No Acre, empresa coleta óleo de cozinha usado de restaurantes para a reciclagem; conheça

Serviço inovador capta até 3 mil litros do produto por mês; parte vira sabão caseiro e outra é exportada para a produção de tintas e biodiesel, por exemplo

Há 18 meses no mercado de bioeconomia, uma empresa inova no conceito de reciclagem de óleo de cozinha no Acre. O objetivo é recolher o produto usado por dezenas de restaurantes, pizzarias, redes de fast-foods e outros estabelecimentos que comercializam lanches em Rio Branco, para reaproveitá-lo, enviando a maior parte dele para fora do estado, enquanto que uma fração é utilizada aqui mesmo, na fabricação de sabão do tipo caseiro pela própria empresa.

Trabalhadores carregam picape com o produto que será processado na empresa e exportado para o sudeste do país/Foto: Juan Diaz/ContilNet

A Duque Sustentabilidade, idealizada pela administradora de empresas e contabilista acreana Katiucya Manfredini, coleta, filtra, decanta, armazena e envia pelo menos 3 mil litros de óleo de cozinha por mês para a indústria de reciclagem no sudeste do país.

Trata-se de um serviço essencial para o meio-ambiente, uma vez que se descartado de qualquer jeito, o produto pode contaminar o solo e a água. Para se ter ideia do ganho ambiental com a renovação do óleo, basta apenas um litro da substância para que pelo menos 20 mil litros de água sejam arruinados para sempre, ficando impróprios para consumo e para outros fins, segundo os ambientalistas.

Profissionais de empresa de reciclagem de óleo utilizado em frituras removem o produto já sem utilidade em tonéis/Foto: Juan Diaz/ContilNet

“Já ele sendo reciclado, podemos então obter o biodiesel, produzir tintas, além do próprio sabão e de muitos outros produtos”, explicou Manfredini para o Contilnet, enquanto acompanhava o Alessandro e o Luis Vitor, dois de seus funcionários, na coleta de óleo na praça de alimentação de um grande aglomerado de estabelecimentos culinários de Rio Branco, no final da tarde desta terça-feira (23).

Eliton Nascimento Pereira, que é gerente de uma unidade de uma rede conhecida de fast-food no local, afirma que depois que a empresa se tornou parceira, o problema do acondicionamento e do descarte do óleo utilizado na fritura de carnes e de salgados acabou de uma vez por todas.

Eliton Pereira, gerente de comércio de fast-food, afirma que a destinação do óleo era o caminhão da coleta de lixo/Foto: Juan Diaz/ContilNet

“Até para os nossos amigos garis, era difícil jogar no caminhão. Imagina você despejando em média 120 litros de óleo por mês no meio-ambiente, de qualquer jeito. Isso não é bom”, pontua Pereira.

Em Rio Branco, segundo Katiucya Manfredini, não existe uma lei que regule a destinação correta do óleo de cozinha na natureza. Essa situação acaba fazendo com que as pessoas descartem o produto de qualquer modo, jogando na pia ou, muitas vezes, até no vaso sanitário.

Katiucya Manfredini: “Ideia foi criar um modelo de negócio que pudéssemos contribuir com o meio-ambiente/Foto: Juan Diaz/ContilNet

No solo, quando o produto entra em estado de decomposição, libera gases. Entre eles, estão o metano que contribui para o aumento da temperatura do planeta e é um dos causadores do efeito estufa que prejudica o equilíbrio climático.

Óleo de cozinha usado é colocado em barris de plástico e levado pela empresa para a filtragem, decantação e envio para a indústria de reciclagem/Foto: Juan Diaz/ContilNet

Já na água, a sua densidade menor faz com que o óleo repouse, por assim dizer, na superfície da água, impossibilitando a penetração do oxigênio e da luz em rios, lagos e igarapés. Por causa disso, essa condição impactará negativamente na vida subaquática desses ambientes.

Na pandemia, família teve de fechar outra empresa, mas contou com o Sebrae para recomeçar

A empresa administrada por Katiucya Manfredini tem o esposo, Alexandre Manfredini – primo do saudoso Renato Russo, sim, ele mesmo: a lenda do rock nacional –, além de outros familiares como participantes do empreendimento.

Katiucya e os funcionários Alessandro e o Luis Vitor. Empresa coopera para que a destinação do óleo de cozinha usado seja a melhor possível/Foto: Juan Diaz/ContilNet

A ideia de criar um negócio familiar e inovador na área da bioeconomia surgiu após a empresa de ônibus para transporte escolar e de caminhões de cargas pesadas ser encerrada por causa da pandemia de Covid-19, que por 11 meses causou prejuízos severos ao lucro da companhia.

“Eu disse para o meu pai que deveríamos fechar a empresa antes de ela se deteriorar por completo. E assim, fizemos, mas já pensando em criar esta, que já tem 18 meses de vida”, relembra Manfredini, que também representa no Acre o Conselho Federal de Contabilidade. Sua expertise nesta área permitiu com que ela desse um salto grande na realização do sonho de criar a nova empresa.

Óleo de cozinha é recolhido para reciclagem; dezenas de estabelecimentos de Rio Branco já colaboram com essa atividade/Foto: Juan Diaz/ContilNet

A Duque Sustentabilidade teve também o apoio do Programa Inova Amazônia, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, o Sebrae. Explica a empreendedora que pelo menos 20 startups, incluindo o seu negócio, receberam o suporte necessário do Sebrae para crescer e se estabelecer como é hoje.

Com relação aos investimentos de capital, lucro e distribuição entre os seus colaboradores, ela prefere manter em segredo. No entanto, afirma que são ganhos alguns centavos por litro captado e processado. “Nós tentamos, inclusive, abraçar o ramo de garrafas pets também, por exemplo, mas infelizmente este ainda é um ramo pouco rentável no país e que terá de ser valorizado a cada dia, se levarmos em conta o ganho recebido pelo planeta com a reciclagem desses produtos”, assevera a empresária.

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