O saudoso professor e desembargador Jader de Barros Eiras, em sala de aula, costumava dizer que, se você está descontente com os políticos, meta a cara vá para o Congresso fazer diferente, melhor.
Alguns poucos fazem isso, mas a grande maioria não quer nem saber. É porque, na realidade, a vida de político é sofrida, dura, embora não queiramos assim pensar, e até achamos uma heresia falar assim.
No jargão popular se diz que as pessoas veem a pinga que se toma, mas não veem o tombo que a pessoa leva. É o caso dos políticos. O que aparece são as benesses, não o sacrifício que se fez para ser eleito e as dificuldades e aborrecimentos para exercer o mandato.
Entre os três Poderes, no Brasil somente o Judiciário não se submete à vontade popular, ao veredito das urnas, que é o concurso público mais difícil, diferentemente de alguns outros países.
E o pior é que há pessoas que pensam que a existência do ser político é porque a pessoa quer, não que seja uma função essencial para o Estado de Direito e a democracia, assim como o professor é necessário para a educação e o médico imprescindível para a saúde.
A Justiça Eleitoral, desde muito tempo, por meio de várias plataformas, conclama e incentiva os cidadãos a se filiarem aos partidos políticos, conforme sua preferência (falar de crença ideológica é uma excrescência), mas a resposta é muito fraca.
Os congressistas e a própria Justiça Eleitoral – que também legisla e muito – chegaram a criar quotas mínimas para mulheres e pessoas negras, como condição para poder se registrar uma chapa de candidatos aos cargos proporcionais, mas não é fácil, e a própria Justiça Eleitoral sabe disso, do desinteresse da população pela vida política partidária.
Os recursos públicos para a vida partidária (Fundo Partidário) e para as campanhas eleitorais (FEFC = Fundo Especial de Financiamento das Campanhas) asseguram cotas financeiras expressivas, para as candidaturas de mulheres e negros, mas também não é suficiente para estimular muitos a se filiarem e disputarem um cargo eletivo majoritário ou proporcional.
Os partidos políticos, de todos os matizes ideológicos, fazem propaganda, divulgam, gastam recursos do Fundo Partidário, convidam para seminários e atos de filiação de jovens, mulheres e negros, todavia são pouquíssimos os que atendem ao chamamento.
É porque a vida de político não é fácil. O fácil é gritar que os políticos ganham muito, não prestam, tem muitas mordomias e não fazem nada. É confortável ficar na arquibancada, comendo cachorro morno e tomando umas quentes, aplaudindo as poucas belas jogadas e xingando quase o jogo todo. O difícil é entrar em campo e mostrar como se faz.
Isto em razão de que a vida política implica em muitas renúncias, e o povo sabe disso, não é tão tapado e ingênuo assim. Foi-se o tempo em que o povo não sabia o que queria, ou, que não sabia em quem estava votando, bem antes ainda das redes sociais.
É que para ser político e futuro candidato não se gasta quase nada do seu próprio bolso, legalmente. Não é para ser diferente? A filiação e permanência em um partido político é de graça. A garantia do cargo para a disputa é absolutamente certa. O procedimento de registro de candidatura pelo partido político e campanha eleitoral são regulados pela Lei Eleitoral (Lei 9.504/97) e Resoluções do Tribunal Superior Eleitoral.
É o debate de ideias, de propostas. Então!
Nenhum político com cargo eletivo está aí sem algum mérito próprio.Sem merecer. A pessoa se submeteu à duras regras. Regras eleitorais são extremamente rígidas, severas. Às vezes tão cruéis que aquele candidato que obteve muito mais voto que outro não é eleito.
A pessoa que entra na política, na vida partidária, por mais que possa não parecer, permanece diuturnamente pensando em política. Sua vida não tem mais sossego. São reuniões partidárias, participação no diretório e até executiva do partido político, presença em atos e atividades de interesse do partido com infindáveis debates e discussões, à noite, no sábado, domingos e feriados. Isto sem contar o principal, a ligação orgânica permanente com sua base, com sua associação, seu sindicato, sua entidade de classe.
Ser político é sair do comodismo, da zona de conforto, seja em que nível for esta zona de conforto. É viver mais para os outros do que para si, esta é a realidade da vida política. É ter gente na sua casa, no seu whatsapp ou em seu gabinete vinte e quatro horas por dia, durante oito dias por semana, sem sossego e sem descanso, pedindo, sempre pedindo.
Sim, há semanas que são de oito dias, na vida política. E dias que são de quarenta e oito horas.
Existe político ruim? Sim, muitos, mas vai dizer que não sabia, quando votou e porque o escolheu? Hoje em dia não dá mais para o povo alegar que não conhecia a vida do candidato, com a força e alcance das redes sociais e as diversas formas de interação.
E caso o povo não saiba, a vida de um candidato eleito, após nomeado e no exercício da função, mais que controlada pelo seu eleitor, se submete a vários órgãos de controle externo, como Ministério Público e Tribunal de Contas, além dos órgãos internos do próprio Poder. Não sem antes passar – inclusive os candidatos que não foram eleitos – por rigoroso processo de prestação de contas de campanha, com graves sanções se não forem prestadas, ou, se forem prestadas mas rejeitadas.
Então, o político tem a cara de sua comunidade, de seu povo. As pessoas também fazem um político bom desanimar e se tornar ruim, de tanto que pedem e por não quererem enxergar o bem que aquele mandatário está fazendo para sua comunidade e seu estado. Muitos políticos enganam o povo, mas muitas pessoas enganam os políticos também.
Então, se não bastam os clamores da Justiça Eleitoral e dos partidos políticos, vocês jovens, mulheres, pessoas negras e indígenas, ouçam pelo menos o professor, meta a cara, se filie a um partido político, se candidate e faça diferente. Participe da vida política, ativamente. Não diga que não tem vocação ou jeito, como desculpa para não entrar na batalha.
Na política você ganha, mas perde mais ainda, se for honesto. Falar mal de político é fácil; falar bem requer coragem, coerência e honestidade.
Gilson Pescador, advogado.