Há 18 meses no mercado de bioeconomia, uma empresa inova no conceito de reciclagem de óleo de cozinha no Acre. O objetivo é recolher o produto usado por dezenas de restaurantes, pizzarias, redes de fast-foods e outros estabelecimentos que comercializam lanches em Rio Branco, para reaproveitá-lo, enviando a maior parte dele para fora do estado, enquanto que uma fração é utilizada aqui mesmo, na fabricação de sabão do tipo caseiro pela própria empresa.
A Duque Sustentabilidade, idealizada pela administradora de empresas e contabilista acreana Katiucya Manfredini, coleta, filtra, decanta, armazena e envia pelo menos 3 mil litros de óleo de cozinha por mês para a indústria de reciclagem no sudeste do país.
Trata-se de um serviço essencial para o meio-ambiente, uma vez que se descartado de qualquer jeito, o produto pode contaminar o solo e a água. Para se ter ideia do ganho ambiental com a renovação do óleo, basta apenas um litro da substância para que pelo menos 20 mil litros de água sejam arruinados para sempre, ficando impróprios para consumo e para outros fins, segundo os ambientalistas.
“Já ele sendo reciclado, podemos então obter o biodiesel, produzir tintas, além do próprio sabão e de muitos outros produtos”, explicou Manfredini para o Contilnet, enquanto acompanhava o Alessandro e o Luis Vitor, dois de seus funcionários, na coleta de óleo na praça de alimentação de um grande aglomerado de estabelecimentos culinários de Rio Branco, no final da tarde desta terça-feira (23).
Eliton Nascimento Pereira, que é gerente de uma unidade de uma rede conhecida de fast-food no local, afirma que depois que a empresa se tornou parceira, o problema do acondicionamento e do descarte do óleo utilizado na fritura de carnes e de salgados acabou de uma vez por todas.
“Até para os nossos amigos garis, era difícil jogar no caminhão. Imagina você despejando em média 120 litros de óleo por mês no meio-ambiente, de qualquer jeito. Isso não é bom”, pontua Pereira.
Em Rio Branco, segundo Katiucya Manfredini, não existe uma lei que regule a destinação correta do óleo de cozinha na natureza. Essa situação acaba fazendo com que as pessoas descartem o produto de qualquer modo, jogando na pia ou, muitas vezes, até no vaso sanitário.
No solo, quando o produto entra em estado de decomposição, libera gases. Entre eles, estão o metano que contribui para o aumento da temperatura do planeta e é um dos causadores do efeito estufa que prejudica o equilíbrio climático.
Já na água, a sua densidade menor faz com que o óleo repouse, por assim dizer, na superfície da água, impossibilitando a penetração do oxigênio e da luz em rios, lagos e igarapés. Por causa disso, essa condição impactará negativamente na vida subaquática desses ambientes.
Na pandemia, família teve de fechar outra empresa, mas contou com o Sebrae para recomeçar
A empresa administrada por Katiucya Manfredini tem o esposo, Alexandre Manfredini – primo do saudoso Renato Russo, sim, ele mesmo: a lenda do rock nacional –, além de outros familiares como participantes do empreendimento.
A ideia de criar um negócio familiar e inovador na área da bioeconomia surgiu após a empresa de ônibus para transporte escolar e de caminhões de cargas pesadas ser encerrada por causa da pandemia de Covid-19, que por 11 meses causou prejuízos severos ao lucro da companhia.
“Eu disse para o meu pai que deveríamos fechar a empresa antes de ela se deteriorar por completo. E assim, fizemos, mas já pensando em criar esta, que já tem 18 meses de vida”, relembra Manfredini, que também representa no Acre o Conselho Federal de Contabilidade. Sua expertise nesta área permitiu com que ela desse um salto grande na realização do sonho de criar a nova empresa.
A Duque Sustentabilidade teve também o apoio do Programa Inova Amazônia, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, o Sebrae. Explica a empreendedora que pelo menos 20 startups, incluindo o seu negócio, receberam o suporte necessário do Sebrae para crescer e se estabelecer como é hoje.
Com relação aos investimentos de capital, lucro e distribuição entre os seus colaboradores, ela prefere manter em segredo. No entanto, afirma que são ganhos alguns centavos por litro captado e processado. “Nós tentamos, inclusive, abraçar o ramo de garrafas pets também, por exemplo, mas infelizmente este ainda é um ramo pouco rentável no país e que terá de ser valorizado a cada dia, se levarmos em conta o ganho recebido pelo planeta com a reciclagem desses produtos”, assevera a empresária.