Um bebê quebrou a clavícula durante o parto na “maternidade de lona”, onde funciona a Maternidade Nossa Senhora de Nazareth, em Boa Vista. De acordo com a mãe, a jovem Yhorrana Larislayne da Silva, de 18 anos, o médico foi negligente durante o procedimento: “o que eu sinto agora é que eu quero Justiça”, disse a mãe ao g1.
O bebê nasceu no dia 1º de maio, durante parto normal. A clavícula quebrou, de acordo com a mãe, no momento em que o médico puxou a cabeça para forçar o parto. Um exame de raio-x confirmou a fratura.
Em nota ao g1, a Secretaria de Saúde, responsável pela maternidade, informou ter aberto sindicância para investigar a denúncia, e acrescentou que houve formalização da reclamação pelos familiares na Ouvidoria da unidade.
“Eles pediram para eu fazer força, e meu filho nasceu às 20h44. Durante o parto, a contração passou e fiquei sem forças para continuar. O médico teve que intervir, puxando o bebê e quebrou clavícula”, resumiu a mãe.
De acordo com a jovem, além da fratura do filho, ela também teve problemas quando deu entrada — sentindo fortes dores — na maternidade. Reclamações que são frequentes na única maternidade com UTI Neonatal no estado.
O dia da internação
Yhorrana disse que deu entrada na unidade no dia 1º, às 18h sentindo fortes dores. Como tinham muitas mulheres na fila, precisou aguardar. Ela foi examinada uma hora depois, mesmo pedindo urgência.
“Aguardei por atendimento com muita, muita, muita dor, havia muita gente na fila. Solicitei atenção devido à intensa dor que sentia, mas me foi dito para esperar, pois havia outras pessoas na mesma situação. Por volta das 19 horas, finalmente fui examinada por um médico e constataram que eu estava dilatada 7 centímetros”, contou a jovem.
Nesse momento, ela foi encaminhada para a sala de pré-parto, mas uma familiar insistiu que ela deveria ir direto para a sala de parto, o que acabou acontecendo. No local, foi identificado que ela estava com pressão alta. A jovem lembrou que “gritava” por ajuda para a equipe médica.
Por volta das 20h30, a acompanhante chamou os médicos para relatar que o bebê estava nascendo. “Eles vieram, pediram para eu fazer força, e meu filho nasceu às 20h44”.
“Quero providência. O atendimento na entrada é horrível. Quando as mãezinhas chegam lá com dor, os médicos ficam falando que é para esperar, porque não tem espaço. É horrível, horrível, horrível, horrível. E na hora do parto, se a gente não obedecer, os médicos nos deixam lá sozinha. É terrível”, disse.
À meia-noite, Yhorrana foi transferida para o leito. Na manhã seguinte, ao dar banho no filho percebeu que algo estava errado e decidiu esperar a visita da pediatra.
“Quando ela veio, expliquei a situação, e ela solicitou um raio-x, confirmando a fratura da clavícula. E mesmo os médicos dizendo que estava tudo bem, um exame constatou que não estava”, conta.
A jovem e o filho receberam alta no dia 5 de maio. Segundo ela, o recém-nascido continuava chorando todas as vezes que ela tocava na região da clavícula. No dia 27 de maio, ela voltou à maternidade e pediu uma consulta com um pediatra. Outro raio-x confirmou que a clavícula continuava lesionada.
“Disseram que isso podia ser permanente, que ele pode ter sequelas. Eu responsabilizo muito o médico, a maternidade e todo mundo por essa falta de cuidado com o meu filho. É um sentimento de querer Justiça mesmo”.
Maternidade de lona
A única no estado com leito neonatal de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS) para atender casos de complicações de mulheres ou recém-nascidos. Atende pacientes que vivem na região, comunidades indígenas (como do Território Yanomami), da rede privada, e até mesmo de outros países, como dos vizinhos Venezuela e Guiana.
O prédio original está em reforma desde 2021 e acumula uma série de atrasos para a entrega das obras. Embora o contrato de aluguel da estrutura de lona seja até agosto, o novo prazo para entrega das obras está previsto para junho deste ano.
O hospital registrou 17 mortes a cada mil nascimentos em 2023 — alta de 70% em relação ao ano anterior, conforme o Ministério Público de Roraima (MPRR). Em números absolutos, a quantidade de mortes de bebês é a pior dos últimos dez anos no estado. A média nacional é de 12,9 mortes para cada mil nascimentos, e no estado chega a 18,7, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).