quase todos importados. Tem os blindados. O modelo mais em conta não sai por menos de R$ 300 mil.
A coleção de joias e relógios também chama a atenção pelo valor estimado: R$ 750 mil. Toda essa fortuna está bloqueada por ordem da Justiça.
A força-tarefa da Operação Fim da Linha, que apura o envolvimento do PCC em empresas de ônibus de São Paulo, reuniu indícios de que esses e outros bens foram comprados com dinheiro ilícito – principalmente do tráfico de drogas.
Ao longo dos quase cinco anos de investigação, auditores fiscais identificaram um novo método de ocultação do patrimônio, como explica a superintendente da Receita Federal em São Paulo, Márcia Meng.
“Na verdade, existe uma rede de empresas, como se fosse uma constelação orbitando em volta de algumas pessoas envolvidas, e essas empresas vão mudando a titularidade da propriedade do bem entre elas ou entre pessoas físicas e elas, de maneira que é bastante difícil dizer que esses bens pertençam a alguma dessas pessoas de fato”, explica.
De 2012 a 2024, as empresas investigadas por ligação com o crime organizado adquiriram 205 imóveis. Só as negociações declaradas totalizaram R$ 145 milhões.
Mas, ao comparar esses valores com os critérios usados no pagamento do ITBI, o imposto sobre transações imobiliárias, os auditores verificaram uma diferença de R$ 30 milhões.
Ou seja, o valor efetivamente gasto para compra dos imóveis chegaria a R$ 175 milhões.
Na avaliação dos investigadores, várias outras operações financeiras têm indícios claros de lavagem de dinheiro. Em uma delas, duas empresas investigadas negociaram entre si um terreno por R$ 2 milhões.
Um ano e meio depois, esse terreno, que não recebeu nenhuma benfeitoria, foi vendido por R$ 10 milhões. Os auditores descobriram ainda que os suspeitos não tinham renda suficiente para adquirir tantas propriedades.
Um dos sócios das empresas de ônibus era registrado como motorista, como mostra um crachá apreendido durante a operação da semana passada.
Para justificar o patrimônio milionário, os suspeitos declaravam no Imposto de Renda que possuíam quantias elevadas em espécie – algo incomum nos dias de hoje.
Treze imóveis negociados pela quadrilha ficam na Riviera de São Lourenço, um condomínio de alto padrão no litoral norte de São Paulo. Além disso, quatro suspeitos moravam em um mesmo prédio de alto padrão na Zona Leste de São Paulo.
A Receita Federal acredita que as pessoas que aparecem como moradoras ou mesmo proprietárias desses imóveis são, na verdade, laranjas profissionais, que ganham o direito de usufruir esse patrimônio por ocuparem posições de destaque na hierarquia da facção criminosa.