Aos 48 anos de idade, José James de Oliveira nunca teve carteira assinada. Mas não reclama por isso. Às 4 horas da manhã está de pé. Toma o banho, faz o café e dispara na sua magrela de aço, desde a Rua 15, na Baixada da Sobral em direção ao centro. Desde os 18 anos, Zé James é flanelinha entre a praça do Fórum Barão do Rio Branco e a Catedral Nossa Senhora de Nazaré.
No Dia do Trabalhador, celebrado nesta quarta-feira (1º), ele disse que ia parar, não por vontade própria, mas porque seus clientes não iriam trabalhar para deixar os carros aos seus cuidados. “Gosto muito do que eu faço. Trabalhar faz bem. É como aquela canção do Fagner que diz que ‘sem o seu trabalho, o homem não tem honra’. Eu, graças a Deus, sou honrado”, filosofa, enquanto limpa o aro de um pneu.
A água usada na limpeza, ele retira da fonte atrás do Palácio Rio Branco. “O governador Gladson é legal que só. Ele autorizou a gente a pegar água lá. Em troca, a gente vigia os muros do palácio contra os pichadores”.
Zé James é querido por muitas pessoas que ali deixam seus veículos. A maioria, funcionários da Assembleia Legislativa do Estado do Acre. Cada higienização custa R$ 20. Na sua área, ele lava 15 carros em média por dia, o que dá uns R$ 300 diários.
Por ganhar a confiança dos proprietários dos automóveis, a demanda aumentou. Então, trouxe as irmãs também para trabalhar num setor próximo dali.
“São a Iris Célia e a Iris Léia”, pronuncia os nomes com orgulho. “Só não vejo elas agora. Mas estão pra ali, lavando carros também”. Zé James teve 5 filhos e 10 netos.
Dos 30 anos que trabalha no centro, diz ter presenciado a cena mais triste de sua vida, há dois dias, quando três moradores de rua mataram a pauladas uma capivara próximo à catedral. “Sabe, aqui é um caso sério essas pessoas. Tudim viciado em crack. Eles queriam vender a carne do animalzinho. Vê se pode um negócio desses”.
José James de Oliveira faz parte de um grupo de 39 milhões de trabalhadores informais no Brasil, no 3º trimestre de 2023. O número equivale a 39,1% da população ocupada do país. No Acre, os trabalhadores informais são 44,7%. O estado está na 13ª posição entre os demais. O Maranhão é o que tem o índice mais alto de informalidade (57,3%), seguido do Pará (57,1%), do Amazonas (55%) e Piauí (55%). Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.