Ao ContilNet, psicóloga explica quais sinais podem indicar que crianças estão sofrendo abuso sexual

Samara disse ainda que nos casos em que há adoecimento físico quando a criança passa por algum abuso

À primeira vista, os sinais de abuso sexual infantil podem parecer silenciosos, mas não são. Neste Maio Laranja, mês que é marcado pela campanha em combate ao abuso e à exploração sexual infantil no Brasil, o ContilNet conversou com a psicóloga Samara Pinheiro, que atuou na área social e acompanhou diretamente crianças e adolescentes que sofreram algum tipo de violação.

Formada há 7 anos em Psicologia, com CRP 24/02541, a profissional já acompanhou diversas crianças quando trabalhou no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), em Rio Branco. Ao ContilNet, a psicóloga clínica revelou que os sinais estão, principalmente, na mudança de comportamento da criança ou adolescente.

Samara é formada em Psicologia desde 2017 e atua na psicologia clínica/Foto: Cedida

“Geralmente, começa com alterações comportamentais. A criança vai ter uma dificuldade maior para poder falar. Elas ainda não têm essas habilidades desenvolvidas e assertivas para poder chegar e falar como estão se sentindo. O que acontece é que, geralmente, as crianças começam com um comportamento agressivo, introspectivo, começam a ter uma mudança de comportamento que antes ela não tinha em relação à vergonha, constrangimento. Um dos principais pilares é o comportamento da criança”, explicou Samara.

A psicóloga disse ainda que quando trabalhou na área social, o acompanhamento era mais voltado para o familiar do que para o clínico, pois já eram de crianças que haviam sido afastadas do meio em que aconteceu a violação. “Quando nós vamos observar se tem alguma coisa errada, se tem acontecido algo, outra situação que chama atenção são os adoecimentos psicossomáticos, que são causas emocionais que acabam indo para o corpo, para o físico. São crianças que podem apresentar transtornos gastrointestinais, que são vômitos, dores abdominais, mas que pode ter um componente orgânico”, explicou.

Samara revelou também que nos casos em que há adoecimento físico quando a criança passa por algum abuso, os pais levam em diversos médicos e fazem exames, mas não é encontrado nada orgânico na criança, e por isso, é chamado de psicossomático, pois é uma situação emocional.

Crianças que podem ter passado por algum abuso pode apresentar até adoecimento físico/Foto: Reprodução

Segundo a psicóloga, há uma outra questão sobre o comportamento da criança que pode ter passado por uma situação de abuso. “São comportamentos sexuais como gestos, falas e até posições. Esses são os pilares que apontam que a criança passou ou pode estar passando por algum tipo de violação de direito”, ressaltou.

Cenário no Acre

Ao ContilNet, a psicóloga disse que o número de pessoas que passaram por algum tipo de abuso sexual é grande. “Infelizmente, levando até para o lado adulto, é muito difícil atender uma pessoa em clínica particular e até mesmo no público que não tenha passado por algum tipo de situação assim na infância. Isso tem consequências”, disse.

Segundo a psicóloga, as consequências vão variar de acordo com a idade da pessoa, desde a infância até a idade adulta. Os dados apontam ainda que, geralmente, são pessoas próximas, como tios, padrastos, madrastas ou vizinhos que abusam de crianças ou adolescentes. Além disso, a maior parte das crianças que apresentaram denúncias de violações de direitos durante os atendimentos de Samara foram entre as faixa etárias de 4 a 10 anos e adolescentes de 12 a 17 anos.

A psicóloga alertou ainda para que as conversas sejam realizadas com as crianças nos ambientes que elas frequentam, como casa e escola. “É importante conversar, orientar. Essas conversas ajudam as crianças e adolescentes a entenderem o que é errado”, explica.

A conversa entre responsáveis e crianças é uma das chaves para a prevenção e o combate aos crimes sexuais.

Crime de estupro de vulnerável

A tipificação do estupro de vulnerável está prevista na Lei 12.015/2009, que prevê pena de até 15 anos de reclusão, se a vítima tiver menos de 14 anos. Se a vítima morrer em decorrência do crime, a pena pode chegar aos 30 anos de reclusão.

Denuncie

O Disque-denúncia Nacional de Combate ao Abuso e à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes tem novo número: 100. O serviço é diário, inclusive feriados, das 8 às 22h.

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