Uma menina de 13 anos que escondeu dos pais que havia sido mordida por um cachorro morreu de raiva dois meses depois. Jamaica Star Seraspe disse que havia se raspado em arame de metal, pois temia decepcioná-los se contasse a verdade. A adolescente voltava da escola para casa, no distrito de Tondo, em Manila, nas Filipinas, quando o cachorro vira-lata a mordeu em 9 de fevereiro. Em vez de procurar atendimento médico imediato, ela decidiu mentir sobre o incidente.
No entanto, somente dois meses depois, quando Jamaica desenvolveu sintomas graves, incluindo febre, dor nas costas, fadiga e dificuldades para beber água, que ela admitiu à mãe Roselyn Saraspe o que havia acontecido. Jamaica foi internada no Hospital San Lazaro em 5 de abril, onde as enfermeiras tiveram que conter seus membros porque ela estava inquieta e continuava se debatendo em sua cama. Roselyn disse que “sentiu seu coração sendo esmagado” ao ver sua filha mais nova ficar mais fraca e espumando pela boca, antes de sucumbir ao vírus em 6 de abril.
“Não posso aceitar a morte da Jamaica. É difícil porque ela foi tirada de nós tão repentinamente. Ela me disse que não podia beber água. Ela disse acreditar que poderia ter raiva porque foi mordida por um cachorro em fevereiro. Perguntei por que ela não me contou imediatamente. Ela continuou pedindo desculpas. Eu disse a ela que não estava brava com ela, mas poderíamos tê-la ajudado mais cedo”, disse a mãe, inconformada.
“Quando ela me perguntou se ia morrer, fiquei com medo. Queria entrar em histeria”, lamentou. A mãe enlutada disse que ficou preocupada pela primeira vez quando Jamaica desenvolveu febre e dores nas costas em 4 de abril, que ela inicialmente pensou ser devido à uma infecção urinária. A febre diminuiu na manhã seguinte, mas voltou com força total antes do meio-dia, quando foi levada ao hospital. Seu relatório de autópsia mostrou que ela havia morrido de encefalite rábica, que é quase sempre fatal quando os sintomas começam a aparecer.
As autoridades da vila disseram que o cachorro que mordeu Jamaica também atacou outras sete pessoas em fevereiro. Ele foi capturado, mas morreu em uma clínica veterinária oito dias depois. Roselyn alertou outros pais em um post online em 18 de abril: “Para outros pais, esteja consciente se seu filho está agindo de forma estranha. Ensine seus filhos a levar arranhões de gato e mordidas de cachorro a sério, e a contar aos adultos imediatamente. A raiva não é brincadeira. É fatal. Não leve isso na brincadeira, para que os outros possam evitar o que minha filha viveu. E aos donos de animais de estimação, por favor, sejam responsáveis por seus animais. Certifique-se de que eles estão vacinados para que não causem danos a outras pessoas. Apesar de tudo, estou orgulhosa da minha filha, porque ela tentou ser corajosa durante toda a provação.”
Bilhetes antes de morrer
Jamaica narrou os dias antes de sua morte em mensagens comoventes que enviou para sua própria conta. Ela escreveu: “Na verdade, eu sei que tenho raiva. Eu só não podia contar para a mamãe porque eu não queria que ela se decepcionasse. Naquele dia, minha mãe achou que eu tinha uma infecção urinária, mas eu não sabia se era realmente isso ou raiva”. “Pesquisei muito sobre raiva quando fui mordida em 9 de fevereiro. Desde então, eu não podia aceitar que um dia me tornaria raivosa. É tarde demais para eu ser vacinada”, lamentou.
Em outro conjunto de mensagens escritas em 5 de abril, Jamaica disse: “Tive dificuldade para respirar. Comecei a pesquisar no YouTube sobre humanos raivosos. Poxa, aquelas crianças… Eles vão literalmente morrer lenta e dolorosamente, e a hidrofobia que eles estavam experimentando é a mesma que a minha. Não consigo acreditar que uma adolescente como eu passaria por isso. Se eu for hospitalizada, por favor, me mande para o coma em vez de ficar consciente com dor”.
A adolescente continuou: “Vou sentir muita falta de me relacionar com meus entes queridos. Adorei. Este é o meu último adeus. Lembre-se: eu estarei ao seu lado, não importa o que aconteça. A razão pela qual escrevi é para que se lembrem da minha morte e para lembrar as pessoas de estarem atentas aos animais que podem transmitir esta doença. Só isso. Adeus, mundo”.
Sobre a raiva
De acordo com o Ministério da Saúde, a raiva é uma doença infecciosa viral aguda grave, que acomete mamíferos — inclusive o homem — e caracteriza-se como uma encefalite (inflamação do cérebro) progressiva e aguda. É causada pelo Vírus do gênero Lyssavirus, da família Rabhdoviridae, e sua letalidade é próxima a 100%. Ela é transmitida ao homem pela saliva de animais infectados, principalmente por meio de mordidas, mas pode ser transmitida também por meio de arranhões ou lambida desses animais.
Em humanos, os sintomas podem incluir mal-estar geral, pequeno aumento de temperatura, anorexia, cefaleia (dor de cabeça), náuseas, dor de garganta, irritabilidade e sensação de angústia. A infecção da raiva progride, surgindo manifestações mais graves e complicadas, como febre, delírios e espasmos involuntários ou convulsões.
Quando um caso é confirmado, os hospitais utilizam o chamado protocolo de tratamento de raiva humana, que é baseado na indução de coma profundo, uso de antivirais e outros medicamentos específicos. “A raiva é uma doença quase sempre fatal, para a qual a melhor medida de prevenção é a vacinação pré ou pós exposição. É importante salientar que nem todos os pacientes de raiva, mesmo submetidos ao protocolo, sobrevivem”, ressaltou o órgão. Além de manter sempre a vacinação em dia, é essencial também levar os animais domésticos, como cães e gatos, para receber o imunizante.