Quem é o fisiculturista vegano que desafia histórico para virar profissional

Terceiro colocado no Arnold Brasil, Guilherme Abomai tem dieta diferente dos concorrentes e deixou de ingerir proteína animal há dois anos: "Ser fisiculturista vegano é nadar contra a maré"

A rotina de (quase) todo atleta de fisiculturismo, para quem vê de fora, parece a mesma: ingerir uma quantidade elevadíssima de proteína todos os dias, dosar o carboidrato e investir em muito treino. Para Guilherme Abomai, não. O fisiculturista, ainda em busca de seu cartão profissional do esporte, decidiu tirar do seu dia a dia toda a alimentação que tenha origem animal.

Por causa principalmente de problemas estomacais, Abomai, há dois anos e meio, virou vegano. Vegana é a pessoa que não ingere absolutamente nada que tenha origem animal. Ovo, leite, manteiga, carne, frango, peixe… Tudo o que o fisiculturista, terceiro colocado no Arnold Classic no Brasil, no início do mês, ingere tem origem vegetal. Ele compete na categoria “open”, a principal, com atletas mais pesados.

– Ser fisiculturista vegano é nadar contra a maré. Eu tive que repensar toda a minha dieta, para ter uma dieta vegetal que suprisse a necessidade de um fisiculturista. É possível e é muito fácil. Além disso, traz muito mais vantagens. Então, você tem melhoras na sua performance, na sua estética, na sua pele. Você também consegue uma cintura mais amarrada, que é uma coisa que o fisiculturista se preocupa bastante – disse, ao ge, Guilherme Abomai.

– Eu sofro (preconceito) até hoje, porque existe um sentimento coletivo que leva você a acreditar que uma proteína vegetal é inferior. Isso não é verdade. É uma bobagem. Existem estudos recentes que rebatem todos os tipos de argumentos. Não falta proteína.

Guilherme Abomai — Foto: Reprodução / Instagram

Guilherme Abomai — Foto: Reprodução / Instagram

Mas como é a dieta de um fisiculturista vegano? Ramon Dino, por exemplo, o mais popular fisiculturista brasileiro neste momento, é onívoro (come de tudo). Ovos, carne magra, frango e outros derivados da proteína animal fazem parte da rotina. Para Abomai, é bem diferente.

– Eu vou falar aqui a respeito da minha preparação para o campeonato, mais próximo do campeonato. Comi bastante tofu, que é um alimento não tão comum, mas você acha perto da sua casa. É rico em proteína. Bastante fruta. Banana, caqui, aveia, maçã. Uso proteína vegetal em pó, que vem do arroz, da ervilha, da soja. Uso um alimento novo, que é a carne vale, feita de feijão carioca e soja. É rico em proteína, tem baixo carboidrato. Além do arroz, das batatas, das folhas, feijão, lentilha, jiló… – explicou.

– Eu também passei anos achando que eu estava seguindo uma dieta saudável, comendo ovos, frango e arroz. Até que num ponto da minha carreira eu tive uma distensão abdominal muito grande, tive refluxo e tomei remédio para o estômago por dez anos. E foi por meio da dieta vegetal que eu me curei. Só me trouxe benefícios. Recomendo que as pessoas consigam fazer isso para ter benefícios também.

Guilherme Abomai e nutricionistas — Foto: Arquivo pessoal

Guilherme Abomai e nutricionistas — Foto: Arquivo pessoal

Os “pais” de Abomai no veganismo são os nutricionistas Felipe Testoni e Alessandra Luglio. Os profissionais, que também são veganos e autores do primeiro Guia de Nutrição Esportiva Vegana, da Sociedade Vegetariana Brasileira, explicam as vantagens da mudança de hábito.

– O primeiro ponto que a gente vê, acompanhando pacientes em transição, é que eles notam uma melhor digestão, porque alimentos de origem animal têm muita gordura. Isso faz a digestão ficar muito morosa, muito lenta. Não tem tantas fibras. E essa questão de uma digestão lenta faz com que as pessoas tenham mais moleza, cansaço. Eu fiz muita transição para muitos atletas.

– Tem muitos que treinam duas vezes por dia. Treinavam de manha, tinham um cansaço depois do almoço e demoravam para conseguir treinar de novo. Um vegetariano ou vegano tem uma digestão mais facilitada, isso faz com que reduza essa letargia. Aí você está pronto para a vida muito mais rápido. Esse mito de achar que o vegetariano vai ficar mais fraco é porque aprendemos que os alimentos de origem animal são mais importantes – explicou Alessandra Luglio.

E quanto um fisiculturista vegano precisa comer? Testoni conta que a quantidade de refeições numa dieta para um atleta como Abomai é a mesma de quem é onívoro, mas a construção dos pratos pode impressionar um pouco pelas quantidades.

Abomai ao lado de Filipe e Alessandra — Foto: Bruno Giufrida

Abomai ao lado de Filipe e Alessandra — Foto: Bruno Giufrida

– Ele faz o mesmo número de refeições de outro atleta de fisiculturismo. Se o volume vai ser maior ou não, depende das escolhas alimentares. Normalmente, consumindo uma quantidade de feijões, por exemplo, o volume do prato fica enorme, mas existem estratégias para facilitar. Fazer batidas no liquidificador, usar as castanhas, sementes, as pastas de amendoim, óleos vegetais. Ele usa sucos concentrados de frutas, como de uva. Isso faz com que ele dê conta no volume de comida.

Muito bem qualificado em torneios amadores, como foi em sua participação no Arnold Classic, Guilherme Abomai luta pelo cartão profissional para poder se tornar um fisiculturista oficialmente profissional e competir ainda mais.

– Eu peguei o top3 aqui no Arnold, mas vou estar em outubro no Mr. Olympia, que é organizado pelos mesmos organizadores (a Savaget Produções). Lá eu vou lutar pelo meu cartão profissional.

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