Um pedaço do nordeste no Acre: feira traz o melhor da gastronomia nordestina e encanta acreanos

Na exposição no Via Verde há também a pimenta mais ardida do mundo e, se ingerida em exagero, pode até matar um ser humano

Quem vive no coração da planície amazônica, na parte mais ocidental da região onde se localiza o Acre e sente saudades do clima litorâneo e das guloseimas nordestinas, apesar de mais quase 6,5 mil quilômetros dessas ilhas de distâncias de Rio Branco para João Pessoa, na Paraíba, poderá, por esses dias, dar um pontapé no saudosismo e se deliciar com uma feira típica no Via Verde Shopping.

Feira foi montada no Via Verde Shopping/Foto: ContilNet

Trata-se de mais uma edição da “Feira Nordestina”, uma exposição culinária iniciada no local em 24 de março e que deve se estender por todo o mês de abril, trazendo para esta parte do coração da Amazônia um bom pedaço, talvez o mais doce e em alguns momentos mais ardida, da cozinha do Nordeste, mais precisamente a da Paraíba.

A Feira percorre todo o país e já esteve também no exterior, na Itália, Espanha, Holanda, Suíça, enfim, pedaços do Nordeste brasileiro conquistando o paladar exigente da velha Europa. Também não seria para menos: na parte mais adocicada da Feira, são apresentados doces de castanha de caju, de abóbora, de leite, goiabada, chocolate, banana, milho – enfim, 14 tipos de doces e uma infinidade de sabores capazes de dar água na boca de quem quer que seja e, claro, de causar um verdadeiro inferno para portadores de diabetes e outras doenças para os quais os doces não são recomendados.

Há ainda os chamados bolos de rolo e o doce marroquino, o qual, como o nome sugere, vem da cozinha do Marrocos. Para acompanhar, ainda há castanhas de caju caramelizadas com os mais diversos sabores. Há ainda uma infinidade de 20 sabores de licor à base de frutas conhecidas, como Jenipapo, e outras nem tanto.

Mas não é só de doces que vive ou se apresenta nesta feira que enche os olhos e faz salivar a boca das pessoas por onde passa. Ali também está exposta, entre molhos de pimenta diversas, a Carolina Reaper (Ceifador da Carolina), originária de Carolina do Sul, nos Estados |Unidos, é uma variedade da espécie Capsicum chinense, resultado de um cruzamento botânico entre Habanero e Naga Bhut Jolokia, originárias de Trinidad e Tobago, na África. É tida como a pimenta mais ardida do mundo e, em grandes quantidades, pode até causar danos à saúde de um ser humano.

Pimentas de diversos lugares chama a atenção na feira/Foto: ContilNet

A propósito, o nome da pimenta evoca uma lenda inglesa sobre a personificação da própria morte. É desde 2013, considerada pelo Guiness Book como a mais ardida do mundo. A picância da Carolina Reaper foi comprovada após análises feitas na Universidade Winthrop na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Na ocasião, ela atingiu 1.569.300 pontos na escala Scoville – medida utilizada para determinar o nível de ardência das pimentas. Hoje em dia varia de 1.500.000 e pode chegar a 2.000.000 de SHUs.
A mais comum é a vermelha, mas existem outras variedades como a amarela, também chamada de pêssego, e a chocolate.

O consumo é indicado para quem já está acostumado com pimentas fortes. Porém pode ser degustada por qualquer pessoa, desde que com moderação e responsabilidade. Os problemas costumam surgir quando as pessoas se atrevem a morder a fruta, sem ter o hábito ou a tolerância.

No caso de um exagero ou acidente com a pimenta, apesar da ardência e desconfortos que pode causar, não existe um risco de vida envolvido. Quem já passou pela ardência, no entanto, diz que a sensação é de morte.

Alguns setores da medicina recomendam que comer pimenta de qualquer tipo, nuclear ou as pimentas de sabor, traz inúmeros benefícios para a saúde. Segundo a literatura médica, as pimentas possuem efeito antioxidante, que previne o envelhecimento precoce e doenças crônicas, como o aparecimento de células cancerígenas. Tem efeito termogênico acelerando o metabolismo, contribuindo para a perda de peso e ajudando na melhora do humor e no combate à depressão.

O gosto e a exposição da pimenta aparentemente perigosa numa feira predominada por doces produzidos em tamanho família, alguns pesando mais de dez quilos de puro sabor, revela a origem do expositor e organizador do evento.

O baiano Mário Márcio Ferreira da Costa de 51 anos, o organizador da feira, é soteropolitano de Salvador e, como tal, sempre teve um pé na cozinha da mãe, provando suas iguarias e molhos Pai de quatro filhos, três de um primeiro casamento, e casado com Rafaela Santos da Silva, de 32 anos, o baiano vive na Paraíba, em João Pessoa, onde produz as iguarias expostas país a fora. “Dar muito trabalho. Há doces que você põe na panela de cobre, no fogo, e tem que mexer sem parar por 16 horas a fios, sem interrupção em nenhum momento, para atingir o ponto certo”, ele revela. “Não é uma brincadeira. Isso é uma empresa”, define.

“Não é uma brincadeira. Isso é uma empresa”, disse o organizador/Foto: ContilNet

De fato, é uma empresa, com pelo menos cem funcionários, dos quais oito estão no Acre participando da Feira. Mário Márcio também não parece o feirante tradicional. Inteligente, conversador, bem articulado, vai ganhando fregueses contando um pouco de sua história e como fabrica seus doces e outras iguarias. Estudou, segundo ele, até o terceiro ano de medicina, em cujo vestibular passou aos 15 anos de idade. Mas, de família pobre, com irmãos mais novos a sustentar e, para ajudar aos pais, descobriu que o comércio, no qual já trabalhava desde os 12 anos, era o seu caminho.

A vida perdeu talvez um bom médico, mas ganhou um doceiro de mão cheia. Boa degustação.

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