O poeta e artista visual Omar Salomão cresceu, como muitos brasileiros, ouvindo a voz de Gal Costa (1945-2022). No caso dele, esse ouvir vai para além dos LPs da cantora, uma das maiores deste país. Seu pai, o poeta e agitador cultural Waly Salomão (1943-2003), esteve presente em muitos momentos da trajetória da intérprete.
Ele é um dos idealizadores do histórico show “Fa-Tal – Gal a todo vapor”, no qual foi lançada “Vapor barato”, icônica parceria de Waly com Jards Macalé, e, nos anos 1990, voltou a dirigir a cantora no show “Plural”, apontado pela imprensa como um dos melhores espetáculos da artista.
Omar cresceu e, já adulto, desenvolveu com Gal parcerias tão profícuas quanto às de seu pai com a cantora. A balada “Palavras no corpo”, em parceria com Silva, foi gravada por Gal no álbum “Estratosférica” (tendo sido escolhida como single do mesmo), além de Omar ter assinado, juntamente com Guga Ferraz, as artes de projetos como “Estratosférica ao vivo” e do derradeiro álbum da artista,“Deixa sangrar”. Guga e Omar assinaram também o cenário daquele que foi o último show da cantora, “As várias pontas de uma estrela”.
A instalação, criada com cordas e içada ao alto, é um dos itens expostos por Omar em uma mostra totalmente dedicada à intérprete. “Para Gal” traz uma série de obras – sendo seis delas inéditas – criadas, algumas com a colaboração de Guga, para a cantora ou a partir de sua arte. Um exemplo são as bandeiras usadas no cenário do show “Gal – Coisas sagradas permanecem”, com que Adriana Calcanhotto homenageou a artista em 2023. A exposição será aberta nesta quinta (18), na Galeria Silvia Cintra + Box 4, na Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro.
O trabalho em tecido é uma novidade na trajetória de Omar, que, aos 40 anos, já assinou a individual “Nebula: as sombras das nuvens manchando a cidade” (2015), no Oi Futuro, e participou de mostras como a Bienal de Arte da Bahia.
– Nas bandeiras é possível enxergar a influência das aquarelas no tecido, pendurados nos show da Gal e que, agora, compõem a exposição ao lado das tranças, que transbordam das telas para o teto da galeria – explica o artista, que dedica a mostra a dois nomes da contracultura brasileira: os artistas visuais Luciano Figueiredo e Hélio Eichbauer (1941-2018).
As homenagens são plurais, como o próprio canto de Gal, cujo legado paira por toda a mostra, num resultado híbrido entre a devoção e, claro, a gratidão, como o próprio Omar arremata:
– Essa exposição é um agradecimento a Gal Costa e à sua enorme presença em nossas vidas.
Presença que é sagrada. E, como tal, permanece.