A tragédia registrada no Rio Grande do Sul, que iniciou nos últimos dias de abril, já atingiu 93% dos municípios, que são 497 ao todo. Logo nos primeiros dias da inundação no Rio Grande do Sul, as redes sociais no Acre ficaram repletas de comentários que relembravam os períodos de enchente que o estado sofre, praticamente, todos os anos.
Nas redes sociais do Acre, diversos comentários compararam as situações e para entender quais diferenças e semelhanças existem entre os dois eventos climáticos, o ContilNet conversou com o diretor de Administração de Desastres da Defesa Civil de Rio Branco, tenente-coronel Cláudio Falcão, que explicou que a nomenclatura para as duas situações é a mesma: inundação.
“Uma das diferenças entre as inundações do Acre e do Rio Grande do Sul é a geografia do local. No Rio Grande do Sul, temos uma grande bacia chamada Rio Guaíba e esse rio recebe todas as águas dos outros rios e acabam inundando a cidade. Essa é uma das características até semelhante com Rio Branco, bem como outros municípios como Tarauacá. Rio Branco recebe água de vários municípios pelo mesmo rio e por outros que acabam derramando dentro do Rio Acre e isso também acontece no Rio Grande do Sul”, explicou.
Falcão continuou afirmando que a diferença está no fato da água não acumular aqui em Rio Branco como aconteceu no Rio Grande do Sul. “Lá todos os rios despejam dentro de uma bacia e inundam. Aqui a água entra no Rio Acre, inunda, mas não fica parada, ela fica em movimento, e isso faz com que a gente saia da inundação em 10 a 15 dias, diferente do Rio Grande do Sul, eles tem água parada”, disse.
Outra diferença entre os eventos climáticos é o número de mortes. Dados apontam que no Rio Grande do Sul mais de 160 pessoas morreram em decorrência da inundação do Rio Guaíba, já no Acre, o número é baixo – ou inexistente.
“Em 2024, nós tivemos 90% do Acre atingido pela inundação, da mesma maneira que no Rio Grande do Sul, mas a questão populacional é importante. A população gaúcha é muito maior que a acreana. Para termos uma ideia, foram 75 mil pessoas atingidas pela enchente e no Rio Grande do Sul, só pessoas desabrigadas e desalojadas chegou ao número de 150 mil e pessoas afetadas passou de 1 milhão. Outra característica que auxilia no número de mortes é que lá aconteceu de forma súbita e durou muito tempo. Aqui nós conseguimos ter uma preparação, fazemos monitoramento e começamos a agir naqueles bairros para retirar pessoas para que não haja mortes”, explicou.
Além da água súbita e demorada dentro das casas, Falcão ressaltou que diversas pessoas se recusam a sair de casas com medo da ação de criminosos. Em Rio Branco, poucos moradores compartilham da mesma ideia e não querem ir para abrigos, por isso a proporção é menor.
Outro número que no Rio Grande do Sul foi maior do que em Rio Branco durante as inundações é relacionado as casas arrastadas. “Tem outra particularidade, que o nome é correnteza. Aqui nós temos muitos bairros inundados, mas é a água parada que vai entrando ali e fica parada, não fica numa correnteza então isso evita de que casa sejam arrastadas. As casas que caem aqui são justamente que estão muito próximo do rio, que no momento que a água vai embora, ela acaba caindo nos barrancos. No Rio Grande do Sul, a água que entra nos bairros, entra com correnteza que danifica as edificações fazendo com que elas desmoronem”, explicou Falcão.
Plano de contingência
O tenente-coronel também falou sobre a importância do plano de contingência para este tipo de mudança climática. “Aqui nós estamos preparados, temos o plano de contingência. No Rio Grande do Sul eles também tem, mas tudo isso foi superado. Lá tem outra gravidade, que a água não escoa, não sai do Rio Guaíba, ela está sendo represada pelas águas do mar. Aqui em Rio Branco, acontece também das águas do Igarapé São Francisco serem represadas pelo Rio Acre, por isso inundam alguns bairros”, disse.
Falcão finalizou ressaltando que eventos desta natureza vão acontecer com mais frequência e até mesmo com distância menor entre uma inundação e outra. “É preciso que governos façam políticas públicas e as equipes de socorro e de respostas se voltem com muita seriedade para esse tipo de situação”, finalizou.